Cansei de Ser Sexy em 2013? Sim. Longe já vão os tempos áureos onde LoveFoxxx, Ana, Luiza e Carolina andavam na boca do mundo, graças à hype que as tornou numa das bandas brasileiras com maior repercurssão mundial. Se La Liberación de 2011 ainda conquistou alguma atenção, Planta (2013) não foi, de todo, tão bem recebido – o que resultou nalgum cepticismo em relação a este seu concerto, e num TMN ao Vivo pouco cheio para as receber (ou será a culpada a greve do metro?). Mas o quarteto paulista soube mostrar a sua energia de sempre num dos últimos concertos da tour, numa loucura cúmplice com o público lisboeta, com o qual pôde “finalmente falar português”.

Para abrir o apetite, estavam às 21h em palco as Anarchicks: uma das grandes revelações portuguesas deste ano. Numa tão rápida ascensão por palcos e festivais nacionais, já se esperava algo mais das meninas rebeldes da capital do que o mesmo punk rock no feminino que andamos a ouvir desde os autocarros do Vodafone Mexefest... e que já começa a soar forçado. Claro que não faltaram músicas como “Siouxsie In The Box” ou “Restraining Order” – músicas que captaram atenção desde o início – mas se para as Anarchicks a música é uma arma, e elas o gatilho, por favor não disparem contra vocês mesmas.

Mas se as Anarchicks não corresponderam às expectativas, as rainhas da noite sem dúvida que as superaram – e em muito. Simpáticas e sorridentes, as quatro raparigas de São Paulo entraram em palco perto da hora marcada, com um alinhamento de luxo: durante cerca de hora e meia, guiaram-nos pelo potencial de Planta, intercalando com os clássicos que nos tornaram fãs. Num ritmo crescente que a princípio só convenceu as primeiras filas da plateia com as já antigas “Art Bitch” e “Move” dos dois primeiros álbuns, foi “a música do Verão de 2013” que introduziu o novo álbum – e inclusive reflectiu um público actualizado, que recebeu muito bem “Hangover” com uma onda de dança a chegar mais ao fundo da sala. Ainda assim, foi “Hits Me Like a Rock”, a primeira alusão a La Liberación, que finalmente quebrou o gelo e arrancou a pedido de LoveFoxxx um coro bem animado do público.

Mas se há expressão que resume CSS, além de serem autênticos bichos de palco, é “Let’s Make Love and Listen to Death from Above”: e aos primeiros acordes rebenta a histeria com uma música cujo poder será eterno. Por esta altura da noite, as baixas expectativas para o restante concerto já se elevavam bastante – especialmente quando prometem “Alala”. Mas as que se seguem são mais recentes, e mesmo com uma “Girlfriend” pouco apaixonada, “City Grrrl” e uma “Honey” dedicada às Anarchicks recuperam o ritmo com as suas melodias empolgantes e a energia contagiante que nos chega da banda – mas “Red Alert” merece destaque pela batida cool que deixa no ouvido, desejando que a música não acabe.

Cerca de uma hora de concerto e ainda tanto para dar, era hora de outro clássico reanimar a plateia. Muita dança, muito grito em extase e ainda uma coreografia improvisada marcaram “Music is my Hot Hot Sex”, hino que se mantém nos nossos ouvidos desde 2005. Entre toda a histeria, ficou alguma nostalgia no ar, com a lembrança desses tempos longínquos dos quais Cansei de Ser Sexy eram banda sonora obrigatória: e todos soubemos em coro que ele é f*dão, mas soubemos que nós também. E foi com uma “Dynamite” menos potente mas ainda inspirada pela faixa anterior que as quatro brasileiras deram o primeiro adeus.

Os aplausos da praxe para a banda regressar, e LoveFoxxx surge para o Encore com uma capa suis generis, contando-nos que neste final de tour “a roupa já ‘tá fedendo muito”. A escolhida para a última parte é de Planta, “Frankie Goes to North Hollywood”, que mesmo com uma batida mais contida, o público não cessa de bater o pé, totalmente rendido a este talento no feminino oriundo de São Paulo. De notar também é a cumplicidade de LoveFoxxx e Ana – que já nos traria uma surpresa no final. Por agora, a vocalista abria a sua capa, qual morcego em pose, e atirava-a para nos levar ao auge do concerto com “Alala”: a mais esperada e já prometida música da noite. E se não o tínhamos feito antes, foi aqui que todos “fedemos” com as paulistas mais sexys – e com direito ao mergulho e crowdsurf da cabeleira preta pelo público extasiado.

O fim aproximava-se, e foi o single produzido o ano passado por Dave Sitek que deu o mote para acabar esta festa em grande: LoveFoxxx tira a camisola e prova que na verdade nunca se vão cansar de ser sexys, e que a energia destas raparigas é inesgotável. Agora com Ana também no microfone, juntas divertem-se dando vida ao rap roqueiro de “I’ve Seen You Drunk, Girl”, mas embora esta seja normalmente a música que encerra os espectáculos, o público lisboeta é especial, e merece uma 18ª para chegar à maioridade: e é um regresso às origens, ao álbum homónimo e a “Superafim”, que se encerra a festa no estilo bem próprio de CSS e da melhor maneira, de regresso à língua que unia palco e plateia.

Foi com 18 músicas, 4 álbuns e 1 hora e meia de festa que o rock de CSS calou vozes mais cépticas, apostando num alinhamento inteligente que apostou tanto nos clássicos de sucesso garantido (e comprovado) desde o início, mas também num ritmo crescente que agarrou e conquistou o público, levando-o ao total êxtase, fosse fã ou curioso da banda, fosse defensor do prestígio dos primeiros álbuns, ou simpatizante dos novos trabalhos: todos saímos rendidos pela música, pela energia, pela simpatia... e pelos pés cansados. Porque em cima do palco, Cansei de Ser Sexy sabem sempre o que fazem!

Fotografia: Rita Sousa Vieira

Setlist:
- Art Bitch
- Move
- Hangover
- Hits Me Like a Rock
- Teenage Tiger Cat
- Let’s Make Love and Listen to Death from Above
- Girlfriend
- City Grrrl
- Honey
- Red Alert
- Into the Sun
- I Love You
- Music is My Hot Hot Sex
- Dynamite

Encore:
- Frankie Goes to North Hollywood
- Alala
- I’ve Seen You Drunk Girl
- Superafim