"Antes éramos um bocadinho como os filmes de expressionismo alemão, em que só há o branco e o negro - alto contraste, uma coisa muito definida. Neste disco, entre esse branco e esse negro encontrámos uma série de tonalidades, tons de cinzento, que não sabíamos que tínhamos enquanto banda", compara Paulo Furtado ao apresentar o quarto álbum dos Wraygunn, "L'Art Brut", "manta de retalhos" que resulta de uma "gestão de tensões".
Selma Uamusse concorda. "Encontrámos um novo universo e uma nova maneira de nos exprimirmos musicalmente", realça a vocalista, que aponta no hiato de cinco anos (o mais longo até hoje entre a edição de discos do grupo) um dos motivos para a frescura deste regresso. "Este intervalo permitiu ao Paulo trabalhar de uma maneira mais focada em The Legendary Tigerman. Tivemos, pelo menos, dois anos e meio em que, consensualmente, o deixámos ir à sua vida", relembra.
"A maior parte das pessoas esteve envolvida noutras coisas e trouxe muito à banda. Se não houvesse esta interrupção, acho que seria muito difícil reinventarmo-nos como nos conseguimos reinventar", assinala Paulo Furtado. "Conseguimos ir a uma série de locais musicais, fazer uma série de coisas que nunca tínhamos feito", explica.
"A Raquel [Ralha, outra vocalista dos WrayGunn,] foi das primeiras pessoas a compor para este disco, ainda sem nenhum conceito, e as coisas foram feitas num processo relativamente moroso", refere Selma Uamusse. "Tivemos dois períodos de gravação em estúdio - um no verão de 2010, outro na primavera/verão de 2011 -, portanto houve muito tempo para macerar ideias, para criar coisas, e acho que todo este hiato nos fez muito bem".
Para Furtado, essa liberdade criativa sem a pressão do relógio foi fulcral para criar o disco de forma "livre e egoísta", caraterísticas que defende na arte: "Acho que nos abandonámos às músicas... fomos sendo levados pelas músicas e fazendo o que elas pediam, acho que foi isso. Acho que estamos mais fortes do que nunca e cheios de vontade de tocar".
A "reinvenção" encetada em "L'Art Brut" terá contraponto nos concertos, e em mais de uma forma. Por um lado, só quem comprar o disco é que poderá assistir a um dos quatro espetáculos que os Wraygunn têm agendados para este mês (no Lux, em Lisboa, dia 17; no Teatro Académico de Gil Vicente, em Coimbra, dia 22; na Associação Cultural e Recreativa de Tondela, dia 23; e no Hard Club, no Porto, dia 24).
"Espero que os fãs apreciem e usufruam, porque pelo preço do disco têm direito às duas coisas",salienta Furtado. Por outro, as próprias atuações terão contornos diferentes. "Vamos, pela primeira vez, tocar um álbum na íntegra, pela ordem em que está gravado e sem músicas antigas pelo meio. Eventualmente poderemos tocar algumas outras músicas se houver encore, ou assim. É um conceito que é ao mesmo tempo um desafio e só é possível pelo tipo de tensão que tem este álbum", antecipa o vocalista.
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