Cantor e compositor britânico, Calum Scott conquistou os corações dos fãs após a sua participação no programa de televisão "Britain's Got Talent", em 2015. A sua voz poderosa, combinada com as suas histórias de vida, fizeram eco um pouco por todo o mundo. Em Portugal, o artista conta com uma forte legião de fãs - no final do ano, o cantor regressa a Portugal para atuar no Festival Authentica, na Altice Forum Braga, no dia 9 de dezembro.

Mais de seis anos depois da sua estreia em solo nacional, está de volta para apresentar o seu novo álbum, "Bridges" (2022), que o confirmou como uma das maiores estrelas da nova geração da música pop no Reino Unidos.

Apesar de a carreira ter começado apenas em 2015, no programa de talentos, a ligação de Calum Scott à música vem desde criança, quando passeava com a mãe pelas ruas de Kingston upon Hul, em Inglaterra. "A minha primeira memória de música é, em criança, no carro da minha mãe. Ela metia sempre a tocar as suas canções favoritas, de grandes artistas, como Whitney Houston, Michael Jackson, Tina Turner, Elton John, George Michael... e apaixonei-me por essas canções. Por isso, as minhas memórias mais antigas são de viagens a ouvir essas grandes vozes. Mas, claro, quando cresci, entrei no mundo da pop, no mundo das Spice Girls e de todos os grupos pop. É como um círculo completo", recordou o cantor em entrevista exclusiva ao SAPO Mag, em abril.

"Quando comecei a fazer a minha própria música, o meu coração gravitou em direção a Whitney Houston e a todos esses grandes cantores. Por isso, acho que tenho de agradecer à minha mãe pelo meu gosto musical", contou.

A noite no karaoke que mudou a vida de Calum Scott

CALUM SCOTT
CALUM SCOTT

Se a mãe apresentou grandes nomes da música a Calum Scott, a irmã teve a missão de "empurrar" o jovem tímido para os palcos. "A primeira vez no palco foi na escola, tocava bateria - era um hobby, por isso subi a vários palcos. Mas a primeira vez que subi a palco como cantor foi quando a minha irmã me inscreveu num concurso de karaoke... e não me contou. Eu apareci lá e disseram-me: 'oh, então vais cantar?'. Eu fiquei: 'o que querem dizer com isso?'. E eles: 'oh, vais cantar esta noite! A tua irmã inscreveu-te no concurso", contou o britânico, que não gostou da ideia: "Tentei fugir pela janela da casa de banho, mas não consegui".

"Lembro-me que cantei 'Last Request', do Paolo Natini. Era a minha canção favorita dele. A partir daí, mesmo que houvesse apenas 10 ou 15 pessoas no público, comecei a ter essa sensação avassaladora de, tipo, é isto que quero fazer para o resto da minha vida. Foi uma loucura... uma noite mudou toda a minha vida", recordou.

Para o artista, no início da carreira, o grande desafio foi "ganhar confiança para cantar à frente das pessoas". "Se crias qualquer tipo de arte, se te expressas e partilhas com as pessoas, se as pessoas não gostam de algo que tu criaste com o coração, com a tua mente e talento... acho que não podes mudar isso facilmente. A tua voz é a tua voz, e se as pessoas não gostam dela, é complicado mudá-la. Por isso, às vezes pode parecer um pouco pessoal... mas acho que tenho de fazer algo que ame e esperar que as pessoas gostem", confessou ao SAPO Mag.

"Acho que isso foi o maior desafio, abrir mão de querer agradar a todos, querer que todos gostem da minha música. Deixei isso de lado e pensei: 'vais conquistar alguns, perder outros'. Então, de certa forma, cresci como artista quando comecei a concentrar-me em fazer a música que gosto", sublinhou o cantor.

O sucesso e reconhecimento mundial chegou em 2015, quando Calum Scott se destacou no "Britain's Got Talent". O programa de talentos foi o primeiro passo para a grande aventura no mundo da música, garantindo-lhe um contrato com a Capitol Records. Meses depois, chegou o single de estreia, uma versão de "Dancing on My Own", de Robyn, que abriu caminho para o seu primeiro álbum de originais, "Only Human" (2018).

