No dia 6 de março, Maria da Fé vai partilhar o palco do S. Luiz com António Zambujo, Camané, Duarte e Francisco Salvação Barreto, intérpretes que atuaram regularmente na casa de fados que fundou, em 1975, de nome Senhor Vinho, em Lisboa, com o seu marido, o poeta José Luís Gordo.
José Manuel Neto, na guitarra portuguesa, Carlos Manuel Proença, na viola, e Paulo Paz, na viola baixo, são os músicos que vão acompanhar os fadistas.
À Lusa, a fadista, nascida há 81 anos no Porto, disse: "A minha mãe é que queria que eu fosse fadista e me trouxe para Lisboa, aliás mudou-se para cá com o meu pai, pois achava que era em Lisboa que eu faria carreira e assim foi".
Maria da Fé é o nome artístico de Maria da Conceição. A escolha deveu-se ao facto de, quando começou a cantar, existir já uma outra intérprete Maria da Conceição, a criadora de “Mãe Preta” e “Casa Portuguesa”.
A fadista afirmou à Lusa que começar não foi fácil: "Havia a Amália Rodrigues [1920-1999], e não por ela diretamente, mas as pessoas faziam comparações, diziam que eu era a segunda Amália, a herdeira da Amália e isso fragilizou-me. Hoje ultrapassei tudo".
"Para o Museu do Fado era um imperativo prestar homenagem a Maria da Fé, artista maior da história do Fado, que ao longo de mais de mais seis décadas de intensa atividade artística tem sido consensualmente aclamada pelo público e pela crítica. Criadora de inúmeros temas que se enraizaram na história do Fado e no nosso imaginário coletivo, Maria da Fé teve também um papel determinante na formação de várias gerações de artistas de Fado, fazendo da sua casa de fados, o Senhor Vinho, um palco privilegiado para a formação de sucessivas gerações de artistas", disse à Lusa a sua diretora, Sara Pereira.
Maria da Fé é "uma artista ímpar que continua fazer de cada fado, um ato de entrega e gratidão incondicionais", sublinhou Sara Pereira.
Intérprete de êxitos como "Valeu a Pena", "Lençóis de Palha" e “Fado Errado”, Maria da Fé afirmou que "não se deve nunca imitar ninguém, e cada fadista deve procurar criar o seu próprio estilo".
Da carreira recorda várias etapas, entre elas "a ida ao Brasil integrada na Ponte Cultural, que foi extraordinário e é marcante", a participação no Festival de Brugges, na Bélgica, a atuação no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, e a estreia no Casino Estoril, em 1962, dois meses depois de se ter mudado para Lisboa.
Afirmando que nunca teve ambição e que foi o impulso da mãe que a fez vir para o fado, Maria da Fé afirmou que, todavia, "não saberia fazer outra coisa" e sente-se orgulhosa quando surgem convites do estrangeiro motivados pelos seus trabalhos discográficos.
"Eu tive uma estrelinha, entrei com o pé direito e a minha mãe que sempre me impulsionou para fazer esta carreira", disse.
"O fado nunca fez mal a ninguém, nem é o fado que faz as pessoas serem malformadas, nem más pessoas, nem serem de má fama", atestou a fadista que considera "muito positivo a forma como as novas gerações encaram atualmente o fado".
A criadora de "Tantos Fados Deu-me a Vida” sublinhou as "grandes mudanças" do tempo em que começou, "em que era mal visto cantar o fado", e como atualmente as carreiras crescem, mas deixa um conselho: "A correr não se vai longe, devagar é que se vai longe".
O lugar cimeiro que hoje ocupa na música portuguesa deve-se ao facto "de ter sido sempre verdadeira".
"Entreguei-me de voz e sentimento, dignifiquei o fado, procurei novos caminhos sem nunca defraudar a tradição que é tudo", rematou a criadora de "Cantarei até que a Voz me Doa".
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