Com sala cheia, o concerto começou à hora prevista, com uma projeção de imagens numa grande tela a servir de pano de fundo a um concerto teatral e de emoções expansivas. “London” abriu oespetáculo, numa fusão entre o oboé de Craig White e o piano e voz grave de Patrick Wolf. A primeira poção mágica musical foi entregue ao público e concluída com o primeiro “obrigado” da noite.

Wolf convidou o público a juntar-se a si em “House”, antes de chegar o terceiro tema do alinhamento, escrito sobre as manifestações em Londres esobre a crise económica e social, “Hard Times”. O artista falou, ainda, do exemplo de Portugal, dando o seu apoio.

Antes de “Wind in the Wires”, tema-título do segundo álbum de Wolf, o público manteve-se silencioso e atento enquanto o músico sintonizava a guitarra. Atrás dos instrumentos clássicos, passavam projeções que correspondiam à nostalgia da música e à voz de Wolf, que ecoava alto por toda a sala, provocando nos presentes verdadeiros arrepios.

Em modo trovador dançante, Patrick passeia-se até à frente do palco e ajoelha-se para cantar uma versão dramática de “The Libertine”, numa serenata direcionada a toda a casa. Já de regresso ao seu lugar no palco, Wolf começa, então,um estalar de dedos, que lembrou o ritmo do clássico intemporal, “Hit the Road Jack”, de Percy Mayfield,acompanhado pelo público com palmas entusiastas.

Adada altura, Patrick sentou-se numa pequena cadeiracom umaalmofada amarela e preparou-se para abraçar a harpa, na qual iria tocar mais um tema sobre a glória do passado, “Teignmouth”. A projeção do videoclipe oficial de "Sundark and Riverlight", com um jovem Wolf na imagem, acompanhou o músico, que se fez ouvir com todo o seu charme e misticismo.

No alinhamento seguiu-se uma dedicatória a um poeta que Patrick conheceu na sua infância, em Londres, com o qual passeava nos parques da cidade enquanto falavam de livros oferecidos, do estado da cultura e das artes. Wolf contou, saudosista, que esta música surgiu após a reflexão sobre a morte de Stephen Vickery - daí surgirem, no decorrer de "The Sun is often out", questões para o poeta.

A afinação da guitarraem “Tristan” é complexa e demorada, mas Patrick assegura que “irá valer a pena”. No final da música, faz uma pequena vénia saltitante e esboça um sorriso que o leva, de novo, ao encontro do piano, onde toca “Vulture”, original do álbum de 2009, “The Bachelor”. Wolf começa, então,uma luta com o piano em dinâmicas entre a força e a calma, que prendem o público à cadeira.

O acordeão de Willemwiebe Van Der Molen regressa ao palco, ao qual se junta Patrick enquanto baloiça com a guitarra pelo cenário. No final, o músico estava tão feliz com o decorrer da noite, que proporcionou o momento mais querido e desajeitado - puxou o cabo da guitarra eletroacústica, que fez com que esta caísse do seu suporte,fazendo uma pose graciosa enquanto o público aplaudia a pequena distração.

Antes de seguir para “Paris”, tema que caracteriza como histórico-adolescente, Wolf senta-se ao piano para uma pequena conversa,durante a qual perguntouse a noite estava a ser do agrado da audiência, terminando o momento de interação com um uníssono de acordeão e piano, enquanto entoava a frase “It’s all in the palm of your hand”.

Seguiu-seum momento de discos pedidos, com propostas envergonhadas a fazerem-se ouvir pela sala. Uma voz tímida pediu aPatrick para tocar “Penzance”, um b-side do single “The Libertine” - desejo que o músico concedeu, com agrado.

Chegaram, por fim, os agradecimentos, não só pela presença portuguesa na plateia, como na sua vida, com David Mota, membro da equipa de Patrick Wolf, a ser destacado: "Tenho um pouco de Portugal na minha vida, todos os dias".

“Magic Position”, quase a fechar, foi “dedicada ao ano 2013, a todos os que acreditam na liberdade de expressão e aos que não têm medo de amar quem querem”. Wolf despediu-se, então,com o tema que guarda a frase “you’ve put me in the magic position, to live, to learn, to love”. O Teatro Aveirense encheu-se de palmas e pés a bater no chão, num pedido de encore, ao qual Patrick e companhia responderam com uma corrida até aos respetivos instrumentos e com mais um “obrigado”.

A noite fechou em grande com mais uma história, mais uma passagem sobreo atual estado do mundo - o medo de acordar e de saber que as noticias nunca são boas, num planeta cheio de ameaças. Enfim, com "The City", depois da qual Patrick Wolf se despediu com simplicidade, perante uma ovação a um concerto vigoroso e introspetivo de um artista que nunca tínhamos ouvido antes, assim.

Set List:
1. London
2. House
3. Hard Times
4. Wind in the Wires
5. The Libertine
6. Teignmouth
7. The sun is often out
8. Tristan
9. Vulture
10. Paris
11. Penzance
12. Magic Position
13. The City

Sara Fidalgo