Já conhecem Portugal quase tão bem como Portugal os conhece a eles. Entre Maio de 2008 e Junho de 2010, passaram por Braga, no âmbito das festas académicas da Universidade do Minho; por Vila Nova de Gaia, como cabeças-de-cartaz do Festival Marés Vivas; por Portimão, para a primeira e única edição do festival Rock One; e pela Ilha Terceira, como parte integrante do cartaz das festas Sanjoaninas. Com o Outono, surgiu a ambição de cidades mais numerosas, de espaços mais amplos, de palcos mais aprazíveis, de pavilhões lotados. Passaram, então, por Lisboa e Porto, onde esgotaram, em fim-de-semana de «festivais de Inverno», o Campo Pequeno e o Pavilhão Rosa Mota, respectivamente.
Depois de uma actuação na capital, onde os novos temas da banda, dos mais recentes trabalhos de estúdio “The Night Before” e “The Morning After”, não agitaram uma plateia, que teve que aguardar pelo final da actuação para ouvir e vibrar com grande parte dos êxitos do grupo, os James brindaram a Invicta com renovada estratégia e alinhamento, sóbrio em novidades, bêbado de revivalismos, desferidos a conta gotas.
Sit Down foi o primeiro a ecoar no gélido recinto, já o relógio se aproximava das 22h30. Chegou despedido, precedido por um excêntrico solo de trompete, apenas recordado pela guitarra acústica de Adrian Oxaal e pela voz inigualável de Tim Booth que, para surpresa e delírio dos que não conseguiam afastar os olhos do palco, ansiosos por dar as boas-vindas ao mestre, apareceu por entre bancadas e fãs, incógnito, de gorro enfiado.
Num ápice, os rostos expectantes tornaram-se eufóricos; as mãos nos bolsos passaram a exibir câmaras fotográficas imparáveis, pés e ancas abandonaram o estado de quietude, para só duas horas depois assentarem arraiais. A festa havia começado e Booth não podia mostrar-se mais entusiasmado, disparando, a par e passo, movimentos corporais frenéticos e delirantes, observados com surpresa e estupefacção pelos fãs da banda menos acostumados às performances do colectivo britânico.
Dos mais recentes trabalhos do grupo, somente Crazy e Come Home, de “The Night Before”, e Dust Motes e Tell Her I Said So, de “The Morning After” foram visitados. Não gerando manifestações de pura veneração mas nunca alienando os presentes, que deles se despediram, invariavelmente, com fortes aplausos, cumpriram em pleno o seu objectivo: darem-se a conhecer aos portugueses que, para desgosto de Booth, não estavam com eles familiarizados, face à sua “fraca divulgação nas rádios nacionais”.
“Laid”, de 1993, e “Seven”, editado um ano antes, foram mesmo os álbuns mais evocados no Pavilhão Rosa Mota, com Born of Frustration, Out to Get You, Say Something, Sometimes e a homónima Laid a arrancarem efusivas exclamações e movimentações daqueles que, durante a sua juventude, devaneavam e fantasiavam ao som destas canções, agora clássicos indiscutíveis, sabidos na ponta da língua por todos.
Das duas obras mais bem sucedidas do grupo, foram ainda repescadas as músicas Ring the Bells, Seven, P.S. e Sound, esta última adornada com novo e intrigante solo de trompete, que devolveu o burburinho às bancadas, à passagem de Andy Diagram.
“Pleased to Meet You”, de 2001, foi lembrado, logo ao segundo tema, com Getting Away With It, especialmente acarinhado pelo público. Já de “Wah Wah”, de 1994, foram revisitadas Tomorrow e Jam J, sendo que as únicas incursões por “Whiplash” (1997) e “Hey Ma” (2008) assentaram nas melodias de She’s a Star, recebida com saudosismo, e I Wanna Go Home, respectivamente.
Laid foi a música com que Tim Booth e companhia se despediram do Porto, já em modo encore. Convidada pelo vocalista para o acompanhar nos rituais dançantes “e não para tirar fotografias”, a assistência correu, incrédula, para o palco, onde se despediu, bem de perto, dos protagonistas da noite, dos heróis de uma vida.
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