Os advogados de Hannah Gutierrez-Reed, a responsável pelas armas no 'western' de baixo orçamento "Rust", sugeriram que alguém pode ter colocado deliberadamente no set a bala verdadeira que matou a diretora de fotografia Halyna Hutchins como um ato de "sabotagem".

Esta quarta-feira, Jason Bowles e Robert Gorence estiveram no "Today", um programa matinal de grande audiência do canal NBC, e disseram que a armeira carregou a arma que matou Halyna Hutchins com balas de uma caixa com o rótulo de "balas falsas" e avançaram com a teoria que a munição verdadeira pode ter sido colocada por algum membro da equipa descontente com as condições de trabalho da produção.

"A pessoa que colocou a bala verdadeira naquela caixa tinha de ter a intenção de sabotar o set, não há outra razão para fazer isso. Acredito que alguém que fosse fazer isso quisesse sabotar o set, provar que tinha razão, dizer que estavam descontentes, que estavam infelizes. E sabemos que pessoas abandonaram o set no dia anterior", disse Jason Bowles à apresentadora Savannah Guthrie, numa alusão às informções de que sete pessoas que trabalhavam em "Rust" se tinham demitido antes da tragédia invocando questões de segurança, longas horas de trabalho, alojamentos inadequados para as equipas e a distância longa entre o local da rodagem e os hotéis.

Vários jornais, citando membros da equipa não identificados, alegaram ainda que Alec Baldwin já tinha feito dois disparos com balas reais, acidentalmente, por ter usado uma arma que lhe tinham dito que não estava carregada com munições.

Os advogados não avançaram com quaisquer indícios que sustentassem a sua teoria, mas disseram que existiu uma janela de "oportunidade" para agir no set.

"Sabemos que havia uma bala verdadeira numa caixa de balas falsas que não devia lá estar. Temos pessoas que tinham deixado o set, que abandonaram porque estavam descontentes. Temos um intervalo de tempo naquele dia aproximadamente entre as 11h00 e as 13h00 em que as armas de fogo estiveram por vezes sem acompanhamento, portanto houve uma oportunidade para adulterar o local", defenderam.

Quando a apresentadora pressionou para saber se Hannah Gutierrez-Reed tinha a responsabilidade de controlar e verificar as armas, os advogados disseram que ela acumulava a função de assistente de adereços na produção com a de armeira e não conseguiu tomar conta delas durante aquelas duas horas. No entanto, confirmaram que tinha rodado o tambor para o assistente de realização Dave Halls inspecionar e não estava presente dentro da igreja quando a arma foi disparada por Alec Baldwin.

Na versão que contou à polícia, o assistente disse que não tinha a certeza se tinha inspecionado todas as cartuchos ou se Gutierrez-Reed lhe tinha mostrado o tambor antes de entregar a arma ao ator dizendo "cold gun" ("arma fria", um termo na gíria cinematográfica que significa que a arma de adereço é segura por não estar carregada com munições verdadeiras).

Acusações "estão em aberto"

O Xerife Adan Mendoza e a procuradora Mary Carmack-Altwies

Na semana passada, o Xerife Adam Mendoza deu uma conferência de imprensa onde prestou as primeiras informações oficiais.

O polícia confirmou que a bala disparada era uma munição real e que acabou alojada no ombro de Joel Souza, o realizador de "Rust", que estava atrás de Halyna Hutchins na altura do acidente, tendo sido recuperada e entregue como prova.

Foram também recolhidos cerca de 600 indícios de prova, incluindo a arma disparada pelo ator, e 500 munições do local de rodagem, uma mistura entre balas modificadas ("blanks") e outras que se suspeitam que sejam balas verdadeiras.

Todas as provas seriam entregues ao FBI para mais testes, indicou Adam Mendoza.

Durante a conferência foi também confirmado que três pessoas manusearam a arma do disparo: Alec Baldwin, o assistente de realização Dave Halls e a armeira Hannah Gutierrez Reed.

Na conferência de imprensa esteve ainda presente Mary Carmack-Altwies, a procuradora do Ministério Público, que confirmou que não tinham sido feitas detenções ou acusações mas que, naquele momento, "tudo está em aberto", acrescentando que era necessário ter uma investigação mais aprofundada para avançar com acusações formais.

"Se os factos em evidência e na lei apoiarem as acusações, iniciarei então o processo nessa altura. Sou uma procuradora que foi eleita em parte porque não tomo decisões precipitadas e não me precipito em conclusões", salientou.

Respondendo a perguntas dos jornalistas, Adam Mendoza disse que as autoridades suspeitavam da existência de outras balas verdadeiras no local da rodagem, o que só poderia ficar esclarecido com os testes.

"Vamos averiguar como é que lá chegaram, por que é que estavam lá, porque não deveriam estar lá", esclareceu.

O dia do incidente

O chefe-eletricista Serge Svetnoy e a diretora de fotografia Halyna Hutchins (Facebook)

A 21 de outubro, Alec Baldwin matou acidentalmente Halyna Hutchins, de 42 anos, a diretora de fotografia de "Rust", ao disparar uma arma de adereço que não devia estar carregada com balas verdadeiras.

O realizador Joel Souza ficou ferido, mas recebeu alta hospitalar no fim do dia de um ferimento no ombro.

O incidente aconteceu pelas 13h50 no Rancho Bonanza Creek, um local famoso para filmes nos Estados Unidos, onde foram rodados longas-metragens como "Cowboys & Aliens" e "Longmire".

O incidente ocorreu durante o ensaio de uma cena dentro de uma igreja, que não foi filmada.

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Segundo os registos da investigação, o assistente de realização Dave Halls foi buscar uma arma de adereço, uma de três colocadas num carrinho, que entregou a Alec Baldwin gritando a expressão ‘cold gun’, o que significa que era seguro usar a arma, por não estar carregada com munições verdadeiras.

Em declarações às autoridades, Joel Souza explicou que Alec Baldwin estava a ensaiar uma cena em que apontava a arma para a lente da câmara quando disparou contra a diretora de fotografia.

O realizador, que estava em pé atrás de Halyna Hutchins quando a arma foi disparada, disse ter ouvido algo que "soou como um chicote e depois um estalo forte".

Após o disparo, a diretora de fotografia "segurou o abdómen" e disse que não sentia as pernas, contou o realizador, acrescentando que ela "começou a tropeçar para trás" e foi "ajudada a cair no chão".

O operador de câmara Reid Russell, que estava de pé ao lado de Joel Souza e Halyna Hutchins, disse que Alec Baldwin estava "a tentar explicar como ia tirar a arma e onde estaria o seu braço quando a sacasse".

O ator de 63 anos foi interrogado e deixou as instalações da esquadra de Santa Fé no mesmo dia sem que fosse acusado enquanto decorre a investigação, tendo sido visto a chorar por um repórter do jornal Santa Fe New Mexican, que publicou fotos que o mostram visivelmente abalado.