Na opinião do realizador David Fincher, é uma "traição" a forma como são retratadas as pessoas com doenças mentais em "Joker".

A crítica do realizador de "Clube de Combate" e "A Rede Social" ao filme de 2019 sobre a história das origens do vilão da DC Comics surge numa entrevista ao jornal britânico The Daily Telegraph [acesso pago] a propósito do lançamento a 4 de dezembro na Netflix do seu novo trabalho, "Mank", sobre a Hollywood dos anos 1930.

O contexto é uma resposta mais vasta à aversão dos grandes estúdios em relação aos filmes originais em que descreve como "um milagre" ter conseguido fazer "Clube de Combate" em 1999, que também abordava o tema das doenças mentais.

David Fincher e Gary Oldman na rodagem de "Mank"

Segundo David Fincher, se não se tivesse existido um fenómeno gigantesco como "O Cavaleiro das Trevas", de Christopher Nolan (2008), nunca teria passado pela cabeça de ninguém no estúdio de "Joker" que poderia ter sucesso um filme claramente inspirado nos clássicos de Martin Scorsese dos anos 1970 e 1980.

"Acho que ninguém teria olhado para aquele material e pensado, 'Sim, vamos pegar no Travis Bickle ['Taxi Driver', 1976] e Rupert Pupkin ['O Rei da Comédia', 1983] e misturá-los, e depois encurralá-lo numa traição dos doentes mentais e sacar mil milhões de dólares", explicou.

"Joker" ganhou o Leão de Ouro do Festival de Veneza e dois Óscares, incluindo uma estatueta para Joaquin Phoenix pela interpretação de de Arthur Fleck, um comediante de "stand-up" fracassado que enlouquece e, ao agravar-se a doença, se transforma num assassino psicopata.

O filme recebeu elogios pelo retrato sem concessões que faz da alienação social, mas também foi acusado pela representação das doenças mentais e de glorificar um protagonista demente e violento, cujas ações homicidas poderiam gerar imitadores.

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