O ator Bee Vang, que partilhou muitas cenas com Clint Eastwood em "Gran Torno", criticou o filme por ter contribuir para a normalização do racismo anti-asiático nos EUA.

No filme de 2008, Clint Eastwood era Walt Kowalski, um preconceituoso veterano da Guerra da Coreia cheio de desprezo e vocabulário racista contra os seus vizinhos Hmongs, imigrantes do sudeste asiático, que uma noite apanhava o adolescente Thao (Bee Vang) a tentar roubar o seu Gran Torino de 1972, pressionado por um gangue. Como penitência, a família de Thao obriga-o a trabalhar para Walt, o que origina uma improvável relação de amizade.

Sem qualquer experiência como ator antes do filme, Bee Vang, agora com 29 anos, diz que se tratou de um "momento cinematográfico histórico para o povo Hmong em todo o mundo, apesar dos seus abundantes insultos anti-asiáticos".

Mas o ator e ativista recorda outro acontecimento num ensaio disponível na NBC News.

"Na altura, houve muito debate sobre se os insultos do filme eram insensíveis e gratuitos ou simplesmente 'piadas inofensivas'. Achei perturbador o riso que os insultos provocavam nos cinemas com público predominantemente branco. E eram sempre os brancos que diziam: 'Não conseguem aceitar uma piada?'", escreve.

Bee Vang acrescenta que, uma década mais tarde, esse humor visto como inofensivo revelou a sua verdadeira face graças à pandemia da COVID-19, dando como exemplos vários ataques brutais contra membros da comunidade asiática nos EUA.

"'Gran Torino' pode ter omitido a crise na Ásia que deu origem à nossa diáspora e a muitas outras no Pacífico. Mas o mais preocupante foi a maneira como o filme popularizou o racismo anti-asiático, ao mesmo tempo que aumentou a representação asiático-americana. O riso usado contra nós forçou-nos a uma submissão silenciosa. Até hoje, ainda sou assombrado pelo júbilo do público branco, o riso estrondoso quando a personagem racista mesquinha de Eastwood, Walt Kowalski, rosnava um insulto", recorda.

Bee Vang defende que o que foi considerado uma "piada inofensiva" acabou por se revelar como "mais uma desculpa para ignorar a supremacia branca e o racismo".

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