O autor levou «um bom ano» para fazer a obra para a qual consultou «essencialmente a imprensa da época». Apesar de não dispor do número de vendas de discos da cantora em Portugal, o autor está ciente da sua popularidade.
«Aparecia muito nas revistas, sucessivamente, e, por exemplo, em 1941 actuou de 27 de Março a 4 de Abril no Teatro da Trindade, antes de partir para o Porto onde cantou no Sá da Bandeira», contou.
A cantora esteve em Portugal pela primeira vez em 1939, a caminho do Brasil, onde ia actuar. Regressou em 1940, 1941, 1958, 1959 e 1960. Nestas vindas «não deixou de comunicar a sua mensagem. Fê-lo simplesmente por existir e por transportar os seus intrínsecos ideais universais e fraternos a um Portugal amordaçado pelo Estado Novo», disse.
Em 1941, por exemplo, foi aplaudir Hermínia Silva, ao Teatro Variedades, em Lisboa, na revista «A Desgarrada», além de ter actuado em sucessivos espetáculos esgotados no Trindade e ter passado informações aos Aliados sobre as posições alemãs que ocupavam a França. Em 1958, actuou no Casino Estoril e tentou sem efeito adotar uma criança para a sua «Tribo do Arco-Íris» constituída por 12 crianças de etnias e religiões diferentes.
«Estou crente que foi o regime que de forma indirecta terá impedido a adopção a pensar na imagem de Portugal no estrangeiro», disse o autor, que todavia afirmou não ter provas concretas.
«Josephine Baker em Portugal (1933-1960)», editado pela Principia, inclui fotografias, ilustrações e reprodução de documentos inéditos. O livro inclui um DVD com imagens e filmes históricos.
A obra será apresentada sexta-feira, 11 de Março, às 18:30, no Teatro da Trindade, em Lisboa, numa sessão em que participa a historiadora Irene Flunser Pimentel, que falará sobre «Lisboa - Capital europeia da espionagem nos anos 40», e Vasco Bruno Tarallo, o maior colecionador de peças pertencentes à artista, tendo reunido mais de seis mil.
Josephine Baker (1906-1975) nasceu nos EUA, em Saint Louis, onde liderou manifestações pelos direitos cívicos, mas naturalizou-se francesa. Integrou a Resistência Francesa e foi subtenente do Exército de Charles de Gaulle. A artista usou o seu dinheiro para estas actividades e finda a Segunda Guerra Mundial recusou qualquer indemnização compensatória, mas a França condecorou-a com a Legião de Honra pelos altos serviços prestados à sua pátria de adopção.
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