Quando J.J. Abrams anunciou a 15 de fevereiro que o seu estúdio Bad Robot ia avançar com a rodagem do quarto filme "Star Trek" perto do final do ano e com o mesmo elenco original, não apanhou só os fãs de surpresa: os atores também não sabiam de nada.

Várias fontes disseram à revista The Hollywood Reporter (THR) que a maioria ou mesmo todos os atores ou os seus representantes desconheciam que o produtor ia divulgar o projeto durante uma conferência de apresentação aos investidores de Wall Street da ViacomCBS (a que pertence o estúdio Paramount).

Ao arrepio das práticas habituais nas grandes produções de Hollywood, os representantes do grupo principal formado por Chris Pine (Kirk), Zachary Quinto (Spock), Zoe Saldana (Uhura), Karl Urban (Bones McCoy), John Cho (Sulu) e Simon Pegg (Scotty) foram apanhados não só de surpresa com o projeto (Anton Yelchin, que era Chekov, faleceu em 2016), mas também com a informação de que os seus clientes faziam parte dele e estariam em filmagens por volta do fim do ano.

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O futuro filme ainda não tem luz verde oficial ou um orçamento definido, e o argumento ainda está em "aperfeiçoamento", mas já tem um realizador (Matt Shakman, que fez todos os episódios da série "WandaVision") e data de estreia: 22 de dezembro de 2023.

As fontes da revista indicam que Chris Pine foi o primeiro a entrar na fase das negociações iniciais pois o Capitão Kirk é o pivô do projeto.

Fontes da indústria do cinema acreditam que a Paramount abriu mão do seu poder de negociação nos contratos para ter uma peça-chave no xadrez para seduzir os investidores de Wall Street e atrair subscritores para a sua plataforma de streaming.

A mais recente saga começou em 2009 com um filme realizado por Abrams que contava como Kirk se tornou o Capitão da Enterprise e foi um grande sucesso, que continuou com a sequela "Star Trek: Além da Escuridão" em 2013. No entanto, o terceiro filme, "Além do Universo", em 2016, foi um fracasso de bilheteira.

Em 2018, tanto Chris Pine como Chris Hemsworth (que interpretou o seu pai no primeiro filme) romperam as negociações para regressar para um quarto filme porque queriam um salário compatível com a participação num "blockbuster" de verão, ao nível dos filmes da Marvel ou "Star Wars", o que foi rejeitado pelo estúdio com o argumento de que "Star Trek" não tinha a mesma dimensão.

O que mudou de 2018 para 2022? Segundo a THR, o streaming: a Paramount passa por uma grande reestruturação que inclui a valorização da sua plataforma, que quer chegar aos 65 a 75 milhões de subscritores em 2024. E com a desaceleração do crescimento nos EUA, as atenções viram-se para o mercado internacional, onde "Star Trek" é uma peça importante na competição com os outros gigantes do setor.

A revista conclui: "O que parecia caro em 2018 é agora, num mundo onde a Netflix ou a Apple estão a fazer acordos com os atores de mais de 30 milhões de dólares, uma norma". E este é um preço que a Paramount parece estar disposta a pagar para relançar uma saga em declínio sem avisar os seus atores.