A escolha foi feita por um júri constituído por oito estudantes de oito universidades portuguesas, presidido pela escritora francesa Camille Laurens, numa deliberação que demorou "duas horas" e decorreu na tarde de quinta-feira na Embaixada de França, em Lisboa.

"Veiller sur elle", no título original, é descrito como um longo fresco sobre escultura e Itália, e propõe uma viagem àquele país, no início do século XX, através de duas personagens cujos destinos se cruzam para sempre: Mimo, um escultor pobre e talentoso, e Viola, a ambiciosa filha de um marquês rico.

A história de Mimo, Michelangelo Vitaliani, é contada a partir do final da sua vida, no outono de 1986, no mosteiro de Piemonte, onde é cuidado pelos monges que aí habitam.

Durante 40 anos, Mimo viveu entre eles, para "velar por ela", a sua última obra como escultor, "uma estátua que perturba quem a vê, mas cuja história e origem permanecem em segredo", como descreve a apresentação do romance a publicar este mês em Portugal, pela Porto Editora.

No leito de morte, Mimo revisita o passado, desde os tempos de aprendiz de um escultor alcoólico e violento, no planalto de Pietra d’Alba, reduto da família Orsini. Viola domina então o pensamento deste escultor "de mãos de génio e mente livre".

Os estudantes que escolheram "Velar por ela" "destacaram a qualidade da escrita deste romance forte e ético", segundo o comunicado divulgado pelo Institut Français. "Escrito como um poema é um apelo à liberdade, à democracia e à emancipação feminina".

Para o júri do prémio, este romance, "que parece um filme e se lê como um filme", convida a questionar a vida, "a temporalidade e o poder da literatura para interromper o curso do mundo", ao mesmo tempo que faz "uma reflexão profunda sobre a arte, uma homenagem à vida e à resistência perante as ameaças do autoritarismo."

Os oito estudantes do júri são das universidades de Lisboa, Nova de Lisboa, do Porto, de Coimbra, do Minho, do Algarve, de Aveiro e da Madeira.

"Velar por ela" concorria ao Choix Goncourt du Portugal 2024 com os outros finalistas do Goncourt 2023, atribuído pela Academia Goncourt, em França: "Humus", de Gaspard Koenig, "Sarah, Susanne et l’écrivain", de Éric Reinhardt, e "Triste Tigre", de Neige Sinno.

Nascido em 1971, Jean-Baptiste Andrea é um romancista, realizador e argumentista francês. Cresceu em Cannes, onde começou a fazer curtas-metragens e, mais tarde, mudou-se para Paris, onde se licenciou em Ciências Políticas e Economia.

O seu primeiro romance, "Ma Reine", publicado em 2017, foi distinguido com o prémio de Melhor Romance de Estreia em França.

Segundo o Institut Français du Portugal, Jean-Baptiste Andrea visitará a Feira do Livro de Lisboa, a decorrer de 29 de maio a 12 de junho.

No primeiro dia da feira, irá à Mediateca do instituto, às 19h00, para apresentar "Velar por Ela".

O Choix Goncourt du Portugal é uma iniciativa do Institut Français du Portugal, da Embaixada de França em Lisboa, da Agence Universitaire de la Francophonie e da Association Portugaise d’Études Françaises.

O prémio, escolhido por estudantes universitários portugueses, foi atribuído pela primeira vez no ano passado, num júri presidido pelos escritores Tahar Ben Jelloun e Leïla Slimani, tendo distinguido "O Mago do Kremlin", de Giuliano da Empoli, publicado em Portugal pela Gradiva.