Peter Fonda faleceu em casa, em Los Angeles, rodeado pela família, informou o agente do artista.
O ator sofria de um cancro pulmonar e morreu devido a uma insuficiência respiratória, precisou a família do ator num comunicado.
“É um dos momentos mais tristes das nossas vidas, não conseguimos encontrar as palavras apropriadas para exprimir a dor nos nossos corações”, disse a família de Peter Fonda, filho do ator Henry Fonda, irmão mais novo da atriz Jane Fonda e pai da também atriz Bridget Fonda.
"Enquanto lamentamos a perda deste homem doce e encantador, também desejamos que todos celebrem o seu espírito indomável e o seu amor à vida", destaca o comunicado. "Em homenagem a Peter, por favor, façam um brinde à liberdade", pode ler-se.
Um símbolo da contracultura
Peter Fonda nasceu em Nova Iorque a 23 de fevereiro de 1940, e tinha apenas 10 anos quando morreu a mãe, Frances Ford Seymour. Só cinco anos depois é que o jovem saberia que ela se suicidou numa instituição para doentes mentais, uma das razões que justificou o relacionamento distante que foi mantendo com o pai, embora tenha depois reconhecido que se aproximaram antes da morte de Henry Fonda, em 1982.
Depois de alguns pequenos papéis no teatro e na televisão, estreou-se no cinema em 1963, no filme “Tammy e o Doutor”, distinguindo-se depois em filmes como "Lilith e o Destino", em 1964, ao lado de Warren Beatty, e tendo o seu primeiro papel de protagonista nesse mesmo ano, em "Jovens Apaixonados".
A meados dos anos 60, a veia inconformista de Fonda tornou-se mais evidente. O ator deixou crescer o cabelo e começou a tomar LSD, e acabou por se tornar popular com essa imagem em 1966, ao protagonizar um filme de série B produzido e realizado por Roger Corman, "The Wild Angels". A película foi um sucesso inesperado, lançou o sub-género dos filmes de motoqueiros e fixou no imaginário a imagem de rebeldia de Peter Fonda.
O seu estatuto de símbolo da contracultura prosseguiu com "The Trip", também realizado por Corman e agora escrito por Jack Nicholson, em redor do consumo de LSD, e consolidou-se para sempre com o filme que lhe deu fama mundial: “Easy Rider”, em 1969.
Produzido por Peter Fonda e escrito conjuntamente por Fonda, Dennis Hopper, que o realizou, e Terry Southern, o filme, em que se destacou também Jack Nicholson num papel secundário, estreou no Festival de Cannes e foi um sucesso colossal, tornando-se o maior emblema cinematográfico da contracultura norte-americana dos anos 60.
Verdadeiro filme de culto, "Easy Rider" conta a história de dois hippies encarnados por Fonda e Hopper, que atravessam os EUA de moto em busca da liberdade pessoal e do sonho americano. A personagem de Fonda, cuja moto costumizada apelidava de Captain America e que usava a bandeira americana no blusão e no capacete, era apenas um dos símbolos de uma película que se tornou emblemática das várias tensões que por aquela época se faziam sentir na sociedade americana, nomeadamente a convivência de um estilo de vida mais tradicional com a contracultura dos hippies, do consumo de drogas e da vida exterior às responsabilidades convencionais da sociedade.
O filme foi um sucesso inesperado e acabou por ser o ponto chave na transição para o período hoje designado por "Nova Hollywood", no qual os estúdios deram luz verde aos jovens realizadores, mais em sintonia com o seu tempo e capazes de fazer os êxitos que os seus antecessores já não conseguiam. Por essa porta aberta entraram assim novos cineastas como Francis Ford Coppola, Steven Spielberg, Martin Scorsese, Robert Altman, William Friedkin e George Lucas.
Na sequência direta de "Easy Rider", Fonda tentou a realização, com dois filmes que foram mal recebidos à data de estreia mas que desde então se tornaram fenómenos de culto: o western "The Hired Hand/ O Regresso", em 1971, e o filme de ficção científica "Idaho Transfer", em 1973. Em 1979, tentou mais uma vez a realização com "Wanda Nevada", uma estranha história de amor entre o protagonista jogador que interpreta, de 39 anos, e uma orfã de 13 anos encarnada por uma jovem Brooke Shields. O seu pai, Peter Fonda, tem um pequeno papel no filme, a única vez que os dois contracenaram no cinema.
