As diferenças entre um produtor e um DJ, hoje em dia, «esbatem-se» e o sucesso é o «resultado da música que faz». Para Mastiksoul «é um processo de muitos anos, de muita dedicação, de muito choro e de muitas portas fechadas. Mas, no final, tens a tua recompensa», assegura.
«Não é fácil estar seis meses sem uma noite de sono normal ou dez anos sem um jantar de família. São 30 festas ao longo de um mês. Vives num mundo só teu, amado e odiado por milhões», diz o DJ quando inicia a viagem.
Os convidados e a comunicação social começaram o dia no Aeródromo de Cascais, em Tires, para o voo num jato particular até Amsterdão. Mastiksoul chegou com o «andamento» de uma performance em Leiria, na Harley de matrícula personalizada, depois de um duche e de 30 minutos de sono.
A ação promocional envolveu o vencedor do passatempo Summer Dance Trip que permitia a um fã acompanhar Mastiksoul ao 17º Festival Dance Valley, em Spaarnwoude, Holanda, e regressar ao RS Delmare Beach Klub da Costa da Caparica.
João Paulo Costa, de 27 anos, e a namorada Rogélia Grilo, de 25, foram os contemplados. No final do périplo, afirmaram ter vivido uma «experiência única». «Nos clubes ouves a mesma coisa, um 'live act' é diferente», aponta João, que já ficou em quarto lugar num campeonato de DJ, na Islândia, onde viveu três anos.
A pequena vila holandesa de Spaarnwoude, com apenas 200 habitantes, 20 quilómetros a norte de Amsterdão, recebe a visita de cem mil apreciadores de música eletrónica um dia por ano. Steve Angello, Trevor Rockcliffe, Lilith, Josh Wink, Tim Green, Layo & Bushwacka, Hardwell e DJ Sneak são alguns dos 200 artistas convocados para animar os 18 palcos e tendas do recinto.
Mastiksoul é o nome de guerra de Fernando Figueira de 35 anos, à beira dos 20 de carreira. Nasceu em Angola e veio para Portugal em 1982. Viveu em Londres, Paris e Montpellier. Martinho da Vila era amigo de seu pai e «quase um tio» para si. Gosta «muito» de visitar Angola, mas quando regressa a Portugal é que se sente «em casa».
O produtor e DJ já editou mais de 200 discos em vinil. Entre as recriações «famosas» que efetuou contam-se «Rap das armas», de Cidinho & Doca, «Aqui para vocês», dos Buraka Som Sistema, ou «Ritmo do meu flow», dos Flow 212.
A capa do último disco surgiu por acaso. «No mundial na África do Sul havia muitas pessoas com as caras pintadas com bandeiras. Descobri a de Angola em 3D. Experimentei e gostei do resultado».
Durante a viagem até à Holanda, Mastiksoul revela-se um contador de histórias. Esteve no Bahrein quatro dias antes do conflito, onde causou sensação não só pelo ‘kuduro’ que se dançou de saia e turbante, mas pela ‘bootleg’ feita no hotel com o 'hit' local. O sheik gostou tanto que teve de repetir o tema quatro vezes.
Na China, seis polícias pouco amistosos interromperam a festa. Em Hong Kong, teve de animar um evento menos «ortodoxo» na casa multimilionária do filho de Silvio Berlusconi. No Cocoon Club, em Frankfurt, uma das maiores discotecas do mundo, intrigaram-se quando revelou a nacionalidade. «Julgávamos que eras americano», disseram-lhe.
Mastiksoul já atuou «por todo o mundo» mas, muitas vezes, só fica a conhecer o «aeroporto e pouco mais».
O jato privado aterrou em Schiphol, Amsterdão, sob chuva intensa. Seguiu-se a partida para a zona de acreditação de artistas e, colocadas as pulseiras, a viagem numa das dez carrinhas que percorrem os palcos do Festival.
O «backstage» não tem camarins, comida ou cadeiras. Do lado esquerdo há uma mesa para colocar o equipamento na rápida mudança de palco e, por baixo, um minibar com coca-cola, Red Bull e águas.
Basta um relance para se perceber a diversidade do recinto: tendas para as várias tendências de música eletrónica, espaços ‘chill out’ onde se fumam cachimbos marroquinos, outros ainda onde se experimentam roupas exóticas, se tatua o corpo ou se oferecem «abraços». Não faltam casas de banho, bares e ‘merchandising’.
Muitas bandeiras e algumas placas em inglês contextualizam um festival que lembra Glastonbury e ao qual não falta lama nem galochas, embora existam incautos de chinelos ou mesmo descalços e outros em tronco nu.
Sem compasso de espera, o português é apresentado com pompa e circunstância perante uma audiência de seis mil espetadores, uma das maiores, naquele espaço de tempo.
Coldplay, Queen, Florence & The Machine ou Adele são artistas cujos excertos se identificam com facilidade, sempre em modo «mash up feito na hora», ou seja, misturados simultaneamente com duas ou três «camadas» musicais, por Mastiksoul.
No final da atuação, o organizador pretende que o DJ português regresse em 2012, a um palco maior, ao ar livre. «As pessoas aqui não dançam, ficam a ouvir e é difícil agradar. Felizmente tenho tido sorte», diz Mastiksoul, acrescentando que vai ali para ser quem é.
A meio da viagem de regresso, Mastiksoul recosta a cadeira e adormece. «Isto foi um ‘power nap’ muito sério», diz à chegada. Sem tempo a perder, segue para a Caparica.
Antes de «subir» ao palco pela terceira vez em menos de 24 horas, Mastiksoul diz que está a viver «o dia do ano». «Correu tudo muito bem e será um grande fecho aqui, até o sol raiar, junto à praia, com as quatro mil pessoas presentes». Depois, «dormir, dormir, dormir!».
Em setembro, Mastiksoul vai filmar um teledisco no Brasil, com o ator Leandro Firmino – o Dadinho do filme «Cidade de Deus».
Dentro de dias, recebe a visita de Mickael Carreira no estúdio para gravar a primeira música de dança do cantor, a editar em fevereiro de 2012.
@Lusa/Filipe Pedro (texto, vídeo e fotos)
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