Martin Scorsese voltou a criticar o atual estado do cinema.

O lendário cineasta de 79 anos arrasou a obsessão "repulsiva" de Hollywood com as receitas de bilheteira durante a apresentação do seu novo documentário "Personality Crisis: One Night Only" no Festival de Cinema de Nova Iorque na quarta-feira à noite.

"Este festival é uma casa espiritual para cineastas e artistas, [o que é] especialmente importante agora que o cinema é desvalorizado, humilhado, menosprezado de todos os lados", começou por dizer.

As críticas seguem-se a outras nos últimos anos, como a de ter dito que os filmes populares de super-heróis "não são filmes" e alertado para o cinema estar a ser "marginalizado e desvalorizado" durante a pandemia e a tendência que alastra em Hollywood para falar em "conteúdo".

Note-se que os últimos filmes de Scorsese, "O Irlandês" (2019) e o ainda inédito "Killers of the Flower Moon" (2002) foram financiados respetivamente pela Netflix e Apple, após o fracasso comercial de "Silêncio" (0216).

Durante o evento, o cineasta foi pontuando as suas palavras de amor pelo cinema em geral com essas manifestações de desilusão com a atual situação da indústria cinematográfica, especificamente a importância dos resultados de bilheteira.

"Desde os anos 1980 que existe um foco nos números que é mais ou menos repugnante. Claro, o custo de um filme é uma coisa. Percebo que um filme custa um certo valor, eles [os estúdios] esperam pelo menos recuperar o valor, mais um ganho”, esclareceu.

"Mas o ênfase agora está nos números, custo, fim de semana de estreia, quanto é que fez nos EUA, quanto é que fez na Inglaterra, quanto é que fez na Ásia, quanto é que fez em todo o mundo, quantos espectadores é que teve", continuou.

"Enquanto cineasta, enquanto pessoa que não consegue imaginar a vida sem cinema, acho isso sempre realmente um insulto [mas] essa ideia não tem lugar no Festival de Cinema de Nova Iorque. E aqui está a chave também com isto: aqui não há prémios. Não é preciso competir. Aqui apenas tem que amar o cinema. É só cinema", concluiu.