SAPO On The Hop - O que é que vos levou a fazer um tributo - que depois de 2 de dezembro no Multiusos de Guimarães passa pelo Campo Pequeno, em Lisboa, a 4 de fevereiro -, se é que podemos dizer isso, aos vinte anos de "Irreligious"?
Fernando Ribeiro - Sim é um tributo, sem medos. O que fizemos foi dar um passo atrás e esperar o “convite” que apareceu da nossa ex-editora Century Media, que pretendia reeditar o disco com a nossa colaboração e aprovação total, o que foi um gesto bonito. Daí editámos também a nossa edição, os fãs corresponderam, e os promotores também, daí ter sido um sequência lógica.
Foi fácil revisitar todos os temas? Também irão tocar "Wolfheart" na íntegra. O que sentem ao relembrar todos estes temas?
Não foi difícil. Se bem que havia temas que não pegávamos há anos e foi um processo interessante essa redescoberta mas, na verdade, a maior parte desses temas foram ou são parte integrante e essencial do nosso concerto. Nunca fizemos birra em não tocar este ou aquele tema e temos uma relação ótima e pacifica com o nosso passado.
Que recordações têm dessa altura?
Muitas e importantes, mas em especial aquele feeling de que nos tornamos homens na estrada, a escrever e a tocar, a viver alguma coisa que não sabíamos ser um sonho ou não, estávamos demasiado ocupados a viver as coisas. Destaco ainda a tour que fizemos com os Type O Negative, a nossa banda favorita na altura.
Que influência é que "Irreligious" teve nos álbuns seguintes? E nos dias de hoje?
Muita. Todo o nosso repertório influencia o seguinte, ou em seguimento, ou em ruptura. O "Irreligious" ensinou-nos a escrever canções e a ter uma identidade de banda, em vez de seis identidades como o "Under" ou o "Wolfheart". Para a banda isso foi decisivo.
E qual é a maior diferença que sentem entre "Irreligious" e "Extinct"?
A diferença de 20 anos, de aprimoramento técnico, de experiência, de vivência, os próprios tempos são incomparáveis. Mas a vontade de fazer diferente, da originalidade, de escrever canções, de ser criativos... essa mantém-se.
"Opium", que é dos vossos temas mais aclamados, tem 20 anos de existência. Ainda é acarinhado como no início?
Então não é? O "Opium" salva qualquer fã ou qualquer concerto ou qualquer situação. Não exageremos, não é um tema maior que a banda, mas sim, teve uma aceitação bastante grande até fora do metal.
Qual foi o impacto que "Irreligious" teve no panorama musical na altura?
Se formos nós as pessoas justas para fazer essa avaliação diríamos que o "Irreligious" nos permitiu escrever o capitulo português na história do metal europeu dos anos 90 e que mesmo em Portugal nos permitiu também ser considerados como a força ativa do metal nesses tempos em que apareceram, quanto a nós, as melhores bandas portuguesas de sempre.
Sentem alguma diferença nos fãs da altura e nos fãs de agora?
É claro que sim. Não é segredo que as pessoas têm outra relação com a música nestes dias. Há mais opinião que emoção de um modo geral, mas também se encontram fãs de uma dedicação incrível nestes dias, que continuam a manter a chama viva num mundo de Kanye Wests e num país dominado pela música popular, por artistas locais que têm uma exposição e uma sobrevalorização que roça o ridículo aos ouvidos de quem gosta de música a sério, que seja mais do que pretensiosa.
Estes 20 anos também podem servir para fazer uma retrospetiva. O que é que de bom e de mau retiram destas fases todas?
Que para a frente é o caminho. Que a árvore tem que crescer para além das meras raízes e primeiro fruto. Que tudo é bom ou mau, dependendo da perspetiva. Nós achamos que tudo foi bom mesmo os momentos maus tiveram a sua utilidade.
"Irreligious" é um álbum que marca a vossa rampa de lançamento para o sucesso. Se não seguisses a carreira da música, terias seguido o quê?
Pessoalmente, professor de Filosofia. E acredito que todos nós em Moonspell temos vidas ativas e importantes mesmo fora do mundo da música. Somos e sempre quisermos ser mais que músicos e ao longo dos tempos tornámo-nos no nosso próprio management, por exemplo.
"Irreligious" foi reeditado em vinil e o single "Opium" foi editado pela primeira vez nesse formato, através da Alma Mater Records, editora da banda.
Comentários