Os seus dias parecem, à primeira vista, bastante normais: dirige-se ao seu trabalho, um call-center, onde atende e ajuda clientes de todo o lado. “Muitos ingleses e indianos”, conta-nos. Mas, para Alex, metade do projeto D'Alva, os dias começam realmente no momento em que abandona o local de trabalho. Aproveita os fins de tarde para se juntar aos seus e trabalhar com eles, seja em produção musical, seja em promoção. Ultimamente, a sua vida tem sido, contudo, um pouco mais atribulada, sobretudo desde o lançamento do álbum “#batequebate”, que leva a assinatura dos D'Alva, que foram atirados, de repente, para a ribalta portuguesa. Na crista da onda, sucedem-se as entrevistas, os concertos, a aprovação pública. Fomos, então, ao encontro de Alex D’Alva Teixeira e de Ben Monteiro, segunda metade do projeto, para perceber como chegaram até ao topo e como venceram, com tanta assertividade, no nosso país.

Quem são os D’Alva? Formados há três anos, são bastante claros relativamente à sua composição: “Nós não ser vistos como uma banda, preferimos a ideia de coletivo. O disco sou eu e o Alex que o fazemos. Como podes ver, as figuras centrais somos nós, e depois há uma série de pessoas que andam à nossa volta e fazem parte da família D’Alva”, explica-nos Ben Monteiro. Essas pessoas incluem, por exemplo, Carolina Barreiro (nas back vocals), Gonçalo Almeida (na bateria), Vítor Azevedo (nas teclas e guitarra) ou ainda Ricardo Ramos (na guitarra e bateria).

O início dos D’Alva encontra-se, apesar de tudo, em quem porta o nome - Alex. Jovem, a iniciar-se no mundo da música, é ajudado desde cedo por Ben Monteiro, que rapidamente passou a ocupar uma posição de mentor, contando com o auxílio de uma década de experiência na indústria musical. “Nós temos dez anos de diferença e esses dez anos são anos em que eu aprendi muita coisa. Quando começas a trabalhar no mundo da música, há uma série de experiências por que tens que passar, que não são necessariamente boas nem glamorosas, nem muito românticas…”, revela-nos Ben. A sua figura, quase-paternal, encarregou-se de guiar o jovem oriundo da Moita no seu trilho, auxiliando-o na realização dos videoclips, na produção da maquete/EP, entre atuações conjuntas, em estúdio e ao vivo. “Pensei que o Alex não precisava de passar por essas coisas e que, de certa maneira, eu o podia ajudar a chegar mais rapidamente onde ele precisava de chegar”, confesa-nos.

Alex foi apanhado desde cedo pela Flor Caveira e contribuiu, em 2011, para a mixtape “20 anos de Ruptura Exposiva” (co-editada com a Amor Fúria), com a música “Barulho” (uma versão primitiva daquela que seria lançada neste primeiro álbum). “De facto, para quem ouviu aquilo, que foram muito poucas pessoas, começou aí”, diz-nos Ben. No entanto, a primeira verdadeira exposição pública de Alex como músico a uma maior escala aconteceu em junho de 2012, com o lançamento de “3 tempos”. “Foi um dos primeiros marcos”, diz-nos o próprio, “pelo menos um dos mais importantes”. Foi aí que firmou a sua identidade musical.

Em fevereiro de 2012 tinha participado no Festival Termómetro, tendo ficado em segundo lugar, logo atrás dos vencedores CRISIS. Apesar de não ter vencido, a exposição valeu-lhe, no entanto, um convite para atuar nas festas da vila de Paredes de Coura no mesmo ano, no dia que antecedeu a receção ao campista do festival Paredes de Coura. Foi esse o seu primeiro contacto com um grande público, disposto a ouvi-lo. E Alex D'Alva Teixeira tinha como objetivo deixar a sua marca. Ben também estava lá, presente em palco, a ajudar numa atuação que ficou nas bocas de quem lá esteve. E boas são as memórias que guarda desse dia: “As pessoas estavam a gostar do concerto, aquilo estava cheio e o coretoquase ia abaixo!”.

