"Raiva" recebeu o prémio Sophia de Melhor Filme português de 2018 na cerimónia da Academia Portuguesa de Cinema, que se realizou este domingo no Casino Estoril.

Visto por 7344 espectadores no ano passado, o filme de Sérgio Tréfaut é uma adaptação do romance "Seara de Vento", de Manuel da Fonseca, que tem como tema a violência no Alentejo dos anos 50, quando, nos campos fustigados pelo vento e pela fome, a violência explode de repente e vários assassinatos a sangue frio têm lugar numa só noite.

Aquando da estreia do filme, em maio do ano passado, no festival IndieLisboa, Sérgio Tréfaut disse à agência Lusa que "Raiva" falava do abuso de quem detém toda a riqueza, sobre os que nada possuem.

"É um filme completamente fora de moda. Porque hoje em dia o assunto social relacionado com justiça social, ou com pobreza e com o abuso de poder por parte de quem tem dinheiro, está completamente fora de moda", por oposição a questões identitárias, raciais, sexuais. "A questão social e a pobreza não interessam a ninguém", mesmo que subsistam, disse então Sérgio Tréfaut.

Nomeado para 9 prémios, "Raiva" ainda foi distinguido pelos trabalhos dos atores principais Hugo Bentes e Isabel Ruth, do secundário Adriano Luz, além do Argumento Adaptado e da Fotografia a preto e branco de Acácio de Almeida.

Nos atores, Ana Bustorff foi ainda votada Melhor Atriz Secundária pelo filme "Ruth".

"Parque Mayer"

Para Melhor Filme estavam ainda nomeados "Parque Mayer", "Pedro e Inês", "Cabaret Maxime" e "Soldado Milhões".

"Pedro e Inês" tinha dez nomeações e ficou sem prémios, mas a noite também foi a da desilusão para "Parque Mayer", em que o prémio mais importante foi para a realização de António-Pedro Vasconcelos: apesar de liderar com 15 nomeações, o filme de época sobre o teatro de revista e o Estado Novo só conseguiu juntar também distinções pelo Guarda-Roupa e Maquilhagem e Cabelos.

Nos agradecimentos, António-Pedro Vasconcelos dedicou o prémio ao produtor e realizador António da Cunha Telles, que definiu como responsável "por tudo o que se fez [de bom] em Portugal" no cinema "e tudo o que não se fez, porque não o deixaram fazer", recordando que o realizador de "O Cerco" não filma "há 13 anos", "porque não o deixam filmar".

Vasconcelos reclamou por isso "mais meios para o cinema português e outras políticas", "para que não se percam talentos", sobretudo "entre os mais novos".

"Soldado Milhões", sobre o soldado Aníbal Milhais, que combateu na Primeira Guerra Mundial, tinha nove nomeações e além do Argumento Original, dominou várias categorias técnicas: Montagem, Direção Artística, Som e Efeitos Especiais/Caracterização.

Nove nomeações teve ainda "Cabaret Maxime", um policial vagamente inspirado na história do Cabaret Maxime, que foi distinguido pela banda sonora de Manuel João Vieira.

Na sétima edição dos prémios Sophia, o prémio de melhor documentário em longa-metragem foi para “O Labirinto da Saudade”, filme de Miguel Gonçalves Mendes sobre o pensamento do ensaísta Eduardo Lourenço.

Em curta-metragem, o melhor documentário foi “Kids Sapiens Sapiens”, de António Aleixo, em que três miúdos falam sobre educação.

"Sleepwalk", de Filipe Melo, venceu o Sophia de melhor curta-metragem de ficção. Rodado nos Estados Unidos, o filme baseia-se numa banda desenhada concebida por Filipe Melo e Juan Cavia, para a revista Granta.

Como curta-metragem de animação foi distinguida “Entre Sombras”, de Alice Eça Guimarães e Mónica Santos. O filme foi nomeado para os Césares do cinema francês, em janeiro.

A série Sara, de Marco Martins e Bruno Nogueira, com Beatriz Batarda, exibida na RTP2 no ano passado, venceu o prémio de melhor produção televisiva de ficção.

Ana Bustorff, atriz secundária em "Ruth", de António Pinhão Botelho, a banda sonora de Manuel João Vieira, para "Cabaret Maxime", de Bruno Almeida, e a canção “Cudin”, de Tibars (Miguel Moreira) e Vasco Viana, para “Djon África", de Joao Miller Guerra e Filipa Reis, foram outros distinguidos.

Os prémios Sophia de carreira, anunciados anteriormente, foram entregues aos atores Lia Gama e Pedro Éfe.

Os filmes vencedores (melhor filme, documentário de longa-metragem, melhores 'curtas' e prémio Sophia Estudante) serão exibidos na primeira edição da Festa do Cinema, a ocorrer em todo o país, nos dias 13 a 15 de maio.

A Festa do Cinema, com preços reduzidos em sala, terá este ano uma segunda edição, em outubro.

Lista completa de premiados dos Prémios Sophia 2019

Melhor Filme: “Raiva”

Melhor Realização: António-Pedro Vasconcelos – “Parque Mayer”

Melhor Atriz Principal: Isabel Ruth – “Raiva”

Melhor Ator Principal: Hugo Bentes – “Raiva”

Melhor Atriz Secundária: Ana Bustorff – “Ruth”

Melhor Ator Secundário: Adriano Luz – “Raiva”

Melhor Argumento Adaptado: Sérgio Tréfaut, Fátima Ribeiro, adaptado da obra Seara de Vento de Manuel da Fonseca – “Raiva”

Melhor Argumento Original: Jorge Paixão da Costa e Mário Botequilha – “Soldado Milhões”

Melhor Documentário em Longa-Metragem: “O Labirinto da Saudade”, de Miguel Gonçalves Mendes

Prémio Sophia Estudante: “Terra Ardida”, de Francisco Romão – ETIC

Melhor Série/Telefilme: “Sara”, de Marco Martins – Ministério dos Filmes

Melhor Direção de Fotografia: Acácio de Almeida – “Raiva”

Melhor Canção Original: “Cudin” - Composição por Miguel Moreira aka Tibars e Vasco Viana – “Djon África”

Melhor Banda Sonora Original: Manuel João Vieira – “Cabaret Maxime”

Melhor Montagem: João Braz – “Soldado Milhões”

Melhor Maquilhagem e Cabelos: Abigail Machado e Mário Leal – “Parque Mayer”

Melhor Guarda Roupa: Maria Gonzaga – “Parque Mayer”

Melhor Som: Pedro Melo, Branko Neskov, Ivan Neskov e Elsa Ferreira – “Soldado Milhões”

Melhor Direção Artística: Joana Cardoso – “Soldado Milhões”

Melhores Efeitos Especiais/Caracterização: Filipe Pereira e Manuel Jorge – “Soldado Milhões”

Melhor Documentário em Curta-Metragem: “Kids Sapiens Sapiens”, de António Aleixo

Melhor Curta-Metragem de Ficção: “Sleepwalk”, de Filipe Melo

Curta-Metragem de Animação: “Entre Sombras”, de Mónica Santos e Alice Guimarães