Durante muito tempo só foi conhecido no Reino Unido, de onde veio do Peru, mas nos últimos dez anos o ursinho Paddington tornou-se um negócio lucrativo, sobretudo graças ao seu salto dos livros infantis para o grande ecrã.

Até 2014, quando foi lançado o primeiro filme com esta personagem fictícia que adora marmelada, os livros de Paddington, que nasceu em 1958 com o já falecido escritor Michael Bond, eram populares no Reino Unido, mas não tanto fora de fronteiras.

Segundo a história imaginada por Bond, o ursinho, acolhido pelos seus tios Lucy e Pastuzo quando os seus pais morreram num terramoto, teve que deixar o Peru e chegou à Inglaterra como passageiro clandestino num navio depois de Lucy ir viver para uma casa para animais reformados.

Foi então encontrado pela família Brown na estação de Paddington em Londres e por isso deram-lhe esse nome.

Nos últimos dez anos, surgiram três filmes protagonizados por Paddington e sua imagem apareceu em todos os tipos de produtos. O mais recente, lançado em novembro no Reino Unido, chegou esta semana a Portugal: "Paddington na Amazónia".

Dos quinze livros que a personagem protagoniza, foram vendidos 35 milhões de exemplares em 40 idiomas.

Além disso, venceram-se 27 milhões de ursinhos de peluche em todo o mundo até 2021, segundo a empresa francesa StudioCanal, detentora dos direitos.

Publicidade 'subliminal' para o Peru

"Paddington"

Indiretamente, Paddington poderia dar publicidade ao Peru, especialmente com o terceiro filme, onde o ursinho vai de férias ao país para visitar Lucy, com os Browns a reboque, mas acabam numa aventura em busca da mítica cidade dourada de El Dorado.

«É difícil medir qual será a consequência imediata. Há muito turismo no Peru vindo do Reino Unido. E acho que isto vai reforçar, vai despertar a curiosidade. A nossa esperança é que tenha esse efeito económico sob a forma de uma visita. Mas por enquanto é muito cedo para saber", disse à agência France-Presse (AFP) o embaixador peruano em Londres, Ignacio Higueras Hare.

Segundo o embaixador, a personagem e a sua ligação com o Peru dão origem a uma publicidade 'subliminar' para o país.

“Os miúdos, quando leem sobre Paddington, colocam-nos no Peru, aquele país distante”, observou.

Um ursinho de peluche Paddington aparece numa vitrine da embaixada do Peru em Londres e muitos turistas tiram a fotografia ao lado.

Por altura da estreia do novo filme na Inglaterra, a família Piga, de Itália, foi à estação londrina de Paddington tirar uma fotografia com a estátua do ursinho.

“É uma atração que queríamos ver, como o Big Ben ou a Torre de Londres”, explicou Carlo, acompanhado da esposa e da filha entusiasmada.

Chá com a rainha

A fama do ursinho disparou com a primeira longa-metragem, “Paddington”, em 2014, que arrecadou 318,7 milhões de dólares nas bilheteiras. Isto foi seguido por "Paddington 2" em 2017, com 283,7 milhões, solidificando uma nova, adorada e aclamada saga no cinema para toda a família.

"Paddington na Amazónia" já arrecadou o equivalente a quase 73 milhões de dólares só no Reino Unido e o percurso comercial internacional só está a começar a partir deste mês, chegando ao importante mercado americano a 14 de fevereiro.

Uma pesquisa da Marketcast mediu a evolução da sua notoriedade entre 2017 e 2023, passando de 67 para 88% nos EUA; de 66 para 87% na Alemanha e de 68 para 84% na França. No Reino Unido, é reconhecido por 97% dos britânicos, segundo o estudo.

A personagem aparece nas roupas da marca britânica Cath Kidston, em publicidade de Natal da Marks & Spencer e até nos menus da McDonald's. Além disso, a marca fez parcerias com Airbnb, Primark, Zara e Unicef.

Luke McDonagh, especialista em propriedade intelectual da London School of Economics, diz que Paddington é hoje uma das "personagens mais valiosas criadas pelos britânicos, juntamente com Harry Potter e James Bond, com um valor de marca de mais de mil milhões de libras (cerca de 845 milhões de euros).

A família real britânica também contribuiu para a sua promoção. O Príncipe William compareceu à estreia do filme na China em 2015 e Kate dançou com Paddington na estação com o mesmo nome em 2017.

Mas, acima de tudo, Paddington tornou-se popular mundialmente em 2022, no jubileu de platina da Rainha Isabel II, com quem tomou chá numa curta-metragem humorística.

Anna Marsh, presidente-executiva da StudioCanal, não quis dar “detalhes sobre o contrato com o Palácio de Buckingham”.

Quando a monarca morreu, centenas de ursinhos de peluche apareceram em frente às residências reais.

Planas divulgados em setembro do ano passado revelam que haverá um quarto filme e também uma série, ambos com lançamento por volta de 2027 ou 2028, coincidindo com o aniversário dos 70 anos na literatura da personagem que não resiste à marmelada.

No novo filme, Paddington tem novamente a voz de Ben Whishaw, enquanto Emily Mortimer substitui Sally Hawkins no papel da Sra. Brown. Olivia Colman interpreta uma freira cantora, enquanto Antonio Banderas é o capitão de um navio.

Hugh Grant, que foi Phoenix Buchanan – o principal antagonista de "Paddington 2" –, também regressa numa participação simbólica.

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