As iniciativas incluem uma exposição documental e de pintura que é inaugurada sexta-feira, 4 de Março, no Trindade, um musical também naquele teatro, dias 11 e 12, a edição de um livro e um passeio pelos locais que a intérprete de «J’ai Deux Amours» esteve em Lisboa.
«Pretendemos realçar a faceta humanitária e de defensora dos Direitos Humanos de Baker, a par da extraordinária carreira artística de grande vedeta que foi», disse à Lusa João Moreira dos Santos, coordenador das iniciativas que assinalam a atuação da cantora em 1941 no palco do Trindade.
Josephine Baker, que se naturalizou francesa em 1937, visitou várias vezes Portugal entre 1939 e 1960. Além de cantar, as suas deslocações serviram também para desenvolver actividade de espionagem para a Resistência Francesa, e tentou também adoptar uma criança portuguesa, como fez com uma dúzia de orfãos de outras nacionalidades.
João Moreira dos Santos referiu que Baker, quando cantou no Trindade, em 1941, trazia as pautas codificadas com as posições dos nazis em França. «Ela escrevia as mensagens nuns papelinhos, depois ia à livraria em frente ao Trindade e colocava-os estrategicamente dentro de uns livros que um agente inglês ia depois buscar», contou.
A exposição que é inaugurada sexta-feira no Teatro da Trindade divide-se em duas partes: uma documental, com cartazes, fotografias, discos e documentos inéditos, e outra artística, de Xicofran. Na parte documental destacam-se as duas fichas, com fotografia, que a cantora preencheu na Inspeção Geral dos Espetáculos quando actuou em Portugal, em 1941 e 1958.
Os documentos expostos são do fundo documental de João Moreira dos Santos e também de Vasco Bruno Tarallo, colecionador italiano que reuniu seis mil peças que pertenceram à artista. Xicofran, 40 anos, pintou três telas de grandes dimensões em acrílico e pastel de óleo. Em declarações à Lusa, o pintor afirmou que o fascinou ter pesquisado tanto sobre um ícone como Baker.
Josephine Baker faleceu em 1975, aos 68 anos, em Paris, a cidade onde se tornara vedeta em Outubro de 1925, no Théâtre des Champs-Élysées, e tornar-se-ia na temporada seguinte estrela das Folies Bergère.
João Moreira dos Santos afirmou que Baker, que já se tinha estreado na Broadway, em Nova Iorque, foi para Paris para fugir das perseguições racistas (era negra) em Saint-Louis e, quando estava no apogeu da carreira, voltou de novo a fugir, desta vez das tropas nazis que invadiram a França.
Nessa altura casada com um judeu, Baker integra a Resistência Francesa, levando a cabo várias missões de espionagem em Portugal, França e Marrocos. «Quando actuou em Portugal, no Trindade, os espetáculos foram a «capa» dessas atividades de espionagem», disse Moreira dos Santos. A primeira vez que passou por Lisboa, em 1939, «numas curtas horas», foi também em trânsito numa das suas missões de espionagem.
A última vez que cantou em Portugal foi em Novembro de 1960, na RTP, durante a qual fez «uma prece pela emancipação da raça negra e um apelo para que os homens se respeitassem, e que eram todos iguais», recordou.
«A mensagem passou despercebida por ter sido feita em francês e os jornalistas não fizeram qualquer citação, ou a censura cortou, pois só em Janeiro do ano seguinte o jornalista José Neves de Sousa fez uma referência ao facto numa revista», acrescentou Moreira dos Santos.
SAPO/Lusa
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