Pouco depois, chega-nos, então, o primeiro EP, “Não É Um Projecto”, e os primeiros convites para participar em projetos televisivos, nomeadamente no “5 Para a Meia-Noite”, com a música “Só Porque Sim”. Apresentado como Alex D'Alva Teixeira, sentiu, logo a seguir a essa noite, a necessidade de descentralizar as coisas: "Afinal, estávamos a tocar música que não era só feita por mim. Há todo um trabalho que é feito nos bastidores, e até mesmo as coisas básicas num concerto, há um esforço que é coletivo, eu acho que o mínimo que posso fazer é repartir um bocado a atenção que estou a ter, porque as pessoas esforçam-se bastante para que isto esteja a acontecer, para que o nome seja reconhecido”.

Porventura, foram chamados a participar no Club Offbeatz, em Lisboa, com a sua performance a dar-lhes, primeiro, uma maior exposição e, segundo, um palco onde acabariam por atuar mais regularmente. “Sentir que nos estavam a convidar continuamente foi, para nós, uma espécie de um atestar da qualidade do que estávamos a fazer. Cada vez que tinham algo especial, estavam a convidar, e foram-nos dando um lugar de cada vez maior destaque”, explica Ben. “O Offbeatz faz parte do crescimento do Alex D’Alva Teixeira e agora dos D’Alva. Eles foram das primeiras entidades a apostar em nós e a dar-nos a conhecer”, destaca.

Durante a produção do longa duração, depois de uma das duas sessões de trabalho, Alex voltou-se para Ben e disse: “Sabes que mais? Acho que somos D’Alva. Isto é uma coisa dos dois, estamos os dois a fazer isto há imenso tempo, já somos os dois a escrever as canções, os dois a compor, já somos os dois a contribuir, isto já não é uma coisa apenas só minha". A transição para o nome D’Alva foi então selada com o lançamento do vídeo de “Homologação”, em maio de 2013. Chegou fora de época comercial e, portanto, na altura oposta à que lhes tinham aconselhado. "Porque nos apeteceu", explica Ben, "Virei-me para o Alex e disse: 'Vamos fazer este vídeo, tenho uma ideias'. Ele concordou e, passado duas ou três semanas, estava feito". "Dado o sucesso que teve, passou a ser single do álbum que estava para vir. Não era o plano original, mas passou a ser", conta.

“Há um marco que não posso, nunca, riscar do mapa, e esse é o Vodafone Mexefest de 2013”, frisa Alex. Já a trabalhar como “D’Alva” e mesmo na fase final de gravação do álbum, com as naturais dúvidas sobre a receção do público ao mesmo, "o Mexefest mudou imensa coisa para nós", confirma Ben. Flirtados pelas maiores editoras presentes em Portugal, foi aí que acabaram por definir o seu management e começaram a ganhar o relevo no universo musical nacional que têm hoje.

Alguns meses passaram e, em maio, o álbum “#batequebate” é finalmente lançado. Na mesma semana, e por puro acaso, são convidados a regressar ao programa “5 para a Meia-Noite”, onde teriam a responsabilidade de substituir outro artista. Aproveitando a oportunidade, interpretam “Frescobol”, que rapidamente se torna viral.

Foi então que, no dia 19 do mês seguinte, quando o coletivo foi chamado a atuar no Musicbox , em Lisboa, se deparou, pela primeira vez, com o efeito do seu próprio sucesso. “Havia, provavelmente, tantas ou mais pessoas fora do Musicbox como as que estavam dentro. Eu sei que houve pessoas que ficaram mais de duas horas à espera, numa fila, para nos ver tocar”, comenta Ben, que acrescenta: “Foi a primeira vez que realizámos o que estava a acontecer. Ainda mal tinha começado o concerto, o Alex ainda nem tinha cantado as duas primeiras linhas da primeira canção, já estava toda a gente a berrar as letras. Não estávamos à espera e foi assim até ao final do concerto - toda a gentea cantar, do início ao fim. Não estávamos à espera, não estávamos mesmo".

Aproveitando o buzz gerado pela atuação no Musicbox, os D'Alva, que já tinham sido convidados para atuarem no NOS Alive, passaram a ter duas performances distintas: uma em nome próprio, em que apresentavam o novo álbum; e outra diferente. “Pediram que apresentássemos uma estreia, que tivéssemos algo diferente. Tivemos várias ideias, mas a mais fácil de fazer acontecer era ter um coro de Gospel, então convidámos o Gospel Collective para subir ao palco connosco”, contam. Embora tivessem, naturalmente, algum receio, dadas as expetativas impostas pelo seu próprio sucesso, o mesmo desapareceu relativamente depressa: “Correu muito bem, foi como que uma continuação do que aconteceu no Musicbox”. Alex acrescenta: “Sabia que havia pessoas que não conheciam os D’Alva e que não iriam ficar indiferentes. O que mais me surpreendeu é que pessoas que nem sequer são portuguesas ou falam a nossa língua estavam claramente a gostar e deram-nos os parabéns. Foi um sonho realizado".

