O “Música & Revolução” vai de sexta-feira a terça, dia 30 de abril, e apresenta concertos da Sinfónica, do Coro e do Remix Ensemble, agrupamentos residentes da Casa da Música, em torno da obra de Ligeti (1923-2006).

O ciclo arranca com o “Poema Sinfónico para 100 metrónomos”, uma centena de dispositivos mecânicos a tocarem em simultâneo, mas a ritmos diferentes, no espaço Cibermúsica, pelas 15:00, 16:00 e 17:00 de sábado, explorando uma “obra de arte conceptual” de Ligeti.

O diretor artístico da instituição, António Jorge Pacheco, descreveu o momento como um 'happening' (‘acontecimento’), que cria “uma complexa polirritmia que vai do ritmo a que estão a bater até à estagnação, quando ‘perdem a corda’, e se apagam também a velocidades diferentes”.

O momento “serve de aperitivo para os concertos que se seguem”, e é descrito como “uma experiência única” para a qual vários técnicos do Serviço Educativo vão trabalhar para acionar os metrónomos “numa ordem precisa e com a corda certa”.

O momento reveste-se de alguma informalidade, mas é exigida “muita concentração para se ter uma experiência sonora e visual completa, para que a pessoa se deixe impregnar e se atinja um efeito quase hipnótico”.

Antes, na Sala Suggia, será apresentado um documentário em que “se pode ouvir o próprio Ligeti a falar de viva voz”, para conhecer “um dos compositores mais marcantes do século XX”, não só “pela radicalidade da sua linguagem, mas sobretudo pela sua independência”.

No segundo ano em que o ciclo se foca apenas num compositor, depois do austríaco Anton Webern, em 2018, a atenção está para um autor que saiu da Hungria sob domínio comunista, fugindo também das ‘amarras’ do “realismo socialista como corrente estética”.

Trabalhou com Karlheinz Stockhausen e tomou contacto com as vanguardas do mundo do Ocidente, mas “seguiu sempre um caminho próprio” e viria a dizer, mais tarde, que sempre compôs “numa prisão: uma parede é a ‘avant-garde’, a outra é o passado”.

Pelas 18:00, o Remix Ensemble explora o concerto de câmara e o concerto para violoncelo, seguindo-se a Sinfónica, na segunda parte, explorando “Lontano”, “Apparitions” e excertos da “anti-ópera” “Le Grand Macabre”, com a soprano sueca Susanna Andersson.

Conhecido do público em geral pelo uso de vários temas no cinema, como em “2001: Odisseia no Espaço”, de Stanley Kubrick, ou em várias obras de Martin Scorsese, estes “concertos duplos” combinam obras menos conhecidas com ‘clássicos’.

Assim, no domingo, pelas 18:00, a atuação começa pela Sinfónica, num programa que inclui o “Concert Romanêsc”, “talvez a sua obra mais ligada às raízes da música popular húngara”, segundo o diretor artístico da Casa da Música.

Na segunda parte, o Remix Ensemble junta-se ao “intérprete mundial por excelência de Ligeti”, o pianista francês Pierre-Laurent Aimard.

“É um dos grandes pianistas da atualidade e tem uma ligação muito estreita com o compositor, uma vez que Ligeti lhe dedicou várias obras. Aimard vai tocar depois a solo, no dia 30, várias dessas obras que lhe foram dedicadas”, revela António Jorge Pacheco.

No seu todo, esta edição do “Música & Revolução” apresenta “um concentrado talvez inédito de obras do Ligeti, que permitem ao público tomar um conhecimento aprofundado sobre este enorme compositor que marcou o curso da música ocidental”, com um total de 14 obras do húngaro.

Nascido em 1923, Ligeti nasceu na Transilvânia e morou na Hungria sob o domínio comunista até se mudar para a Áustria, em 1956, vindo a morrer em 2006 em Viena, depois de uma vida em que procurou distanciar-se das correntes estéticas dominantes.

A abordagem polirítmica, o experimentalismo e a linguagem arrojada trouxeram-lhe o reconhecimento do mundo musical, espelhada em numerosos prémios, e acabou por se tornar numa das figuras que mais avançaram a música contemporânea no século XX.

A ligação ao cinema notou-se sobretudo no trabalho de Kubrick, mas também com Scorsese ou Michael Mann, e continua até aos dias de hoje, como em “The Killing of a Sacred Deer”, do grego Yorgos Lanthimos.