Ontem à noite, uma sala desconfortável mas repleta de fãs incondicionais recebeu o músico irlandês que, durante “uma hora e uma canção”, fez juz à alcunha de “international man of misery”.

Acompanhado por um piano e um baixo (que em dois temas deu lugar à guitarra), Blake levou-nos numa revisitação a um passado distante que vai de “Perry Blake”, disco homónimo editado em 1998, a “The Crying Room”, de 2005. As paragens que ficaram fora dessa rota foram a mais recente Folks Don`t Know e também Moments, tema que Blake escreveu para um disco de Françoise Hardy.

Neste formato de concerto, a música de Blake perde o seu lado orquestral e cénico, de onde desaparecem os violinos etéreos, as teclas orgânicas e as batidas mais dançáveis, mas ganha uma voz que nos transporta ao lado romanesco da vida e que celebra as duas facções em que o amor balança – se bem que, em Blake, a noite cerrada seja sempre mais querida que qualquer pôr-do-sol.

Além da música, Blake mostrou-nos também algum do seu sentido de humor, fosse ao afirmar que gostaria de partilhar com Bono, além da data de aniversário, a sua conta bancária, ou por se auto penitenciar por um dia ter tido a triste ideia de editar um disco com perfume a country ("Cannyon Songs", de 2007, que ficou fora do alinhamento).

This Time is Goodbye, The Hunchback of San Francisco, Wise Man`s Blues, California ou Songs For Someone foram alguns dos temas escolhidos por Blake, numa noite que certamente terá servido de inspiração para que, daqui a nove meses, tenhamos uma pequena explosão demográfica na zona de Lisboa e arredores. O amor é lindo.

Pedro Miguel Silva