
O Festival Eurovisão da Canção vai analisar o sistema atual de televoto, que permite até 20 votos por pessoa. A organização do concurso vai ainda investigar as campanhas de apoio promovidas pelas delegações dos participantes, na sequência da polémica relativa ao número de votos recebidos por Israel na edição deste ano.
Em nota publicada esta sexta-feira, 23 de maio, o diretor do Festival, Martin Green, adianta que "a UER tem ouvido e acompanhado de perto as conversas entre os membros, os nossos fãs e os meios de comunicação após a edição deste ano do Festival Eurovisão da Canção".
"O sistema de votação do festival inclui múltiplas camadas de segurança e um conjunto abrangente de regras para garantir um resultado válido. O nosso parceiro de votação – Once Germany GmbH – utiliza sistemas redundantes e múltiplas plataformas para assegurar a entrega correta dos votos ao sistema central", começa por destacar o responsável pelo concurso, acrescentando que são usados "sistemas especialmente concebidos para monitorizar e prevenir fraudes" e que uma equipa acompanha todo o processo.
No comunicado, Martin Green explica que, "todos os anos, o Grupo de Referência do Festival, composto por representantes dos membros, analisa os dados fornecidos pelo parceiro de votação Once para fazer recomendações quanto a ações que garantam que as nossas regras e sistemas se mantêm infalíveis, considerando também fatores externos contemporâneos, como os avanços tecnológicos e influências externas". "Este processo terá lugar, como sempre, em junho", adianta.
Paralelamente às discussões do Grupo de Referência, um dos aspetos que a organização irá analisar é a promoção dos artistas pelas respetivas delegações e entidades associadas. "Essa promoção é permitida pelas nossas regras e serve para celebrar os artistas, aumentar a sua visibilidade e lançar carreiras futuras – algo que faz parte integrante da indústria musical –, mas queremos garantir que tal promoção não afete desproporcionadamente a mobilização natural de comunidades e diásporas, como acontece em todas as votações do público no entretenimento", frisa o diretor do Festival da Eurovisão.
"Outro exemplo é o número de votos permitidos por pessoa – 20 por método de pagamento. Esta medida visa permitir que públicos de todas as idades possam votar em mais do que uma das suas canções favoritas. Não há, atualmente, provas de que isso afete de forma desproporcionada o resultado final – mas a questão foi levantada e, por isso, será analisada", adianta.
A presença de Israel no Festival Eurovisão da Canção foi contestada por várias estações de televisão, por artistas que já participaram no concurso e por milhares de espectadores. Na final, a canção "New Day Will Rise", de Yuval Raphael, com 357 pontos, conquistou o segundo lugar.
Na segunda-feira, 19 de maio, em entrevista à agência Efe, a organização do Festival da Eurovisão defendeu o sistema de televoto utilizado nas semifinais e na final, garantido que é "o mais avançado do mundo".
"Os resultados de cada país são revistos e verificados por uma vasta equipa de pessoas para descartar qualquer padrão de votação suspeito ou irregular", frisou o diretor do festival, Martin Green, em resposta à agência de notícias espanhola. O responsável pelo festival adiantou ainda que a empresa Once.Net, dos Países Baixos, que apoia a organização na supervisão, validou o televoto em todos os países que participaram na final deste ano, assim como no resto do mundo.
Depois da final de sábado, a RTVE (Radio y Televisión Española) solicitou uma auditoria ao organismo responsável pelo festival para investigar o televoto espanhol. A a televisão pública de língua neerlandesa da Bélgica, VRT, também exigiu à organização "total transparência".
Na tarde desta segunda-feira, dia 19 de maio, a Blitz adiantou que RTP estaria a preparar a sua posição oficial. Ao SAPO Mag, fonte oficial da estação pública sublinhou que "houve uma interpretação errada das palavras do responsável da RTP pela Música e Artes de Palco, Gonçalo Madaíl, à Blitz,".
À agência Efe, Martin Green destacou que a organização está em "contacto constante com todas as emissoras participantes na Eurovisão". "Levamos a sério as suas preocupações", frisou, acrescentando que será iniciado um "debate alargado para refletir e recolher opiniões sobre todos os aspetos do certame deste ano".
Em Portugal e Espanha, a canção de Israel recebeu a pontuação máxima do televoto (12 votos). 10 outros países também atribuíram os 12 pontos do televoto a Yuval Raphael. Segundo os dados partilhados no site do festival da Eurovisão, os espectadores da Austrália, Azerbaijão, Bélgica, França, Alemanha, Luxemburgo, Países Baixos, Suécia, Suíça e Reino Unido também entregaram o primeiro lugar a Israel.
Da votação dos espectadores da Ucrânia resultou um ponto para "New Day Will Rise". Já na Arménia, Croácia e Polónia, a canção obteve zero pontos do televoto.
O tema israelita foi o mais votado pelo público, com 297 pontos. Já os júris nacionais entregaram apenas 60 pontos à canção, com 22 países a não pontuarem Yuval Raphael — Portugal, Austrália, Arménia, Áustria, Bélgica, Chéquia, Estónia, Islândia, Itália, Letónia, Lituânia, Malta, Montenegro, Noruega, Países Baixos, Polónia, Reino Unido, São Marinho, Sérvia, Espanha, Suécia e Suíça. Os jurados do Azerbaijão foram os únicos a dar pontuação máxima a Israel.
Em Portugal, Espanha, Austrália, Bélgica, Países Baixos, Suécia, Suíça e Reino Unido, o contraste entre o televoto e o voto dos jurados chamou a atenção, com o público a conceder 12 pontos, enquanto os júris não atribuíram qualquer ponto à canção.
A canção vencedora, de JJ, com "Wasted Love", pela Áustria, recebeu 178 pontos no televoto e 258 pontos dos júris - veja aqui.
JJ "Gostava que, no próximo ano, o festival se realizasse em Viena e sem Israel"
Johannes Pietsch, de 24 anos, conhecido como JJ, representante da Áustria, venceu na passada semana a edição de 2025 do Festival Eurovisão da Canção. O tema "Wasted Love" somou 178 pontos no televoto e 258 pontos dos júris (436 pontos no total), enquanto a canção de Israel ( "New Day Will Rise", de Yuval Raphael), com 357 pontos (297 pontos do televoto e 60 do júri), conquistou o segundo lugar.
Em entrevista ao El País, o vencedor do concurso defendeu que é necessário "mudar o sistema de votação e repensar quem participa no festival". "Devia haver maior transparência no que toca ao televoto. Este ano foi tudo muito estranho nesse aspeto", frisou.
"É muito decepcionante ver que Israel continua a participar no concurso. Gostava que, no próximo ano, o festival da Eurovisão se realizasse em Viena e sem Israel. Mas a decisão está nas mãos da UER. Nós, os artistas, só podemos levantar a voz sobre o assunto”, defende o jovem austríaco, que trabalha na Ópera de Viena, ao jornal espanhol.
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