A caminho dos
Óscares 2025
A corrida aos Óscares é uma campanha e não é isenta de controvérsias.
Que o diga "O Brutalista", um dos favoritos da temporada, épico que custou dez milhões de dólares com três horas e 35 minutos (15 minutos de intervalo incluídos), sobre um arquiteto judeu húngaro que sobrevive ao Holocausto e emigra para os EUA, envolvido numa forte polémica pelo uso da Inteligência Artificial (IA) que levou o próprio realizador a ter de divulgar um comunicado de esclarecimento.
O drama explodiu quando se ficou a saber que a IA foi usada para melhorar a autenticidade dos sotaques húngaros dos atores Adrien Brody e Felicity Jones e criar algumas imagens.
Numa entrevista à revista tecnológica Red Shark News, o montador Dávid Jancsó, que é natural da Hungria, diz que a língua é uma da mais difíceis de pronunciar e que, apesar do esforço dos atores e o seu 'trabalho fabuloso', o desejo da perfeição fez com que quisessem que nem os próprios húngaros conseguissem notar a diferença.
A dificuldade surgiu com as vogais de certas palavras e após tentar melhorar regravando os diálogos em pós-produção (processo conhecido por ADR), primeiro com Brody e Jones, depois com outros atores, sem convencer, procuraram 'outras opções para melhorar'.
Entrou em cena a Respeecher, uma ferramenta da Inteligência Artificial criada por uma empresa da Ucrânia que também trabalha com a Lucasfilm da Disney: os atores gravaram as suas vozes para o software e o próprio Dávid Jancsó fez o mesmo para aperfeiçoar o processo.
"A maior parte do diálogo húngaro tem uma parte minha lá a falar. Tivemos muito cuidado em manter as suas interpretações. Basicamente, trata-se apenas de substituir letras aqui e ali.”, explicou Jancsó, o que não foi suficiente para que não estejam a ser colocadas questões éticas sobre o uso da ferramenta.
Uma “série de desenhos arquitetónicos e edifícios acabados” ao estilo da personagem de Brody na cena final de "O Brutalista" também usam a IA, um tema que o montador reconhece que é 'controverso' falar mas não devia ser: “Devíamos ter um debate muito aberto sobre as ferramentas que a IA nos pode fornecer. Não há nada no filme que use a IA que não tenha sido feito antes. Apenas tornou o processo muito mais rápido. Usamos a IA para criar estes pequenos detalhes que não tínhamos dinheiro ou tempo para filmar.”
Nas redes sociais, está a ser apontado o sotaque é um aspeto fundamental do trabalho dos atores e Brody é considerado o favorito para o Óscar de Melhor Ator por um trabalho que foi melhorado com o recurso à IA.
Também houve quem apontasse a 'inconsistência' da qualificação do filme para os Óscares apesar do uso da IA quando a candidatura da banda sonora de Hans Zimmer para “Dune - Duna: Parte Dois" ter sido rejeitada por usar partes dos temas do primeiro filme.
A controvérsia já não pode afetar as nomeações para os Óscares, cuja votação terminou na sexta-feira e serão anunciadas na quinta-feira, às 13h30, hora de Lisboa, mas está a ser considerada uma ameaça séria quando se fala em ganhar estatuetas douradas, levando o realizador Brady Corbet a ter de vir a público defender o uso da IA.
“As interpretações do Adrien e da Felicity são completamente deles. Trabalharam durante meses com a treinadora de dialetos Tanera Marshall para aperfeiçoar os seus sotaques. A tecnologia inovadora Respeecher foi usada apenas na edição de diálogos no idioma húngaro, especificamente para refinar certas vogais e letras para maior precisão. Nada na língua inglesa foi alterado. Este foi um processo manual, feito pela nossa equipa de som e pela Respeecher na pós-produção. O objetivo era preservar a autenticidade das interpretações do Adrien e Felicity noutro idioma, não substituí-las ou alterá-las e tudo isso com o máximo respeito pela arte.”, explica no comunicado.
E continuou: “Judy Becker e a sua equipe não usaram IA para criar nenhum dos edifícios. Todas as imagens foram desenhadas à mão por artistas. Para esclarecer, no vídeo apresentado em plano de fundo numa cena, a nossa equipa editorial criou imagens intencionalmente projetadas para parecerem representações digitais de baixa qualidade por volta de 1980.”
"O Brutalista" estreia esta semana nos cinemas portugueses.
VEJA O TRAILER.
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