O terceiro disco dos Keane não fará propriamente justiça ao título - "Perfect Symmetry" -, mas tendo em conta os registos anteriores da banda britânica é o que está mais próximo de lá chegar.
Isto porque o álbum mais recente do trio pode orgulhar-se de ser, pelo menos, o que mais se aproxima de um equilíbrio perfeito entre as letras emocionais e melancólicas de Tom Chaplin - aqui um pouco mais cínicas do que o habitual ("When we fall in love/ we're just falling in love with ourselves") - e as melodias imediatas de um alinhamento onde quase todas as canções têm perfil de single.
No entanto, desta vez a aposta não é tanto a de preencher o disco com temas de um registo baladeiro na linha daqueles que trouxeram maior mediatismo ao grupo - como "Everybody's Changing" ou "Somewhere Only We Know" - mas antes a de lhes injectar um dinamismo e elasticidade que se julgaria incompatível com os Keane.
O primeiro single e tema de abertura do álbum, "Spiralling", é uma apelativa porta e entrada e, além de valer por si, resume bem o que o resto de "Perfect Symmetry" tem para oferecer.
A sua cadência dançável revela uns Keane atipicamente festivos e mostra o rumo que, por exemplo, os Killers poderiam ter seguido em "Day and Age", de cuja sonoridade outras canções do disco se aproximam ainda que - e felizmente - sem uma carga barroca e nostálgica tão acentuada.
A proximidade entre as bandas poderá explicar-se pela partilha do produtor Stuart Price, que já havia promovido o regresso de Madonna aos anos 80 em "Confessions on a Dance Floor" e que aqui dá ao trio um refrescante tempero rítmico, mantendo a estrutura das canções dos Keane mas adornando-as com saudáveis doses de electrónica.
A sobriedade que o grupo sempre pareceu defender permanece intacta - talvez por Jon Brion, ligado a Aimee Mann ou Fiona Apple, ser outro dos colaboradores - e as canções saem a ganhar com o reforço de teclados e sintetizadores.
Ouça-se a alternância entre a carga plácida e épica de "Playing Along", a oportuna citação de "Ashes to Ashes", de David Bowie, na cativante "Better Than This" ou a nada vergonhosa colagem aos Radiohead na primeira (e melhor) metade da intimista "Love is the End".
Ainda assim, os melhores momentos ficam entregues à synth pop melancólica de "You Haven't Told Me Anything" e ao electrofunk upbeat de "Pretend That You're Alone", onde a primeira podia ser uma homenagem aos A-ha e a segunda aos Duran Duran - e ambas inspiradas.
Nesta sexta-feira, os Keane actuam antes de outra referência da pop electrónica, os Pet Shop Boys, e caso apostem em algumas canções deste disco poderão fazer um bom aquecimento para a festa que fecha a noite.
Os Keane actuam no Palco Super Bock do Festival SBSR a 16 de Julho, a partir das 22h40.
Videoclip de "Spiralling":
Videoclip de "A Bad Dream":
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