O concerto estava marcado para as 21.30h desta quinta-feira, mas o andar ligeiro dos convivas não permitiu que tudo começasse à hora prevista. No entanto, isso pouco pareceu incomodar um público composto essencialmente por jovens com idades a rondar os 20 e os 30 anos.

Foi com «Lusíada» que a plateia entrou no espírito e começou a acompanhar com palmas a música dos Anaquim. No fim do concerto, as 800 cadeiras do espaço pouco pareciam incomodar aqueles que decidiram levantar-se e saltar ao som dos dois instrumentais tocados pela banda.

Esta foi uma noite de surpresas que começou pela presença de Ricardo Silva que na guitarra portuguesa acompanhou os acordes das banda. Heresia? Não, a ponte inesperada entre o tradicional fado e a guitarra acústica que dão cor e voz à crítica social presente nas letras do vocalista José Rebola.

Um dos momentos altos ontem no S. Jorge foi a entrada em palco de Ana Bacalhau, vestida de verde, com a energia própria dos Deolinda, mas em sintonia plena com os Anaquim. Momentos depois «O Meu Coração», tema que já passa nas rádios portuguesas, ia sendo cantada sem recurso ao pedal Pascoal – aquele que substitui Ana quando ela não pode acompanhar a banda conimbricense.

Ainda em tom de animada brincadeira cantou-se «Bocados de Mim», com Pedro Ferreira sentado em frente a um piano de brincar. Uma música para lembrar que nunca deixamos de ser crianças e que o vocalista decidiu dedicar àqueles que os têm acompanhado desde 2007 – altura em que a banda se formou.

Ao palco chegaram boinas e barcos de papel gigantes, não que este já não estivesse curiosamente decorado. No fundo da sala uma tela gigante que reproduzia a capa do álbum «A Vida dos Outros» e, entre as guitarras, a bateria e o contrabaixo havia um banco de jardim e uma bicicleta – aquela que levou Paulo Guerra dos Santos na Volta a Portugal em 100 dias.

Um novo arranjo para «A Morte Saiu à Rua» de Zeca Afonso substituiu as palmas pelo silêncio na sala que momentos antes tivera direito a ouvir um inédito: «Encorvado». Rebola garantiu que a sua tentativa inicial era de fazer uma música leve, mas acabou por falar de um veterano de guerra sem-abrigo.

Inicialmente Anaquim era apenas uma ideia do vocalista e letrista José Rebola. Mais tarde, com a entrada de Filipe Ferreira (baixo), João Santiago (bateria), Pedro Ferreira (teclas) e Luis Duarte (guitarra acústica), o projecto tornou-se colectivo e dedicaram-se ao álbum «A Vida dos Outros» – agora reeditado com três temas extra. Sempre com um olhar crítico, a personagem animada Anaquim vai saltando telhados e olhando de forma despudorada os hábitos portugueses.

@ Inês Fernandes Alves