Para os que não gostaram da trilogia "O Hobbit", a notícia não constituirá grande novidade, mas não deixa de ser uma admissão de surpreendente honestidade em relação a uma produção onde se investiram muitos milhões de dólares: num dos extras da edição especial em DVD e Blu-ray de "O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos", Peter Jackson admite que não sabia o que estava a fazer durante a rodagem e foi inventando conforme avançava.

Embora tenha rendido perto de três mil milhões de dólares, "O Hobbit" acabou por não ser tão bem recebido como "O Senhor dos Anéis", tanto pela crítica como por muitos fãs, que acharam que o romance de J. R. R. Tolkien não justificava três filmes épicos com quase oito horas.

Em termos de Óscares, a diferença foi avassaladora: sete nomeações e nenhum prémio, contra 30 nomeações e 17 Óscares conquistados pela primeira trilogia, incluindo o de Melhor Filme para "O Regresso do Rei".

No vídeo, Jackson, tão eloquente nas palavras como no olhar de resignação, recorda que começou sem estar devidamente preparado e que trabalhou muitas vezes sem a ajuda de "storyboards", as ilustrações em sequência que permitem ter uma ideia aproximada do como vai ficar um filme. E, pior, sem um argumento concluído ao seu gosto.

Em junho de 2010, vale a pena recordar, o realizador foi a solução de recurso para substituir Guillherme del Toro, que teve de abandonar o projeto por sucessivos atrasos relacionados com as dificuldades de financiamento do estúdio MGM.

Mas ao contrário da trilogia "O Senhor dos Anéis", preparada ao longo de três anos e meio, "O Hobbit", então ainda dividido em dois filmes, começava a ser filmado em março de 2011, e o realizador rapidamente iria mergulhar em dias de 21 horas de trabalho.

"Como o Guillermo del Toro teve de sair e eu entrei para dirigir, não andámos com o relógio para trás um ano e meio para me dar um ano e meio de preparação para delinear o filme, que era diferente do que ele estava a fazer. Era impossível e como consequência de ser impossível, comecei a trabalhar com a maior parte do filme a não estar preparado de todo", descreve agora Jackson.

"Vai-se para a rodagem e está-se a pairar sobre ela, tem-se aquelas cenas gigantescamente complicadas, nada de storybords e está-se a criar ali no momento [...] Passei a maior parte do tempo de 'O Hobbit' a sentir que não o estava a controlar [...] mesmo do ponto de vista do argumento, a Fran [Walsh], Philippa [Boyens] e eu não tínhamos todos os argumentos ao nosso gosto, portanto isso foi uma situação de grande pressão."

O caos da rodagem acabou finalmente por chegar a um momento decisivo quando se começou a filmar a gigantesca batalha que dava o título ao terceiro filme simplesmente com figurantes caracterizados a brandir as suas armas, sem qualquer plano coesivo, filmados pelo realizador da segunda equipa, o ator Andy Serkis.

“Tínhamos reservado três meses para isso em 2012 e a certa altura, quando nos estávamos a aproximar, fui ter com os nossos produtores e o estúdio e disse: 'Uma vez que não sei o que raio estou agora a fazer, porque não tenho storyboards e o planeamento, porque é que não acabamos mais cedo?'"

A rodagem foi dada então por concluída dois dias mais tarde e retomada durante 10 semanas em 2013, ao mesmo tempo que a estreia de "A Batalha dos Cinco Exércitos" era adiada de julho para dezembro de 2014.

A interrupção, nas suas palavras, deu tempo para "arejar a cabeça e ter alguma tranquilidade para chegar a inspiração para a batalha e começar realmente a juntar alguma coisa".

Veja o extra com Peter Jackson e outras pessoas da equipa sobre os problemas.

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