
Ainda o concerto não tinha começado e a música reggae já preenchia os cantos da sala de espetáculos e tomava conta dos que iam chegando, que, de imediato, davam licença aos seus corpos para balançarem ao som de temas de Bob Marley. Poucos eram os lugares sentados, assemelhando-se o Coliseu a uma grande pista de dança ou, como dizem os nossos irmãos brasileiros, a uma “balada”. Antes da entrada dos músicos em palco, ainda foi possível assistir-se a um breve relato dos seus 16 anos de carreira, que culminou nos primeiros elogios e aplausos da noite.
Quando as cortinhas se arredaram e o símbolo da banda, como pano de fundo, saltou à vista de todos, a aclamação atingiu outro nível. A entrada do coletivo brasileiro em palco fez-se com palavras de amor e liberdade, ao som de O Carcará e a Rosa. Seguiu-se Meu reggae é roots e a afirmação de um coração brasileiro, aberto, sorridente. As letras dos Natiruts são bem simples e procuram louvar a natureza, o amor, a paz e a simplicidade das coisas, sempre com uma mensagem de fé, esperança e muita alegria – o que pôde ser confirmado em Au de Cabeça: “Vou rezar aos céus e vou pedir/ Não antes de agradecer/ A sorte de ter você aqui/ Clareando meu viver”.
Glamour tropical fez, pouco depois, furor entre o público que entoava “Anda na pedra, corre pró oceano, pérola do sol, te amo”, deixando-se envolver pelo relax transmitido pelo tema. Dentro da música II irrompeu como mais uma celebração de tudo o que há de bom, da confiança no destino, da despreocupação – mensagem que o público portuense pareceu agarrar com especial carinho. Também se fizeram ouvir Groove Bom e Sorri, Sou Rei, cantada a pulmões cheios por todos, dada a sua popularidade. Foi então que Mónica Ferraz foi convidada a subir ao palco, trazendo a voz lusitana à frescura e juventude do reggae dos Natiruts.
Entre canções, a banda fez questão de agradecer a presença de todos, de divulgar o seu DVD, que garantiu ser de “qualidade superior”, e de espalhar boas vibrações com dizeres espirituais, essenciais “num mundo que insiste em falar de coisa ruim”.
Sucederam-se, no alinhamento da atuação, Supernova, Pérola Negra e Pedras Escondidas, que cantam amores possíveis, impossíveis e as suas fantasias e ilusões. Nossa Missão, cujo título coincide com o título do quinto álbum do coletivo brasileiro, lançado em 2005, trouxe ao Coliseu, pouco depois, um reggae mais psicadélico, experimental e acelerado. O álbum “Natiruts Reggae Power”, de 2007, também marcou presença, com Leve com você, tema que ajudou a levar o nome Natiruts a todos os cantos do Brasil. Espero que um dia evocou a vontade de não cultivar tristezas, iniciando-se com o contributo precioso de João Ferreira no violão, e Reggae de Raiz falou de honestidade, sinceridade e felicidade. Não foi esquecida a importância da contribuição de Luiz Gonzaga para a banda, instantes antes de Andei Só, um dos hits de maior sucesso do álbum “Verbalize”, tomar conta da sala portuense. Descessário será dizer que o público cantava sorrindo e sorria cantando, não deixando de acompanhar a banda por um só segundo.
Deixa o menino jogar foi, contudo, a música que maior impacto causou na plateia – não esquecer que o Benfica tinha defrontado o Chelsea minutos antes do início do concerto. Em solo maioritariamente azul, os ânimos fervilhavam enquanto o vocalista falava sobre a arte do desporto que a música procura contemplar.
Em Quero ser feliz também, a banda pediu que se apagassem as luzes, que deram lugar aos já habituais “celulares” e isqueiros, que tornaram o momento estrelado e especial. Foi ao som de Reggae Power que a banda abandonou momentaneamente o palco, num ambiente de imensa agitação, em que o Coliseu do Porto ameaçou colapsar, tamanha a ansiedade do público pelo regresso do grupo. Este pisou novamente o palco com palavras de admiração pela nossa cultura e cidade, realçando o papel da música na união dos povos. Chegou, então, A cor, balada de 1999, que antecipou a apresentação da praxe de todos os músicos, a cargo de Alexandre Carlo, que terminou a prestação, como não podia deixar de ser, com Liberdade pra dentro da cabeça e Presente de um Beija-Flor, deixando o Porto em rejúbilo e já ansioso pelo retorno dos Natiruts a solo nacional.
Texto: Sara Ralha
Fotografias: Marta Ribeiro
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