Se um filme não é em si mesmo melhor ou pior pela nacionalidade da sua equipa, é sempre bom ver como, de forma natural, a diversidade geográfica e racial se vai verificando sem alarde e com normalidade nalgumas das grandes produções de Hollywood. “Thor: Ragnarok” é disso um bom exemplo, com os principais rostos da sua equipa a virem das mais diversas proveniências.

Uma das grandes apostas da Marvel para este filme é o realizador Taika Waititi, um neo-zelandês de ascendência maori, que após o sucesso no seu país natal  dos filmes de baixo orçamento “The Hunt for the Wilderpeople” e “O Que Fazemos nas Sombras”, deu o salto para os blockbusters de Hollywood com “Thor: Ragnarok”, muito elogiado pela sensibilidade singular que ele lhe injectou ainda antes da sua chegada aos cinemas. Alguns diziam que era um realizador aparentemente sem traquejo para um empreendimento desta escala e afinal é ele, confirmando que a aposta na diferença compensa, que está a revelar-se o seu maior trunfo.

No elenco, sem esforço aparente, a diversidade geográfica acaba por ser palavra de ordem. Chris Hemsworth, que interpreta Thor, é australiano e a parcela do elenco herdada do primeiro filme é britânica, na origem para dar aos asgardianos um travo shakespeareano (ou não fosse então o realizador o muito elogiado Kenneth Branagh): o galês Anthony Hopkins volta a interpretar Odin e os londrinos Tom Hiddleston e Idris Elba continuam a ser, respetivamente, Loki e Heimdall, com o último, de ascendência serra-leonesa, a ter a originalidade de ser um ator de pele negra a encarnar uma personagem caucasiana na BD.

De Londres vem também Benedict Cumberbatch, que volta a interpretar o mestre das artes místicas Dr. Estranho, transitando com naturalidade para o sotaque americano uma vez que a personagem na origem é dos EUA.

Dos filmes anteriores, embora com menos tempo de antena aqui, regressa o trio de amigos de Thor: Hogun, Volstagg e Fandral, o primeiro encarnado pelo prestigiado ator japonês Tadanobu Asano, o segundo pelo irlandês Ray Stevenson (que já tinha interpretado outro personagem da Marvel, o Punisher, no filme “Punisher: Zona de Guerra”) e o terceiro pelo americano Zachary Levi, que já dera voz a Flynn Rider na versão original do fime “Entrelaçados”.

Também americano é o nova-iorquino de ascendência italiana Mark Ruffalo, que regressa ao papel de Bruce Banner e Hulk (e que foi há dois anos nomeado ao Óscar por interpretar em “O Caso Spotlight” um jornalista americano de ascendência portuguesa, Michael Rezendes).

De terras do Tio Sam vêm ainda os atores que dão vida a duas personagens que surgirão pela primeira vez no cinema com papel de destaque em “Thor Ragnarok”: o incontornável Jeff Goldblum, que interpreta o alienígena Grandmaster (que surgira de forma muito breve no genérico de “Guardiões da Galaxia Vol.2”) e a jovem afro-americana Tessa Thompson, que vimos recentemente em “Creed” e na série “Westworld”, e que dá vida a Valquíria, na BD inspirada na mítica Brunilde, e a revelar mais uma vez a saudável falta de receio de colocar um intérprete de pela negra numa personagem na origem caucasiana.

Duas das principais adições ao elenco vêm da Austrália, onde o filme foi rodado: a multi-premiada e oscarizada Cate Blanchett, que dá vida a Hela, a deusa da morte, e o neo-zelandês Karl Urban, reconhecido pelos papéis de Éomer na trilogia “O Senhor dos Anéis”, Bones na trilogia “Star Trek” ou o britânico Judge Dredd em “Dredd”. Os neo-zelandeses Sam Neill e Rachel House também surgem no filme.

Nota final ainda para o diretor de fotografia espanhol Javier Aguirresarobe, com extensa carreira no nosso país-vizinho em filmes como “Os Outros”, “Fala com Ela” ou “Mar Adentro”, e que nos EUA, para onde tem trabalhado nos últimos 10 anos, já assinou a imagem de duas fitas da saga “Twilight”, bem como de películas como “A Estrada”, “Blue Jasmine” e “Horas Decisivas”.

"Thor: Ragnarok" estreia em Portugal a 26 de outubro.