Nem foi preciso os Da Weasel terem terminado para os seus elementos se envolverem noutros projectos. Nos últimos tempos, Pac Man revisitou raízes do hardcore com Os Dias de Raiva, Virgul apostou num tom mais ligeiro e dançável com os Nu Soul Family e João Nobre e Pedro Quaresma criaram os Teratron, cujo álbum homónimo foi editado no ano passado.

"As Cobaias" dá agora seguimento à colaboração destes últimos, que mais uma vez assenta em electrónica frenética e com aproximações ao rock. Mas seria errado apontar aqui um exemplo de mais do mesmo, já que este segundo álbum não só testa outros domínios como revela maior ambição e uma lógica conceptual.

A estreia, virada para a pista de dança e com alguns temas instrumentais - e outros cantados em inglés -, tem como sucessor um disco onde o português é o idioma de eleição num alinhamento - e narrativa - com contornos sci-fi. Porque além de um álbum, "As Cobaias" é ainda uma banda-desenhada (que acompanha o CD) e um filme em 3D (que chegará às salas em 2011) cuja história parte de uma ideia de Adolfo Luxúria Canibal - e envolve teorias da conspiração em torno de uma estranha substância química.

O vocalista dos Mão Morta assina o argumento da BD (desenhada por João Maia Pinto) e dá voz ao protagonista da trama, passando depois o testemunho a SP e New Max, que garantem que "As Cobaias" faça a transição entre rock electrónico (por vezes quase industrial) e ambientes mais ligados ao hip-hop ou funk - também com um forte travo sintético. Pelo meio, nos interlúdios desta investigação com banda-sonora cinética, o actor Miguel Guilherme completa o invulgar lote de convidados do disco.

O conceito é curioso e a viagem não desaponta, até porque Adolfo Luxúria Canibal é um contador de histórias nato e New Max sai-se particularmente bem longe dos domínios dos Expensive Soul.
Mas se os Teratron dão um passo seguro depois de uma estreia promissora, também deixam evidente que poderiam ter ido mais longe.

Tal como a do antecessor, a electrónica d'"As Cobaias" é descendente directa da vertente mais crua e pirotécnica dos Daft Punk ou Prodigy, o que por si só está longe de ser mau. O problema é que não faltam alunos dessas escolas e os Teratron, embora competentes, não são dos mais imaginativos, deixando boa parte (por vezes demasiada) do apelo das canções nas costas (ou vozes) dos convidados. E é sobretudo por isso que "As Cobaias" resulta numa experiência interessante e não tanto numa grande descoberta.

@Gonçalo Sá