Embora o flamenco ainda a maior inspiração de Rosalía, a cantora espanhola está longe de se limitar a esse género.

Rosalía Vila Tobella não tem raízes ciganas e descobriu o género durante a infância na Catalunha, a sua cidade natal, graças aos amigos de origem andaluza.

A paixão é instantânea. Em 2017, o seu primeiro álbum, "Los Ángeles", no qual a voz é acompanhada apenas de uma guitarra, integra-se no género musical tradicional. Mas apesar das críticas entusiastas, o álbum não alcançou reconhecimento internacional.

Numa dualidade essencial na sua discografia, Rosalía nunca virou as costas a outros estilos e continua inspirada pelo flamenco.

De "El mal querer" ao estrelato

A espanhola conquistou o estrelato internacional aos 25 anos, com sua o seu segundo álbum, "El mal querer" (2018).

O disco, que ganhou o prémio de Álbum do Ano nos Grammys Latinos e triunfou noutras três categorias na mesma noite, reflete o imaginário espanhol e o flamenco de Rosalía, acompanhado voluntariamente por um tom pop e mais dançável.

Rosalía

Entre as canções de sucesso, a indispensável "Malamente" está com 160 milhões de reproduções no YouTube e "Pienso en tu mirá" já soma cerca de 89 milhões de reproduções.

Dividido em 11 canções, este álbum concetual começou como um trabalho de fim de curso de Rosalía e relata as etapas de um relacionamento amoroso tóxico, inspirando-se na anónima obra medieval "Flamenca".

Com o passar dos capítulos, a protagonista, personificada pela cantora, avança rumo à emancipação.

Dueto com J. Balvin

Ozuna, The Weeknd, Bad Bunny, ou Travis Scott. Rosalía ousa em qualquer dueto com as maiores estrelas da música urbana, mas uma colaboração que se destaca na sua discografia é a com o colombiano J. Balvin.

Intitulada "Con Altura", a canção estreou-se em 2019 e foi uma de suas primeiras colaborações internacionais, onde deu os primeiros passos no reggaeton.

Fiel às suas influências, o single expõe pequenas referências ao flamenco, como "llevo a Camarón en la guantera", ao citar o cantor espanhol deste género, Camarón De la Isla, ou à música latina, no verso "pongo palmas sobre la guantanamera".

"Motomami", ou como se reinventar

"Sinto que em 'Motomami' eu fiz e disse exatamente o que queria dizer e fazer, à minha maneira. Depois disso, não há como voltar atrás", declarou Rosalía à edição norte-americana da revista Rolling Stone em meados de dezembro.

Editado em março passado, "Motomami" foi aclamado pela crítica e pelo público. A borboleta tornou-se marca do disco, um símbolo de transformação, tal como Rosalía canta em "Saoko": "Una mariposa, yo me transformo", "Me contradigo".

Pop, reggaeton, hip-hop, eletrónica, jazz... O álbum embarca em todos os gêneros. O conteúdo desta terceira obra é, sem dúvida, o mais íntimo. Rosalía aborda a sexualidade, feminismo, espiritualidade e amor próprio.

Rosalía anuncia novo álbum:

Almodóvar e Bigas Luna?

Além das canções e da sonoridade, Rosalía também tem uma estética extremamente preservada e ligada a Espanha. O conceito aparece nos seus videoclips, capas de discos e atuações.

Alguns dos seus videoclips são referências ao cinema de Bigas Luna ou Pedro Almodóvar, com quem trabalhou em um breve papel em "Dor e Glória" (2019). O videoclip de "Juro que" mostra a influência de Almodóvar nas cores e nas composições.

O videoclip de "Pienso en tu mirá" começa com uma cena de uma boneca vestida de flamenca, já o de "Di mi nombre" é inspirado na pintura "La maja vestida", de Goya.