A ascensão do projeto deve-se, claramente, ao mérito próprio, mas também ao facto deste ter sido muito bem recebido por diversas personalidades do mundo musical, como Rui Reininho, Capicua (que participou, inclusive, numa das músicas do álbum), The Legendary Tigerman (que convidou Alex a fazer parte do seu concerto, na última edição do SuperBock Super Rock), More Than a Thousand, Jibóia ou Sequin. “Não estava à espera de fazer um álbum tão consensual. Desde o pessoal mais mainstream, aopessoal mais alternativo... Fizemos o que nos apeteceu e estamos super satisfeitos com isso”, referem.

Negam a intenção de transmitir algum tipo de mensagem específica: "Não existe uma agenda. Tudo o que nós fizemos foi um pouco acidental. Não acordamos de manhã e dizemos: ‘vamos fazer música que faz as pessoas felizes’. Não“, afirmam. O trabalho é, sim, feito com base na espontaneidade e na honestidade: "A mensagem que existe é um resultado disso e não um pretexto. Há muita honestidade”. Não há, também, discussão sobre o género, o pop, embora seja difícil a afirmação de artistas nesse género: “O pop é visto com maus olhos, aqui. Mas nós sabíamos que, se nos ouvissem sem reservas, iam sentir o que nós sentimos ao fazê-lo e ao ouvi-lo. Tentámos fazer o que nos apetecia ouvir, explorar o que gostávamos em comum na música e que, de facto, não havia, e lançámo-nos à aventura".

Já o álbum "#batequebate" “foi muito pensado, cada pormenor dele”. “Somos muito autocríticos. Quando fechamos uma música e dizemos ‘está feita’, nós sabemos que está bem feita e que gostamos de tudo o que ali está”, explicam. Ainda assim, diversão é a palavra de ordem. "Divertimo-nos imenso a fazer o que fazemos. Essa é a parte mais fixe, é que é mesmo divertido. Quando tens um loop que não consegues tirar da cabeça, um som ou ritmo... Aí é que nós percebemos que estamos a fazer a coisa certa".

Sobre algumas figuras da música portuguesa, opinam: “Há muito esta coisa de fazer, de pegar nas sobras, de pegar numa guitarra, num baixo, cantar qualquer coisa e já está. Não é por aí, não temos a mentalidade do ‘isto para Portugal está muito bom’. Não temos essa mentalidade… Está bom quando estiver bom.”

Apesar do tremendo sucesso, não se deixarão entrar em estado de exultação. Serenidade e ponderação são as palavras de ordem, com Ben a dizer-nos: “No final do dia, ainda não somos mesmo ninguém, ainda temos muita coisa para percorrer". "Estou a aproveitar esta atenção toda porque amanhã isso pode não acontecer. Então, pronto, estou a viver bem com isso", adiciona Alex, que garante, no entanto: "Não mudaram muito as nossas vidas, continuamos a ser as mesmas pessoas, a fazer as mesmas coisas".

O que reserva o futuro para os D’Alva? Muita incerteza e demasiado secretismo. Para já, há que pensar na #batequebate tour,que se iniciou no 1º dia de agosto, no Theatro Circo, em Braga e que seguirá para a Caparica, no dia 14 de agosto, no âmbito do festival O Sol da Caparica. A 19 de setembro, passa pelo Festival Nova Música. “A ideia é que essa dita tour vá continuando por auditórios fora”, revelam. Quanto ao prospeto de visitar lugares mais longínquos, dizem-nos: “Não todo o lado, mas sítios que fizessem sentido. Mas ainda é muito cedo, o nosso disco saiu há meses, somos muito novatos e temos muita coisa para aprender, muita coisa para segurar".

Relembramos que "#batequebate" está disponível para download gratuito no site da NOS Discos, aqui .

Texto: Julien Vergé