A grande surpresa dos Óscares foi reservada para o final: "O Caso Spotlight" foi coroado com o Óscar de Melhor Filme.

Ao prémio principal, juntou apenas o de argumento original, o que faz do filme sobre a investigação jornalística dos abusos sexuais no seio da Igreja Católica de Boston o primeiro desde "O Maior Espectáculo do Mundo", em 1952, a ser o vencedor com apenas dois Óscares.

Apesar de ter sido considerado um forte candidato, era "The Revenant: O Renascido", que tinha 12 nomeações, que parecia reunir o consenso nas últimas semanas.

Numa cerimónia que não primou por grandes inovações de encenação, o facto de se ter alterado a ordem de entrega dos prémios, começando pelos argumentos e seguindo a ordem natural da produção de um filme, ajudou a manter o ritmo, tal como a determinação da produção em impor com mão de ferro o limite dos 45 segundos para os discursos: praticamente todos os premiados foram "expulsos" ao som da música.

O único que falou muito mais do que era permitido sem ser admoestado foi Leonardo DiCaprio, realeza de Hollywood finalmente coroada pelos Óscares, que fez um dos melhores discursos da noite, mas o contrário é que seria de espantar: era um dos prémios mais previsíveis, tal como os das atrizes Brie Larson e Alicia Vikander, respetivamente por "Quarto" e "A Rapariga Dinamarquesa".

A relativa surpresa acabou por ser a distinção de Mark Rylance como secundário por "A Ponte dos Espiões" quando se esperava que triunfasse o sentimentalismo do regresso de Sylvester Stallone como Rocky Balboa em "Creed".

Se Hollywood distinguiu um filme com uma "mensagem importante" como era "O Caso Spotlight", também não esqueceu o caráter visionário dos filmes com mais nomeações.

"Mad Max: Estrada da Fúria" confirmou o domínio nas categorias técnicas e ganhou seis Óscares em 10 possíveis, o dobro do segundo mais premiado, "The Revenant:  O Renascido", que para além de DiCaprio, valeu o Óscar da realização pela segunda vez consecutiva a Alejandro González Iñárritu, um feito que não acontecia há 65 anos, e o terceiro também consecutivo de fotografia a Emmanuel Lubezki.

As vitórias de "O Filho de Saul" como Melhor Filme Estrangeiro e "Inside Out" na Animação, bem como de Ennio Morricone pela banda sonora de "Os Oito Odiados", também eram esperadas.

Já os Efeitos Visuais para "Ex Machina", que teve um orçamento de 15 milhões de dólares, terem ultrapassado os dos colossos "Star Wars: O Despertar da Força", "Perdido em Marte", "Mad Max" e "The Revenant: O Renascido", pode ser considerado um desfecho surpreendente, mas não tanto como o Óscar de Melhor Canção ter ido parar a Sam Smith por "007 -Spectre" e não a Diane Warren e Lady Gaga.

Ainda assim, Lady Gaga protagonizou o momento mais comovente do espetáculo com mais de três horas e meia ao interpretar a canção "Til It Happens to You" rodeada de vítimas de abusos sexuais, o tema do documentário "The Hunting Ground".

Chris Rock e a polémica #OscarsSoWhite

O que era esperado é que se trataria de uma cerimónia dominada pelo tema da falta de diversidade em Hollywood, em especial a situação dos atores negros.

Repetindo o papel pela segunda vez depois da estreia em 2005, Chris Rock não teve uma atuação com piadas especialmente memoráveis, mas assumiu provavelmente o registo certo para abordar a questão que ensombrou os Óscares deste ano, o que lhe deverá valer elogios da crítica e dos espectadores de um país ainda marcado por profundas tensões raciais.

Entre piadas mais ligeiras, nomeadamente ao dizer que não valia de nada ceder aos apelos para boicotar a cerimónia, racionalizando que "eles vão ter os Óscares à mesma, a última coisa que preciso é de perder outro trabalho para Kevin Hart”, o comediante sempre foi recordando no seu monólogo que as diferenças de tratamento estão longe de se limitar à meca do cinema.

Ao referir que as pessoas não protestavam contra os Óscares durante o tempo do Movimento das Liberdades Civis nos anos 1960 "porque tínhamos coisas a sério para protestar na altura", Rock acrescentou que "estávamos demasiado ocupados a ser violados e linchados para nos preocuparmos com quem ganhou Melhor Fotografia. Quando a vossa avó está a balançar de uma árvore, é realmente difícil preocuparmo-nos com a melhor curta de documentário estrangeiro", o que recebeu como resposta o riso nervoso da audiência no Teatro Dolby.

Naturalmente menos controverso do que nos seus espetáculos ao vivo, esta terá sido a piada mais extrema, a par de "Este ano as coisas vão ser um pouco diferentes. Na montagem 'In Memoriam' [que homenageia as pessoas que o cinema perdeu], vamos só ter negros que foram mortos pelos polícias quando iam a caminho do cinema".

Ainda assim, Chris Rock reservou uma resposta devastadora para Jada Pinkett Smith, que disse que ia faltar à cerimónia por não estarem nomeados artistas negros.

“Jada a boicotar os Óscares é como eu a boicotar as calcinhas da Rihanna. Não fui convidado! Percebo porque está zangada. Não estou a odiar... a Jada está zangada porque o seu homem Will não foi nomeado por 'A Força da Verdade'  . Eu percebo... não é justo que o Will tenha sido tão bom e não foi nomeado. Tem razão. O que também não é justo é o Will ter recebido 20 milhões por 'Wild Wild West'".

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