A compositora afirma-se uma apaixonada pelo aquafone desde que, na década de 1990 em Nova Iorque, viu pela primeira vez esse instrumento de percussão que é constituído por uma caixa de metal com água e várias varetas, tocado com um arco de contrabaixo.

Sofia [Gubaidulina] estava na sala de espectáculos, nos ensaios, e depois de todos saírem viu o instrumentista de aquafone sozinho no palco e apesar da sua timidez, aproximou-se dele, procurou saber e até tocar”, contou a tradutora Svetlana Poliakova no encontro com jornalistas na sexta-feira passada. “Ficou fascinada pelo som do aquafone”, concluiu Poliakova.

O fascínio foi tal que a compositora adquiriu dois aquafones que levou para a Alemanha, onde vive desde 1991 numa aldeia a norte de Hamburgo.

Na viagem para Lisboa, que visita pela primeira vez, a compositora trouxe também dois aquafones, e irá tocar com um deles, acompanhada pelo DSCH – Schostakovich Ensemble.

O programa inclui “Seis Bagatelas para Quarteto de Cordas” (opus 09) de Anton Webern, um dos compositores cuja vida e obra Gubaidulina admira, e ainda “Quinteto com piano, em sol menor” (opus 57), de Dmitri Schostakovich.

Schostakovich, com quem conviveu, aconselhou-a, no Conservatório de Moscovo, a seguir o seu próprio caminho na composição apesar de este ser contrário aos ditames do regime socialista soviético de então.

A segunda parte do concerto de quarta-feira é totalmente constituída por peças de Sofia Gubaidulina, entre elas, “Am Rande des Abgrunds (À Beira do Abismo), para sete violoncelos e dois Aquafones”, que se estreia em Portugal.

Esta peça conta com Filipe Pinto-Ribeiro e Gubaidulina, lado a lado, a tocarem aquafone e tem a participação dos violoncelistas Varoujan Bartikian, Levon Mouradian, Raquel Reis, Jeremy Lake, Teresa Valente Pereira e Michal Kiska.

Serão também interpretadas da compositora russa, que em Outubro festejará 80 anos, “Reflections on the theme B-A-C-H, para quarteto de cordas”, e “Dancer on a tightrope”, para violino e piano.

O DSCH – Schostakovich Ensemble é constituído por Filipe Pinto-Ribeiro (piano e aquafone), Tatiana Samouil e Jolente de Maeyer (violinos), Natalia Tchitch (viola de arco) e Nicolas Altstaedt (violoncelo).

O ciclo “A Hora da Alma” do CCB começou no passado sábado e prolonga-se até ao próximo domingo.

Na quinta-feira, será exibido às 18 horas no Pequeno Auditório do CCB o documentário “Sophia. Biography of a Violin Concert” (2008), de Jan Schmidt-Garre, seguindo-se um encontro com a compositora, aberto ao público, moderado por António Pinho Vargas.

@SAPO/Lusa