"Ponto de Luz" é o novo projeto de Catarina Furtado. No podcast, que se estreia esta quinta-feira, dia 7 de novembro, a apresentadora, Presidente e fundadora da ONGD Corações Com Coroa e Embaixadora da Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a População, dá voz aos adolescentes, através de conversas com professores, sobre o estado da Educação em Portugal, mas, sobretudo, sobre temas associados aos Direitos Humanos.

A primeira temporada vai contar com seis episódios, focados em vários temas. O podcast, que tem o apoio da Missão Continente, pode ser ouvido no Spotify e também se encontra disponível, em vídeo, no Youtube.

Em entrevista exclusiva ao SAPO Mag, a apresentadora sublinha que escolheu o formato de podcast para tentar " chegar a outros públicos", em especial aos jovens. "Quero que os jovens ouçam, quero que eles sintam essa representatividade. E talvez com um podcast seja mais fácil", destaca.

Cada episódio apresenta uma conversa entre um aluno e um professor que não se conhecem, oriundos de diferentes zonas do país que, com liberdade e autenticidade, espelham a realidade das escolas e o seu papel na formação de cidadãos com conhecimento dos seus direitos e dos seus deveres, preparados para os desafios de um mundo em transformação.

CATARINA FURTADO
CATARINA FURTADO

“Ando há muitos anos muito perto desta fase do ser humano que é a adolescência, porque comecei a trabalhar esta temática com o Fundo das Nações Unidas para a População, que apesar de se focar nas temáticas da saúde sexual e reprodutiva, a saúde materna, tem também o potencial dos jovens e, portanto, em muitos países do mundo, ouvi muitos jovens, como depois aqui em Portugal - há já muitos anos que vou a escolas falar sobre estas temáticas relacionadas com os direitos humanos e com a cidadania. E, portanto, vou, faço as minhas palestras, conto as minhas experiências, ouço muito os jovens, fazemos dinâmicas, falámos sobre todos os temas que estão relacionados com os temas que eu escolhi para o podcast”, começa por lembrar Catarina Furado.

Em conversa com o SAPO Mag, a apresentadora explica que depois de muitos anos a conversar com jovens e uma pesquisa, percebeu que os adolescentes não têm um espaço onde a sua voz seja ouvida."Eles têm voz, como é lógico, mas não têm microfone. E depois fiz essa pesquisa - não têm na imprensa em geral, não há programas em televisão, não há programas na rádio, não há locais onde nós possamos ouvir esta faixa etária concreta, que é dos 13 aos 17", alerta.

"Eles próprios são os apontadores de dedo à razão pela qual não são ouvidos… porque os adultos acham que eles estão naquela fase o armário, com as hormonas aos saltos e, portanto, não vale a pena ouvi-los muito. E eles sentem-se desvalorizados. Para além disso, ficam apontados como uma geração que só liga aos telemóveis e que está dispersa, mais umbiguista. E é mentira, na verdade, eles têm que ser parte integrante da construção do país e do mundo que nós vamos ter, ou que estamos a ter - eles são o presente, eles não são o futuro. Como não podem lutar, como não podem conduzir ainda… É sempre como estivessem sempre a ser empurrados para o futuro”" acrescenta Catarina Furado.

Para o podcast, a apresentadora convida os jovens e professores de todo o país a refletirem sobre vários temas: "Eles precisam de refletir todas estas temáticas, porque são eles os decisores no futuro. E foi isso que me propus: ouvir e dar-lhes uma plataforma que ainda não existe, onde eles podem dizer o que quiserem sobre estas temáticas".

"Os jovens querem falar, querem ser ouvidos"

CATARINA FURTADO
CATARINA FURTADO

Temas como a cidadania, igualdade de género, violências, discriminação, racismo, saúde mental, populismos, desinformação, educação sexual, consentimento, orientação sexual, idadismo, incapacidades, inclusão, sustentabilidade, redes sociais e liberdade de expressão são abordados ao longo dos episódios da primeira temporada de "Ponto de Luz".

