“Xscape” até pode estar longe dos melhores trabalhos de Michael Jackson, mas é do melhor que poderíamos esperar tendo em conta que não contou com a sua presença no processo de produção e reaproveita apenas canções que ficaram de fora dos discos editados entre 1983 e 1999. Timbaland foi nomeado para estar à frente de uma equipa de produtores que inclui StarGate, Jerome "J-Roc" Harmon, John McClain ou Rodney Jerkins - este último foi o único a trabalhar originalmente na gravação de uma das canções, a faixa título.

“Xscape” esteve envolto em menos polémicas que o seu antecessor, “Michael”, e acaba por resultar melhor. Podemos até dizer que, como álbum, resulta melhor do que “Invencible” (2001), último registo gravado pelo cantor de “Billie Jean” em vida.
É um disco curto, com pouco mais de meia-hora e oito faixas, na sua grande maioria enérgicas. Embora os produtores tenham criado ambientes diferentes dos que estamos habituados nos álbuns de Jackson, podemos encontrar constantemente elementos que caracterizam a sua música, com destaque para os gritos agudos inconfundíveis.

O álbum abre com um dos seus melhores temas, “Love Never Felt So Good”, upbeat e dançante. O tema foi escrito em parceria com o cantor canadiano Paul Anka e a versão single conta com a participação de Justin Timberlake, incluída apenas na versão deluxe do disco.

“Chicago” é uma canção que tem o toque inconfundível de Timbaland. Com uma letra típica de Jackson, aqui encontramos a história de um homem que foi enganado por uma mulher que conheceu durante uma viagem até Chicago. Esta fez-se passar por solteira e envolveu-se com ele, mas afinal tinha família. Da desilusão resulta um ótimo tema para as pistas de dança.

“Loving You” é a única balada do disco, com uma sonoridade muito anos 70, e “A Place With No Name” é outro dos pontos fortes de “Xscape”: com um teclado funky na linha de Stevie Wonder, volta a dar uma toada dançante ao disco. O tema contém elementos de “Horse With No Name”, dos America.

“Slave To The Rythm”, outra faixa produzida por Timbaland e Harmon, traz uma sonoridade pop/r&B mais moderna. Já “Do You Know Were Your Children Are” seria tema para gerar alguma polémica caso Jackson estivesse vivo por abordar o abuso sexual de menores, uma das questões que mais assombraram a vida do cantor. Apesar do tema, Timbaland pegou na canção deu-lhe alguma densidade e energia, fugindo da ideia da balada melosa que poderia sugerir.

“Blue Gangsta” volta às sonoridades r&b que assentam na perfeição na voz de Jackson. O resultado aproxima-se do que Justin Timberlake tem feito nos seus últimos discos.

Para fechar fica a canção que dá nome ao álbum, “Xscape”. Uma despedida elétrica, funky (com sopros da escola Earth Wind and Fire), disco sound e ao mesmo tempo Michael Jackson clássico.

Nunca saberemos se o indiscutível rei da pop aprovaria este disco. Sabemos, sim, que era extremamente criterioso na escolha dos produtores e com o processo de composição. Também é certo de que se estivesse vivo teríamos canções novas e não recicladas. Mas “Xscape” não deixa de ser um excelente disco pop, que nos deixa a pensar no que mais terá ficado por conhecer do enorme legado musical de um génio. Como há mais edições póstumas do cantor planeadas, talvez não demoremos muito a descobrir...

@Edson Vital