A curta-metragem “Batida Apresenta: The Almost Perfect DJ”, de Pedro Coquenão, foi uma das surpresas agradáveis da secção IndieMusic.

Com muita música, claro, mas cujo discurso transita pelo político e pela igualdade, o filme aborda uma apresentação no Centro Cultural de Belém (CCB) que reúne a música das margens com o mundo institucionalizado ao lado do Padrão dos Descobrimentos. O SAPO Mag conversou com o cineasta.

O filme apresenta uma imagem irónica, quase brincalhona, com o mundo dos DJs. Ou seja, ao mesmo tempo que os enaltece, também desconstrói as suas práticas... Concorda?

Tudo o que comuniquei é feito partindo do princípio que faço parte desse mundo mas, como em qualquer forma de arte, há sempre maneiras diferentes de ver a coisa. Se o viu assim e o fez sentir como um brincalhão, funciona para mim. Fazer mexer e sorrir parece-me bem.

O espetáculo que apresenta é no CCB, um mundo diferente daquele das periferias que cita no início de "Batida Apresenta...". Acha que isso representa, de certa forma, esse encontro entre "dois mundos" que o filme refere algumas vezes?

Enquanto performance, o objetivo seria fechar o Sudoeste cá ou estar num palco gigante tipo o "Tomorrow Land". O CCB foi o que optei por registar por questões logísticas. O ser em Lisboa aproximou a curta da narrativa da cidade e ao meu crescimento aqui. E o ser em Belém, mesmo ao lado de um território tão simbólico, só completou mais a história, pela inevitabilidade em falar daquele mamarracho.

Em teoria, o CCB é um espaço mais austero, enquanto o mundo dos DJs é muito mais descontraído... Também aí haveria uma convergência de universos diferentes, certo?

No CCB apetece-me quebrar a formalidade e tirar partido dessa formalidade e até proximidade física que um festival não tem. Num festival, motiva-me a cuidar do palco e da parte cénica como nem sempre é cuidada. Acho que, como público participante, merecemos tudo: a cerimónia, o cuidado, a fisicalidade, sem descuido artístico, e o poder fazer parte, sem sermos o suporte de tudo apenas.

Como foi a transposição deste aparato para cinema, o desenvolvimento do conceito?

Começa com o registo da elaboração da performance e passou pelo registo do CCB, aceitando a proximidade do Padrão e do que ele significa. Em tudo o que faço, que é quase sempre mais do mesmo, a transposição é natural, porque penso nas coisas de forma aberta no que toca à forma. Neste caso, o palco é uma ação que conta com a figuração muito especial do público. Tudo o que compõe a performance está auto realizado, na medida em que conduz o olhar. O que complementa o espetáculo, justifica o filme não ser apenas um retrato de uma performance, porque não é.

No mundo do espetáculo, da música ou do cinema, já tem novos projetos?

No presente, tenho esta estreia no Indie, o meu programa na Worldwide FM, o musical Ikoqwe e um novo disco anunciado com um single com a Mayra Andrade, com um vídeo que realizei. Este mês, começo a trabalhar numa peça sobre a elaboração da Declaração Universal dos Direitos Humanos, encenada pelo Jorge Andrade e onde participo com a música. Passo também pelo Iminente em Marselha, onde apresento um sucedâneo do “The Almost Perfect DJ” com o bailarino-coreógrafo André Cabral. É o agora!