Ainda vai levar algum tempo para que o público possa escutar o resultado destas gravações, conforme confessou o músico à agência Lusa, numa entrevista telefónica, a partir do hotel onde se hospedou no Porto: «Só provavelmente daqui a um ano, em outubro ou novembro, depois de deixar passar algum tempo, é que estes temas deverão integrar o meu próximo álbum, juntamente com mais alguns originais que irei compor».

«A cada espetáculo que vamos fazendo ao longo de uma digressão, vamos ficando melhores como artistas, mas no fim separamo-nos e, normalmente, nunca gravamos o resultado desse tempo juntos», afirmou Ryuichi Sakamoto, quando interrogado sobre as razões que o levaram a gravar em Portugal: «É no final de uma digressão que os músicos estão no pico das suas capacidades, por isso pensamos: porque não gravar o resultado da digressão? Foi isso que fizemos.»

O Ryuichi Sakamoto Trio, que juntou ao piano do japonês o violoncelo de Jaques Morelenbaum e o violino de Judy Kang, retomou novos temas e alguns clássicos do japonês, muitos deles do álbum «1996», para uma digressão de 14 datas pela Europa, que terminou no dia 21 com um concerto no Grande Auditório da Gulbenkian.

«Como acabámos a digressão em Lisboa, pesquisámos um estúdio em Portugal e este pareceu-nos bom», afirmou Ryuichi Sakamoto.

O Boom Studios «é um pouco longe da cidade, mas as pessoas e o dono, Pedro [Abrunhosa], são muito simpáticas», acrescentou o músico que quis relembrar que o seu «afinador de piano também é do Porto».

Judy Kang foi selecionada para acompanhar Sakamato através de um casting feito a partir do You Tube, enquanto o brasileiro Jaques Morelenbaum é um companheiro de velhas andanças, nomeadamente da década de 1990, altura em que, relembra, tocaram «todos os anos».

E como foi o reencontro? «Tem um lado bom e um lado mau», afirmou.

«Jaques e eu não tocávamos há cerca de dez anos e sinto que ele ficou onde nós estávamos há 10 anos com o nosso trio. Mas eu andei a fazer coisas muito diversificadas, como é habitual. Colaborei com jovens músicos como Alva Noto, da Alemanha, ou Chistian Fenneesz, da Áustria. Por isso, eu tenho estado muito longe de onde estávamos há uma década, daí que no princípio fosse um pouco complicado de ajustar a consistência e direção musical. Mas, apesar de tudo, nós partilhamos muito conhecimento musical e experiências e, por isso, em muitos casos, nem tenho que falar com ele para sabermos o que tocar».

O músico que ficou mundialmente conhecido também pelas suas colaborações com outros músicos, como David Sylvian, Iggy Pop ou Rodrigo Leão, também é celebrado pelas suas bandas sonoras, nomeadamente a de «Merry Christmas Mr. Lawrence» em que participou como ator e a de o «Último Imperador», pelo qual ganhou um Óscar. Este ano já compôs música para o filme japonês «Harakiri – Death of a samurai», de Takashi Miike e, sem revelar planos, afirma que «no próximo ano, provavelmente na primavera» vai trabalhar em algo novo.

O músico japonês tem-se mostrando muito preocupado com os problemas ambientais, nomeadamente após o desastre de Fukushima. Em agosto, atuou naquela localidade, num espetáculo de solidariedade, com outros músicos, e constatou que «o acidente ainda está acontecer», pois «o nível de contaminação está a piorar».

«Muitas pessoas já partiram, mas há muitas que ainda lá estão e especialmente as crianças deixam-me muito preocupado», afirmou.

SAPO/Lusa