Com uma dinâmica de colectivo fluída e pujante, assente numa congruência admirável de dinâmicas e registos ao longo do disco, uma combinação quase homeoestática de improvisações mais extensas e breves interlúdios, o álbum expõe Daniel Carter a tocar piano pela primeira vez, num estilo reminiscente do incontornável Cecil Taylor ou de Dave Burrell, William Parker a espraiar-se em encantações amplas em tuba e Federico Ughi afirmando-se como um baterista com níveis de energia e entrega evocatórias de um Rashied Ali, do período Interstellar Space de Coltrane. No entanto, é com base na instrumentação típica e querida a cada um deles, Carter em sopros e piano, Parker no contrabaixo e Ughi na bateria, que a a ctuação no Teatro Maria Matos tomará forma e conteúdo.

Daniel Carter, que iniciou a sua actividade pública em Nova Iorque no início dos anos 70, é um exímio soprador de fogo, tendo tocado e gravado com gente como Thurston Moore, Anti-Pop Consortium, Yo La Tengo ou Plastic Ono Band de Yoko Ono. William Parker dispensa apresentações, iniciou o seu percurso público no milieu free com gigantes como Bill Dixon, Don Cherry ou Sunny Murray, tendo depois integrado a Cecil Taylor Unit de 1980 a 1991 e encetado uma relação duradoura de colaboração com pares europeus como Peter Brötzmann, Louis Sclavis ou Derek Bailey. É também um reverenciado teórico e autor com obra publicada, tendo também sido professor universitário em várias instituições. Ughi, italiano radicado em Brooklyn, é reconhecido pela sua pertinência melódica em percussão, abrindo espaço harmónico e métrico ricos para as formações que com ele contam.