É um dos actores mais elogiados da actualidade, que venceu finalmente o Óscar em 2010 por
«Crazy Heart», após quatro nomeações sem conquistar estatueta dourada. Este ano,
Jeff Bridges regressa à competição com o novo filme dos
irmãos Coen, o «western»
«Indomável», nomeado a dez troféus da Academia e adaptado do romance
«True Grit», que já fora transposto ao cinema em 1969 com
«A Velha Raposa», que valeu então o Óscar de Melhor Actor a
John Wayne pela mesma personagem. Voltará Jeff Bridges a triunfar na grande noite dos Óscares? Falámos com o actor, em Paris, sobre a sua carreira, o mais recente filme dos irmãos Coen e sobre as mudanças que o Óscar trouxe à sua vida.

A paixão pelos «westerns»

«Adoro fazer westerns, é muito divertido. Lembro-me que quando era miúdo ficava sempre muito contente cada vez que o meu pai,
Lloyd Bridges, fazia um «western» e regressava do trabalho todo empoeirado, com as botas e o chapéu. Era fixe ter um pai assim. Dizia aos meus amigos para irem lá a casa porque tinha lá um «cowboy» a sério. Portanto, o «western» remonta à minha infância. E adoro andar a cavalo».

O filme original

«
«A Velha Raposa», com o
John Wayne, era bastante bom. Não é o meu filme favorito dele. Ele fez outros, com o
John Ford e o
Howard Hawks, que são maravilhosos. Mas quando era miúdo, o herói do Oeste que mais gostava era o Lone Ranger. «Hi-yo, Silver! Awaaay!»».

Os irmãos Coen

«Eles foram o factor mais importante para aceitar fazer este filme. Já tinha tido uma experiência maravilhosa a trabalhar com eles antes, em
«O Grande Lebowski». E eles são verdadeiros mestres, sabem mesmo como fazer filmes. É óptimo trabalhar com eles, eles têm um família de pessoas com quem trabalham desde sempre, como o director de fotografia
Roger Deakins, com quem já fizeram 12 filmes. Têm o mesmo aderecista, o mesmo responsável pelo guarda-roupa, é como uma família, toda a gente se conhece, não há drama no set, toda a gente se entende».

O talento de Hailee Steinfeld

«Ela é uma rapariga maravilhosa. Eu estava muito preocupado sobre quem iria interpretar esse papel. Ela é a personagem principal, o filme é contado do ponto de vista dela. É um papel difícil para qualquer pessoa, mas ainda mais para uma rapariga de 14 anos. E eu sabia que eles queriam encontrar uma cara nova e que entrevistaram montes de pessoas. Fiquei preocupado até ao primeiro dia de rodagem, e mal comecei a trabalhar com ela fiquei muitíssimo aliviado. A
Hailee é tão boa, e é uma excelente pessoa, os pais fizeram um óptimo trabalho na educação dela».

A tentação de não fazer filmes

«A verdade é que eu faço os possíveis para não trabalhar, resisto sempre a aceitar um compromisso, por várias razões. Por um lado, porque me afasta da minha família, da minha mulher e das minhas filhas. O ano passado estivemos afastados 11 meses, isso foi muito duro. Não gosto disso. Por outro lado, tenho outras coisas que gosto de fazer além dos filmes: música, pintura, cerâmica, fotografia… E sei que quando me envolvo num filme pode estar outro mesmo ao virar da esquina que vou ter de recusar por estar a fazer este. Por isso faço os possíveis para não me envolver, mas depois o que acontece é como naquele filme do
«Padrinho», em que o
Al Pacino diz «eu tento sair mas eles continuam a puxar-me para dentro». Tento muito não aceitar, mas depois quando algo tão apetitoso aparece, como foi o caso de «Indomável», torna-se irresistível. Eu tentei não fazer o filme, perguntei aos Coen «mas porque é que vão fazer um «remake» de «A Velha Raposa»?» e eles disseram «não é um «remake», é uma adaptação do livro». E pensei «ora bolas, lá vou ter de o fazer». Era bom demais para recusar».

O fenómeno Grande Lebowski

«É difícil acreditar que já se passaram 15 anos desde que fizemos
«O Grande Lebowski». Lembro-me que encontrei os Coen numa festa alguns anos antes de fazermos o filme e eles disseram-me: «estamos a escrever uma coisa para ti, pá». E eu fiquei todo satisfeito, porque eles tinham feito o
«Sangue por Sangue» e eu era um fã dos filmes deles. Mas depois li aquilo e pensei «mas que diabo, onde é que eles foram buscar isto, eu nunca fiz um filme assim. Vocês foram a alguma festa minha no liceu onde me tenham visto naquele estado?». Eles viram algo em mim que ainda ninguém tinha visto. E a verdade é que é um filme cujo impacto parece não parar de crescer. Acho que é mesmo muito bom. Eu sou um daqueles tipos que estou sempre a fazer zapping quando vejo televisão. Mas quando
«O Padrinho» aparece, eu páro, digo que vou só ver algumas cenas, fico agarrado e vejo tudo até ao fim. Com o «Lebowski» é igual, eu fico agarrado e revejo e revejo».

