Nos anos mais recentes tem aumentado de intensidade o debate sobre a diversidade e representatividade das minorias na indústria do cinema e televisão: tanto dentro como fora, não faltam os que acreditam que os atores heterossexuais não deviam interpretar papéis LGBTQ+.

A mesma posição tem sido defendida em relação a grupos etno-religioso (como atores judeus a interpretar personagens judaicas) ou com incapacidades para promover um maior equilíbrio ou autenticidade.

Mas numa entrevista à revista The Hollywood Reporter no Festival de Toronto, que começou na quinta-feira, Pedro Almodóvar, cuja carreira à volta da temática das sexualidades começou na década de 1980, acha que Hollywood deve procurar outras formas de lidar com o que descreve ser uma "obsessão".

"A essência de representar é, de facto, fingir ser alguém diferente de quem é, até mesmo na sua própria essência. O núcleo da representação é isso. Portanto, por exemplo, claro que um ator heterossexual pode interpretar uma personagem homossexual e vice-versa", defendeu.

"Se Hollywood está tão obcecada, como está agora, em representar minorias, sejam elas latinas, asiáticas ou pessoas com deficiência, na verdade devia contratá-las para escrever", notou o cineasta espanhol, deixando implícito que acha que a diversidade começa por dar acesso a pessoas com outras experiências de vida para criar histórias.

"Só para não ser mal interpretado, quero ter certeza de que fica claro que sou totalmente a favor de que minorias de todos os tipos sejam consideradas para o 'casting' de filmes e também contratadas para atrás das câmaras, e que possam contar as suas próprias histórias", esclareceu.

Almodóvar deu o exemplo dos 'westerns', já que está no festival para apresentar "Estranha Forma de Vida", a sua curta-metragem com Ethan Hawke, Pedro Pascal e José Condessa, a primeira vez que entra no género e em registo 'queer', inspirada pelo fado de Amália Rodrigues.

"Mesmo que se fala do western, não temos muitos contados do ponto de vista dos dos nativos americanos, embora este seja um género que fala deles, muitas vezes de formas muito rudes e injustas", completou.