Para trás ficaram Bernardine Evaristo, Colson Whitehead, Ocean Vuong, Fernanda Melchor e Colum McCann, os restantes finalistas do galardão, que inicialmente chegou a ter como candidato o escritor português António Lobo Antunes.

O romance de Valeria Luiselli acompanha um casal de artistas que parte com os seus dois filhos numa viagem por estrada, de Nova Iorque para o Arizona, no calor do Verão, mas, à medida que a família viaja para oeste, os laços começam a esbater-se, e uma fratura cresce entre os pais.

Através de canções, mapas e uma câmara fotográfica Polaroid, as crianças tentam dar sentido tanto à crise da sua família, como a uma crise maior que ressalta nas notícias: as histórias de milhares de crianças que tentam atravessar a fronteira sudoeste para os Estados Unidos, mas que ficam detidas, ou perdidas no deserto, ao longo do caminho.

Esta é a primeira vez que o prémio é atribuido a um escritor mexicano, fazendo também de Valeria Luiselli a quinta mulher a receber o galardão em 26 anos de existência.

Valeria Luiselli manifestou-se "incrivelmente feliz" por receber o prémio e contou que tomou conhecimento da sua premiação por 'email', tendo inicialmente julgado que se tratava de uma "partida".

No discurso de aceitação, feito a partir de sua casa, em Nova Iorque, a autora descreveu o seu livro como um "romance sobre o processo de fazer histórias, de juntar vozes e ideias numa tentativa de compreender melhor o mundo que nos rodeia. É um romance sobre ficção".

Valeria Luiselli falou também da importância da literatura, agora mais do que nunca, lembrando que "sem livros e sem partilhar na companhia de outros escritores as experiências humanas", não teria sido possível passar estes meses.

"Se os nossos espíritos encontraram renovação, se encontrámos força para continuar, se mantivemos o entusiasmo pela vida, é graças ao mundo que os livros nos deram. Em todo o tempo, encontrámos consolo nos companheiros que vivem nas nossas estantes", acrescentou.

A candidatura de "Deserto Sonoro" ao prémio literário de Dublin foi submetida no início deste ano pela Biblioteca Vila De Gràcia, que Valeria Luiselli descreveu como uma "bela e relativamente pequena biblioteca em Barcelona", cujas pedras prometeu um dia beijar, já que provavelmente não poderá "beijar os bibliotecários devido à COVID-19".

O escritor irlandês Colm Tóibín, que venceu este prémio em 2006, afirmou que Luiselli "conta uma velha história, aquela que Cervantes contou... e Cormac McCarthy, a história do que acontece ao espírito humano na estrada, como uma longa viagem põe em perigo o que estava estável e acordado".

Valeria Luiselli nasceu na Cidade do México, em 1983, e cresceu na Coreia do Sul, África do Sul e Índia, tendo publicado o seu primeiro livro, uma coletânea de ensaios intitulada "Papeles Falsos", em 2010. Escreve regularmente para revistas e jornais, como as Letras Libres e o New York Times.

A autora também escreveu libretos para ballet, para a Companhia de Bailado de Nova Iorque e presentemente está a fazer o doutoramento em Literatura Comparada na Universidade de Columbia.

Ao longo da sua carreira de escritora - de ficção e não-ficção - Valeria Luiselli já recebu duas vezes o Los Angeles Times Book Prize e uma vez o American Book Award. Foi também nomeada para o Prémio do Círculo Nacional de Críticos de Livros e para o Prémio Kirkus.

"Lost children archive" ("Deserto Sonoro") é o seu primeiro romance escrito em inglês, pelo que a autora receberá o prémio na totalidade, no valor de 100 mil euros.

Os restantes nomeados na lista final de candidatos ao prémio foram “Rapariga, Mulher, Outra”, de Bernardine Evaristo, que já venceu o Prémio Literário Booker, “Os Rapazes de Nickel”, de Colson Whitehead, vencedor do Pulitzer de ficção, “Na terra somos brevemente magníficos”, de Ocean Vuong, “Apeirogon”, de Colum McCann, e “Hurricane Season”, de Fernanda Melchor.

Entre os primeiros nomeados para o prémio, mas que ficaram também para trás, contavam-se “Pátria”, de Fernando Aramburo (Prémio Nacional de Narrativa de Espanha), “10 Minutos e 38 Segundos Neste Mundo Estranho”, de Elif Shafak, “A Coragem de Cilka”, de Heather Morris, “Clap when you land”, de Elizabeth Acevedo, “Cai a Noite em Caracas”, de Carina Sainz Borgo, “The Vanishing Half”, de Brit Bennett, e “Tyll. O Rei, O Cozinheiro e O Bobo”, de Daniel Kehlmann.

O Prémio Literário de Dublin é organizado pela autarquia da capital da Irlanda e gerido pelas bibliotecas públicas da cidade, com um valor monetário de 100 mil euros, a serem entregues na totalidade ao autor da obra vencedora, se esta for escrita em inglês, ou, no caso de tradução, a dividir entre escritor e tradutor, nos valores de 75 mil euros e de 25 mil euros, respetivamente.

A escritora irlandesa Anna Burns foi a vencedora da edição de 2020, com o romance "Milkman" (que já antes vencera o Prémio Booker).

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