Ao longo das décadas seguintes, Fonda prosseguiu uma carreira de ator prolífica mas muito desequilibrada´, com mais de uma centena de títulos de qualidade muito variável. O intérprete nunca ganhou um Óscar, mas foi nomeado duas vezes: em 1970, como coautor do argumento de “Easy Rider”, e em 1997, como melhor ator em “Laços de Ouro”, o filme que o voltou a colocar sob todos os holofotes, um drama sobre um apicultor que tem de lidar com as consequências de uma família disfuncional.
Entre as muitas outras fitas em que participou, destaque para "O Comboio dos Valentes", "Fuga do Espaço", "A Corrida Mais Louca do Mundo", "O Falcão Inglês", "Ghost Rider", "Fuga de Los Angeles", "Porcos e Selvagens" e "O Comboio das 3 e 10".
Para celebrar o 50° aniversário da estreia de "Easy Rider", a 14 de julho de 1969, Peter Fonda planeava uma sessão em Nova Iorque para o próximo dia 20 de setembro, com a presença dos músicos que participaram na célebre banda sonora do filme, que incluía a inesquecível canção "Born to Be Wild", dos Steppenwolf.
Fonda também se envolveu na causa ambientalista, ao co-produzir em 2012 o documentário "The Big Fix", sobre as consequências do grande derramamento de petrolíferos da empresa britânica BP no Golfo do México, após a explosão na plataforma Deepwater Horizon, em abril de 2010, que causou 11 mortos.
No Festival de Cannes, em 2011, causou revolta ao chamar ao então presidente dos EUA, Barack Obama, "fucking traitor" pela sua gestão da crise provocada pelo acidente, ao permitir que "botas estrangeiras em solo americano digam aos nossos militares - neste caso a guarda costeira - o que podem e não podem fazer, e dizer-nos a nós, cidadãos dos EUA, o que podemos ou não fazer".
Fonda foi casado três vezes e teve dois filhos, um deles a atriz Bridget Fonda.
O seu último filme, “The Last Full Measure”, com Samuel L. Jackson, Morgan Freeman e Laurence Fishburne, deverá estrear nos Estados Unidos no final de outubro.
Hollywood despede-se do ator
As reações à morte do ator não tardaram e vários nomes conhecidos de Hollywood deixaram a sua homenagem no Twitter.
A irmã Jane Fonda disse estar "muito triste" com a partida do seu "querido irmão mais novo". "Era o conversador da família. Passei algum tempo com ele sozinha nos últimos dias e foi muito bonito. Ele partiu a rir", disse a atriz num comunicado.
"Easy Rider" retratou a ascensão da cultura hippie, condenou o establishment e celebrou a liberdade. Peter Fonda incorporou esses valores e incutiu-os numa geração", escreveu a atriz Illeana Douglas no Twitter.
"O cinema independente começou com 'Easy Rider'", acrescentou.
"ÍCONE #PeterFonda", disse o ator Joseph Gordon-Levitt, que acompanhou a sua mensagem com uma foto a preto e branco de Fonda numa montanha vestido com um casaco de cabedal com a bandeira dos Estados Unidos estampada nas costas.
"Descanse em paz", disse a realizadora americana Ava DuVernay no Twitter, junto a uma selfie com Fonda de 2012.
"Peter Fonda- ator, realizador, homem doce. Gentil, generoso, alma sábia. Vão ver "Easy Rider", sim- mas vão ver também "The Hired Hand/O Regresso". Ele ajudou a mudar o Cinema, mas também viveu uma vida cheia de amor e tornou este mundo melhor", disse o realizador Guillermo del Toro.
"Peter Fonda era um amigo e um ator subvalorizado. Inteligente, divertido, afetivo, Peter era uma estrela de cinema com um brilho nos olhos. Ele era o Crazy Larry e o Pipeline e eu vou sentir a falta dele", disse o realizador John Carpenter, sublinhando as personagens que o ator interpretou em "Dirty Mary, Crazy Larry" e em "Fuga de Los Angeles", este último assinado por ele.
"Peter Fonda era uma pessoa adorável - um espírito bonito. Finalmente paz Peter", disse a atriz Mia Farrow.
"Descansa em Paz peter fonda. Amor e luz nasceste sempre para ser selvagem", disse a atriz Rosanna Arquette em referência à canção "Born to be Wild", eternizada na banda sonora de "Easy Rider".
O meu coração está com a Jane pelo falecimento do seu irmão. Peter Fonda foi um cineasta revolucionário durante uma época revolucionária. Nascido na casa onde eu agora moro, sentiremos a falta do seu espírito", afirmou o realizador e ator Rob Reiner.
Artigo rectificado às 16h50 com a correcção do nome dado à moto do protagonista de "Easy Rider".
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