"Não vou ser apenas ser o tipo triste, também mereço ser feliz"

Do primeiro álbum saiu "You Are The Reason", um dos maiores sucessos da carreira do britânico. Quatro anos depois, em 2022, Calum Scott editou "Bridges", disco que conta 14 canções em que o artista mergulha nas experiências pessoais, sem esconder as emoções e a sua vulnerabilidade. "Cada canção que faço, normalmente, é inspirada em algo que vivi, numa experiência minha. Acho que no início da carreira fui muito mais emotivo, agora é um pouco mais comemorativo, com temas como 'Rise', 'Last Tears', 'If You Ever Change Your Mind' ou 'The Way You Loved Me'. É como me sito agora, não vou ser apenas ser o tipo triste, também mereço ser feliz. A minha música começou a ser um pouco mais confiante. Eu ainda fico de coração partido muitas vezes e, por isso, essas canções nunca vão acabar", confessou.

CALUM SCOTT
CALUM SCOTT

"Tento inspirar-me nas coisas que vivo. A minha experiência de me assumir gay, de sofrer bullying na escola, o relacionamento que tenho com os meus pais, as minhas conquistas, as minhas falhas, as coisas negativas, a minha saúde mental... qualquer coisa que possa tirar daí é real e provavelmente alguém se vai identificar", explicou o cantor ao SAPO Mag.

Apesar de cantar sobre momentos pessoais, Calum Scott confessou que "nunca é fácil" partilhar histórias nas canções. "A canção 'Bridges', do novo álbum, é sobre quando eu estava no meu momento mais baixo e foi incrivelmente difícil de a partilhar. Também o foi quando escrevi 'No Matter What', do primeiro álbum. É muito difícil partilhar porque são coisas do teu diário, de um livro que escreveste e que tens escondido debaixo da cama... e passas a partilhar isso com o mundo. É sempre difícil ser vulnerável", admitiu. "Mas acho que também é muito poderoso ser vulnerável porque agora, quando leio comentários no Youtube, percebo que há pessoas que se sentem assim ou que ja se sentiram assim. Há algo nessa ressonância que realmente me liga ao meu público e vice-versa", sublinhou.

"Bridges", o novo álbum: "É extremamente honesto"

E foi o tema "Bridges" que deu título ao mais recente disco de Calum Scott e que deu mote à nova digressão. "O meu último disco é extremamente honesto, mas meio vitorioso também. Há um enredo real para neste álbum em termos de ser capaz de sair de tempos sombrios com confiança", confessou.

"Há momentos em que sou extremamente frágil e falo sobre meus pontos mais baixos e, em seguida, há momentos onde estou tipo: 'não, não vou mais chorar por aquele rapaz'. Percebes o que quero dizer? Acho bom porque precisas de mostrar às pessoas que passaste por um desvio. Não quero perguntar porque é que ninguém me ama? Não quero apenas continuar a fazer isso. Quero mostrar que tenho crescido", destacou na entrevista ao SAPO Mag.

Para o britânico, os concertos ao vivo são o principal motivo de fazer música. "É incrível estar em lugares fantásticos como o Porto, estar de volta a Portugal e regressar a todos os países por onde temos passado com a digressão. A viagem é ótima, a companhia é incrível, mas os concertos... Todas as noites, quando acabámos, sentimos que temos muita sorte por fazer o que fazemos. Todos mesmo, toda a equipa, adoramos o que fazemos e, ainda por cima, somos pagos por isso. É a melhor sensação de todas", frisou.

"Sei mais do que a maioria porque trabalhei durante oito anos num escritório de recursos humanos, depois da escola, antes de começar o meu sonho. Sei o que é fazer um trabalho que não gostas e depois ter um talento ou um sonho pelo qual queres lutar. Tive muita sorte e sou um privilegiado por estar a viver o sonho. O meu conselho é sempre: se tens um sonho, corre atrás dele porque os sonhos tornam-se realidade", aconselhou.

Nos concertos, temas como "Biblical", "If You Ever Change Your Mind", "You Are the Reason" ou "Heaven" são os mais abraçados e celebrados pelos fãs, que cantam todos os versos a uma só voz. "Ver aquelas momentos em que te ligas a alguém e sabes que essa pessoa passou semanas a ouvir uma canção nos phones... desde que lancei o álbum. Então, quando cantas ao vivo e podes ver as caras...Vale cada cêntimo", confessou.