Depois dos reparos ao realizador Darren Aronofsky por ter escolhido o ator não obeso e heterossexual Brendan Fraser para interpretar um homem obeso e homossexual em "The Whale", está de volta a controvérsia ao "casting" de atores que não são judeus como personagens judaicas.

Numa recente entrevista ao jornal The New York Times, o cineasta James Gray teve de justificar a sua decisão de ter atores sem ascendência judaica em papéis de judeus no filme "Armageddon Time".

Ainda sem data de estreia anunciada para Portugal, o realizador de títulos como "A Cidade Perdida de Z" (2016) e "Ad Astra" (2019) regressa com um filme de contornos autobiográficos ambientado na Nova Iorque dos anos 1980 e nas difíceis relações raciais na cidade, centrado num miúdo judeu chamado Paul (fortemente inspirado pelo próprio James Gray) e a relação com o amigo negro Johnny, cujo comportamento turbulento o deixa com um pé fora da escola.

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Tal como aconteceu em fevereiro com o anúncio de que Helen Mirren ia interpretar a Primeira-Ministra de Israel Golda Meir, a escolha de Anne Hathaway, Jeremy Strong ("Succession") e Anthony Hopkins para os papéis dos pais e avô de Paul recebeu algumas críticas.

Centrando-se na escolha específica de Hopkins, o realizador não só defende a decisão em termos fortes como rejeita veementemente a ideia de que apenas atores judeus deviam ter sido escolhidos para essas personagens, que acha que só ia reforçar um estereótipo.

"Também fico muito ofendido com isso. Porque isso significa que o que as pessoas querem é [e usa um sotaque iídiche] 'Olá, eu sou o avô judeu!'. Mas o meu avô não era assim. E eu sou judeu - reservo-me o direito de escolher alguém como Anthony Hopkins. Alguma pessoa vê 'O Padrinho' e queixa-se que o Marlon Brando é de Omaha, [estado do] Nebraska, e não um italiano de Nova Iorque?", reclamou.

"A certa altura, temos de reconhecer que toda a nossa função como artistas é a de tentar entrar na consciência de outra pessoa e encontrar compaixão e [...] poder emocional ao fazer isso. Posso dizer que a crítica seria válida se eu tentasse contar a história da perspetiva do Johnny. Isso seria estúpido. Mas é a minha história. E não é preciso dizer que ela tem valor, mas essa é uma crítica diferente", rematou.