
Paul Schrader está a ser acusado por uma antiga assistente: a mulher não identificada de 26 anos acusa-o de agarrá-la e beijá-la enquanto estavam no Festival de Cinema de Cannes em maio do ano passado.
Com 78 anos, o cineasta norte-americano é um dos mais importantes da sua geração, ligado a vários clássicos dos anos 1970 e 1980: enquanto realizador é o autor de títulos como "American Gigolo", "A Felina", "Mishima", "No Coração da Escuridão" e "The Card Counter - O Jogador", e é o argumentista de "Taxi Driver, "O Touro Enraivecido", "A Última Tentação de Cristo", "Encontros Imediatos do Terceiro Grau", "Obsessão" e "Yakuza".
Um processo judicial apresentado em Nova Iorque na semana passada diz que após ter escapado das garras do cineasta, a mulher – que recebeu o pseudónimo de Jane Doe – foi convocada ao quarto de hotel dele três dias depois, onde Schrader se expôs.
“Desde o ataque brutal do acusado Schrader à senhora Doe, a exposição dos seus órgãos genitais e os seus inúmeros outros atos de assédio sexual, ela sofreu, entre outros, pesadelos, ansiedade extrema e trauma, e retirou-se quase completamente da sua vida anterior”, diz o processo.
O processo judicial afirma que Schrader demitiu a sua assistente em setembro.
"Dois dias depois, reconhecendo plenamente o seu comportamento ilegal e predatório, ele escreveu-lhe um e-mail... 'Se me tornei um Harvey Weinstein na sua mente, então é claro que não tem escolha a não ser colocar-me no espelho retrovisor'", diz o processo.
Weinstein, de 73 anos, foi o poderoso produtor de Hollywood cujas décadas como predador sexual desencadearam o movimento #MeToo, levando a condenações que estão sob recurso.
O antigo cofundador do estúdio Miramax cumpre uma pena de 16 anos de prisão em relação a crimes na Califórnia, após as condenações por violação em Nova Iorque terem sido anuladas em 2024.
O processo de Jane Doe diz que Schrader inicialmente concordou com um acordo financeiro não revelado sobre as acusações, mas depois desistiu.
O processo busca fazer cumprir os termos do acordo e exige o reembolso de custos e honorários dos advogados.
O advogado de Schrader, Philip Kessler, disse à agência France-Presse (AFP) na segunda-feira que contestaria o processo.
O seu cliente, nota, não assinou o acordo, o que significava que era nulo e sem efeito.
“Ele refletiu sobre pagar tanto dinheiro quanto o acordo exigia que pagasse, caso o tivesse assinado, e chegou à conclusão de que não era do seu interesse fazer isso”, disse Kessler.
O advogado notou que as alegações de assédio subjacentes “são seriamente imprecisas, muito enganadoras e basicamente falsas”.
“Ele beijou-a duas vezes em quase três anos e meio e… foi só na altura do segundo beijo que ela demonstrou desagrado, e nunca mais tentou beijá-la”, acrescentou Kessler.
“Ele também dirá que nunca tentou fazer sexo com ela e também dirá que nunca se expôs.”
Schrader estava em Cannes para promover o seu filme “Oh, Canada”, protagonizado por Richard Gere, Uma Thurman e Jacob Elordi.
A AFP entrou em contacto com os organizadores de Cannes para pedir uma reação.
Na segunda-feira, Paul Schrader defendeu-se numa mensagem a a amigos e familiares, negando que tenha existido sexo ou se exibido.
“Não tenho nada a esconder sobre a minha conduta – e isso inclui a minha decisão de não ceder à pressão da ameaça de minha ex-assistente de tornar públicas as suas alegações sensacionalistas, uma ameaça que ela e os seus advogados já executaram”, escreveu o cineasta na carta obtida pela publicação especializada TheWrap.
E explica: "Entendi que a mera afirmação de tais acusações seria prejudicial e ofensiva. Como resultado, quase me comprometi a chegar a acordo, pagando uma pequena fração do valor que havia sido inicialmente exigido para evitar a dor e danos que causaria a publicidade à volta de um processo com este tipo de acusações falsas e enganadoras, para não falar do custo do litígio. Após reflexão, mudei de ideias, o que acredito ter o direito legal de fazer, e recusei-me a assinar o acordo escrito que os advogados tinham preparado. Recusei-me a ceder à coerção criada pelo que considero reivindicações injustificadas e oportunistas e resolvi defender-me."
O cineasta descreve os dois momentos em que se beijaram, em noites regadas com álcool: em dezembro de 2023 em Nova Iorque, quando “ela não me indicou que tinha ficado incomodada com o beijo” e a segunda no Festival de Cinema de Cannes em maio de 2024.
"Mais uma vez, depois de bebermos juntos, beijei-a. Desta vez ela demonstrou desagrado. Nunca mais tentei beijá-la e também pedi desculpas", escreveu.
"Mesmo depois de Cannes, a Requerente expressou enfaticamente o seu desejo de continuar a trabalhar, jantar e viajar comigo. Também expressou o seu desejo de trabalhar comigo no meu próximo filme, cuja produção estava programada para o outono passado. Finalmente, ela participou numa entrevista e voluntariamente fez partilhas pessoais nas redes sociais nas quais escolheu elogiar-me.", descreveu.
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