“Uma companheira diferente mostra um doutor diferente”, afirmou. “Quando pomos alguém novo no TARDIS com ele, vemos outros lados do personagem”.

Desta vez, o 15º doutor – o primeiro negro a interpretar o icónico papel – é acompanhado por Belinda Chandra (encarnada pela atriz Varada Sethu), uma enfermeira que é muito mais experiente que a companheira anterior, a jovem de 18 anos Ruby Sunday.

“Belinda é a enfermeira deste doutor e sente-se em igualdade. Ela desafia-o, testa-o. Já trabalhou nas urgências e viu coisas terríveis. É mais dura”, descreveu Russell T Davies. “A diferença crucial entre ela e as outras companheiras é que quer voltar para casa”.

Belinda percebe, desde o primeiro momento, que pôr o pé fora da máquina do tempo TARDIS é arriscar ter alguém a atirar raios laser contra eles. “Ela vê alguém morrer à sua frente e percebe que este homem pode ser muito carismático e divertido, ter o melhor sorriso do universo, mas as pessoas à sua volta morrem”, explicou Davies. “Quer voltar para casa e ir para longe dos monstros, e isso mostra o doutor a uma luz diferente”.

O primeiro episódio, “Revolução dos Robôs”, traz para a ribalta um tema que tem estado na ordem do dia: a Inteligência Artificial, a automação, a dependência das máquinas e a possibilidade de um dia sermos substituídos ou dominados por elas.

Não é um tema novo, mas nunca foi tão proeminente mesmo na indústria do entretenimento, e isso inspirou Russell T Davies. “Como membro do sindicato dos argumentistas da Grã-Bretanha, todos os dias recebemos emails a falar de como lidar com a IA e cartas para enviar ao governo de forma a suster a perda de copyright”, explicou o criador.

“Afeta toda a gente”, continuou, referindo que também os atores estão assustados. “Em movimentos modernos tendemos a ver as coisas pela lente do entretenimento, mas a verdadeira preocupação está nas fábricas, nos lares e nas escolas”.

Davies acredita que é importante que a audiência sinta que este Doctor Who está a acontecer em 2025. “Fico sempre espantado quando vejo séries de detetives que não referenciam o mundo, de todo”.

Com uma história em que os protagonistas não têm barreiras de tempo ou espaço, o desafio é continuar a ter imaginação para manter a série fresca. Esta é a segunda temporada da nova era, mas a 15ª a partir de 2005, quando Davies criou a nova vida do programa original dos anos sessenta.

“Significa que podemos inventar coisas muito loucas e é por isso que penso que o Doctor Who tem uma tela mais alargada que qualquer outra série de ficção científica”, considerou.

Neste regresso, haverá várias participações especiais, tais como a do ator Jonah Hauer-King, que foi o Príncipe Eric no filme de 2023 “A Pequena Sereia”; e da atriz surda Rose Ayling-Ellis, uma grande estrela no Reino Unido que tem sido capaz de mudar a visão e o discurso sobre surdez no país.

Entre os episódios, haverá um concurso do tipo Eurovisão da Canção mas interestelar, uma viagem no tempo até à Miami de 1952, uma ida a Lagos em 2019 e um planeta aterrorizador 500 mil anos no futuro.

“Doctor Who” regressa com oito episódios que se estreiam ao ritmo de um por semana.