“São 12 temas no total, para já uma primeira temporada de seis. E eles querem falar, eles querem ser ouvidos, eles querem dar conta de que estas matérias são mesmo necessárias. E querem dizer que essas polémicas todas à volta de temas como a cidadania, que é tudo… palerma”, frisa a apresentadora.

Mas não só os jovens os protagonistas dos episódios. "Eles são os maiores protagonistas, diria, mas não são só eles. São também os professores especiais, porque os professores salvam vidas. É também uma homenagem que faço à minha própria mãe, que foi professora durante uma vida inteira e que salvou muitas vidas porque deu aulas a jovens cuja taxa de abandono escolar era muito elevada. A minha mãe conseguiu resgatá-los e acabaram com o aproveitamento escolar e isso é muito bonito", conta.

"Aquilo que faço é também ouvir quem faz parte do resto da escola, que são os professores - os interessados serão os alunos, mas também os professores. E converso com professor especiais de todo o país e que nos ajudam a entender que, de facto, é possível a transversalidade destes temas em cada uma das matérias académicas, dos currículos - há maneira de fazer para que se consiga construir ou formar, neste caso, cidadãos mais bem preparados, não só do ponto de vista académico, mas do ponto de vista humano. Portanto, o que interessa grande aluno, se depois não tem as ferramentas para partilhar, não tem empatia, não tem a sua saúde mental revigorada, não olha para o outro com interesse, quando é violento… mas tem grande aproveitamento escolar, o que é que isso interessa?", sublinha Catarina Furtado.

"O que gostavas que te tivessem dito na escola?"

Todos os episódios contam ainda com o testemunho de uma personalidade portuguesa. Daniela Ruah, Carlão, Marisa Liz, Tânia Graça, Dino d’Santiago e Paulo Azevedo respondem à pergunta “O que gostavas que te tivessem dito na escola?”, sobre cada tema.

“Cada episódio tem tema e no final de cada episódio, eu pergunto a uma figura pública o seguinte: ‘O que é que tu gostavas que te tivessem dito sobre o tema?’. Então, dão o seu testemunho. E é revelador, atenção, porque há figuras públicas que também partilharam coisas pessoais, que gostavam de ter ouvido e que na altura não se falava e que agora, se calhar, essa é conclusão, também se devia falar mais”, adianta.

A inspiração para o nome do podcast

CATARINA FURTADO
CATARINA FURTADO

O título do podcast, "Ponto de Luz", é inspirado no tema musical de Sara Tavares. Ao SAPO Mag, Catarina Furtado explica que escolheu o nome “por duas razões essenciais”: "A primeira é porque a Sara tinha partido há muito pouco tempo, tenho uma profunda admiração e uma enorme saudade da Sara. Conheci a Sara exatamente quando ela tinha 16 anos, portanto, era adolescente, e ao longo da vida fomos conversando sobre alguns desses temas, nomeadamente as questões da igualdade de género, do racismo, da interseccionalidade, sobretudo, esses três. E depois porque a minha forma de comunicar estas questões é apontado sempre o dedo para aquilo que considero - e que as estatísticas dizem - que não está bem. Apontar sempre o dedo, mas deixar sempre respostas, deixar pistas, soluções ou apresentar pessoas que estão a fazer a diferença, que estão a tentar contrariar as estatísticas. Sempre foi esse rasgo de esperança que tento deixar através daquilo que os outros andam a fazer. E nesse sentido, o título tem isso já, expressa exatamente aquele pontinho de luz, que é o pontinho de luz da esperança que nos diz: ‘ok, isso está mal, mas nós vamos fazer parte da solução, vamos contribuir’".

"É minha missão e espero que este podcast também sirva como ferramenta de trabalho para o ministério [da Educação] ou para os ministérios. Tenha essa pouca humildade de achar que, se eles quiserem, têm aqui trabalho informal que pode ser altamente precioso ouvindo professores e alunos, para mudar. E é uma opção, é uma escolha querer mudar. E mudar aquilo que não está bem também na educação ou no formato, no modelo de educação", acrescenta.