Reuniões familiares

«A propósito de resistir a fazer papéis, eu resisti a fazer
«O Grande Lebowski», porque admirava os irmãos Coen, adorei o argumento, mas mais uma vez estava a tentar encontrar alguma razão para não fazer o filme. Eu tinha três filhas na casa dos 14, 15 anos, e estar fazer o papel daquele herói que é um fumador de erva, mandrião, podia ser uma má influência para elas. Eu tive a experiência de ter um pai famoso e pensava «mas será que é este modelo que elas querem ter do pai famoso?». Porque elas estavam na idade em que começamos a explorar, a testar drogas e por aí fora. Então, eu reuni a família na sala e disse que me tinham proposto fazer um filme em que fumava erva, e que se não quisessem eu não o faria. Houve uma longa pausa e a minha filha do meio, a Jessie, disse «Pai, tu és um actor, e nós sabemos que quando beijas todas aquelas mulheres bonitas ainda gostas da mãe. Aquilo é só um filme. Se fazes um assassino não vais andar para ai a matar pessoas»».

Ganhar um Óscar

É sempre óptimo ganhar um Óscar, mas não acho que tenho mudado grande coisa a nível de trabalho. Pensei que iria mudar os argumentos que recebo e as propostas de trabalho de grandes realizadores, e isso realmente não mudou, mas talvez porque já trabalhei com a maioria deles. Acho que me deu mais fama, que me permitiu usar ao serviço de causas humanitárias e até tornou mais fácil financiar a gravação do meu álbum. Mas a promoção antes da cerimónia é duríssima, é falar, falar sem fim. É fazer entrevistas, e entrevistas, e entrevistas, e ainda mais entrevistas, e entrevistas, e mais entrevistas, e não tem fim. É duro, fazer campanha assim é difícil. Por um lado queremos apoiar o filme para que o maior numero possível de pessoas o vá ver o filme, e é óptimo ser reconhecido pelos nossos colegas, mas também é preciso compreender que toda a temporada dos prémios é uma oportunidade de toda a industria do cinema dizer «venham ver o nosso espectáculo, isto é muito bom». É uma montra para que todas as pessoas venham ver os filmes. E é cada vez mais duro. Lembro-me que quando fui nomeado ao Óscar pelo
«A Última Sessão», tinha 21 anos e alguém me acordou às cinco da manhã a dar a notícia. Hoje gira tudo à volta das campanhas, e é tudo tão complicado que o Óscar devia ir para o relações públicas do actor por tudo aquilo que ele faz.

Os filmes recusados

Gerou-se o mito de que recusei o
«Taxi Driver», o
«Speed», o
«Oficial e Cavalheiro», o
«Salteadores da Arca Perdida». Isso é tudo um disparate que se tornou verdade na cabeça de toda a gente. Talvez tenha estado numa lista de possíveis escolhas mas ninguém me fez a proposta. Acho que me lembraria se o
Steven Spielberg ou o
Martin Scorsese me tivessem pedido para fazer esses papéis. Houve só uma ocasião em que me lembro de me ter sido oferecido um papel, de ter lido o argumento e perceber que aquilo ia ser um êxito: o
«Big». Eles vieram ter comigo porque o
«Starman - O Homem das Estrelas» tinha um «feeling» semelhante só que apesar do argumento ser óptimo, aquilo não me assentava bem. É como ir a uma loja, gostar de um casaco, vestir, estar apertado, pedir outro número e eles dizerem «não, é o único que temos». E acabei por recusar. Uma coisa que quis fazer e não consegui foi o papel de Judas em
«A Última Tentação de Cristo». Eu tinha lido o livro do Katzanzakis e tinha adorado. Foi a única vez que escrevei a um realizador a dizer que queria um papel. Escrevi ao Scorsese uma carta a dizer isso, mas o papel acabou por ir para o
Harvey Keitel.

Para lá do cinema

«Quero investir mais na minha música, estou a trabalhar num álbum com o T. Bone Burnett, e quero criar consciencialização para algumas causas que me preocupam, ajudar a deixar um mundo melhor aos meus filhos e netos. Estou envolvido com uma associação chamada Amazon Conservation Team, para salvar a floresta tropical, que ganhou o prémio da International Conservation Leadership das mãos da Jane Goodall. Eles trabalham com 32 tribos da América do sul e protegem 70 milhões de acres de floresta tropical. E sou o porta-voz nacional de uma campanha chamada No Kid Hungry, que ajuda a alimentar crianças desfavorecidas na América. Há muitas coisas que sinto que devo fazer, mas há outro lado de mim que diz «mas porque é que não relaxas? Não tens de viver o resto da tua vida como se fosse um gigantesco trabalho de casa». O difícil é encontrar o equilíbrio entre essas duas coisas».

Regresso a Texasville

«O
Peter Bogdanovich está a trabalhar numa nova sequela de
«A Última Sessão» (1971), de que fizemos a sequela 20 anos depois, com
«Texasville», em 1990. O Larry McMurtry, que escreveu os livros originais onde os filmes se baseiam, tem mais três livros dessa série que eu adoraria fazer. As histórias e os diálogos dele são excelentes. E é muito interessante reunir o realizador e o mesmo elenco de 20 em 20 anos».

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