"Nomadland", de Chloé Zhao e com Frances McDormand, foi a escolha do júri presidido por Cate Blanchett para o Leão de Ouro da 77ª Mostra de Veneza, o primeiro grande festival a decorrer após o início da pandemia.
Apesar da presença mais reduzida dos filmes de Hollywood e sem as estrelas, impossibilitadas de se deslocarem a Veneza (incluindo as de "Nomadland", que agradeceram em vídeo), é o segundo ano consecutivo, após "Joker", que um filme norte-americano ganha o principal prémio do festival de cinema mais antigo do mundo.
A cineasta americana de origem chinesa, de 38 anos, é a primeira mulher a receber o prestigiado prémio em 10 anos e entretanto já dirigiu "Eternals", que a Marvel irá estrear em 2021.
No seu primeiro filme desde que ganhou o (segundo) Óscar com "Três Cartazes à Beira da Estrada", Frances McDormand dá em "Nomadland" o que a crítica do jornal The Guardian descreve como "a interpretação da sua carreira" como uma mulher que decide mudar de vida, depois de ter perdido tudo na grande crise económica de 2008, passando a viajar pelos EUA, numa existência nómada.
Descrito como um filme comovente sobre os trabalhadores nómadas dos Estados Unidos e muito elogiado pela crítica em Veneza e também no Festival de Toronto, "Nomadland" conclui uma trilogia temática que Chloé Zhao dedicou a locais e pessoas do oeste americano, que começou com "Songs My Brothers Taught Me" (2015) e inclui "The Rider" (2017).
Ambos são inéditos nos cinemas portugueses, o que não deverá acontecer com o novo Leão de Ouro, que é da Searchlight, estúdio que pertence à Disney, e emerge como um fortíssimo candidato aos Óscares.
O palmarés do júri inclui a longa-metragem portuguesa "Listen" e com grande impacto: a realizadora portuguesa Ana Rocha de Sousa venceu o prémio 'Leão de Futuro', de primeira obra, e o prémio especial do júri 'Horizontes'.
A narrativa inspira-se em factos reais: protagonizado por Lúcia Moniz, trata-se de um drama sobre uma família portuguesa emigrada no Reino Unido a quem os serviços sociais lhe retiram os três filhos menores, por suspeita de maus tratos.
Nesta secção, Ahmad Bahrami venceu o prémio de melhor filme com "The Wasteland", e Pietro Castellitto o de melhor realização com "I predatori".
Estava também presente a curta-metragem "The Shift", de Laura Carreira, que o júri escolheu para ficar automaticamente nomeada para os prémios do cinema europeu, os European Film Awards deste ano.
Outros prémios
Apesar das limitações colocadas pela pandemia, os críticos concordam que não faltaram filmes de qualidade na seleção.
Dois deles têm como protagonista Vanessa Kirby (a princesa Margarida nas duas primeiras temporadas de "The Crown") que se tornou a estrela maior do festival e ""ultrapassou" Frances McDormand, vencendo a Taça Volpi para Melhor Atriz com "Pieces Of A Woman" (já comprado pela Netflix) e também muito elogiada por "The World To Come".
Pierfrancesco Favino, uma das grandes estrelas do cinema italiano (tem três prémios David di Donatello, o correspondente aos Óscares) e também com uma carreira internacional que inclui filmes como "Anjos e Demónios" e "WWZ: Guerra Mundial", recebeu a Taça Volpi para Melhor Ator por "Padrenostro".
O prémio de melhor intérprete emergente foi para o iraniano Rouhollah Zamani, por "Sun Children".
Metáfora do México e do mundo moderno, afetado por diferenças sociais, racismo e desigualdades, "Nuevo Orden” ("Nova Ordem", em tradução literal), de Michel Franco, venceu o Leão de Prata, o segundo prémio mais importante de Veneza.
"Comecei este filme há cinco anos e não fazia ideia de que esta distopia que imaginava estivesse tão próxima da realidade, com as manifestações no Chile, Colômbia, Hong Kong e o movimento Black Lives Matter", comentou Franco ao receber o prémio em Veneza.
O único filme do realizador mexicano a estrear em Portugal foi o anterior "As Filhas de Abril" (2018), que ganhou o prémio "Un Certain Regard Award" no Festival de Cannes com "Después de Lucía" (2012), a sua revelação a nível internacional.
"Não quero ser pessimista. Fiz este filme para que as coisas mudem. Temos que acreditar no futuro", acrescentou.
O japonês Kiyoshi Kurosawa foi distinguido como Melhor Realizador por "Wife of a Spy".
Alguns dos seus filmes que estrearam em Portugal foram "Sonata de Tóquio", "Rumo à Outra Margem" e "O Segredo da Câmara Escura".
"Dear Commrades" foi distinguido com o Prémio Especial do Júri: o seu realizador é o lendário Andréi Konchalovsky, o mesmo de "Os Amantes de Maria", "Comboio em Fuga", "Dueto só para um" e "Gente Estranha".
LISTA DE PREMIADOS (secções principais)
SECÇÃO OFICIAL
Leão de Ouro: "Nomadland", de Chloe Zhao (Estados Unidos)
Grande Prémio do Júri: "Nuevo Orden", de Michel Franco (México)
Leão de Prata para Melhor Realização: Kiyoshi Kurosawa, por "Wife of a Spy"
Taça Volpi para Melhor Atriz: Vanessa Kirby por "Gloria Mundi"
Taça Volpi para Melhor Ator: Pierfrancesco Favino, por "Padrenostro"
Melhor Argumento: Chaitanya Tamhane, por "The Disciple"
Prémio Especial do Júri: "Dear Comrades", de Andreï Konchalovski (Rússia)
Prémio Marcello Mastroianni para melhor ator ou atriz emergente : Rouhollah Zamani, por "Khorshid"
Secção Horizontes
Melhor Filme: "The Wasteland", de Ahmad Bahrami
Melhor Realização: Lav Diaz, por "Genus Pan"
Prémio Especial do Júri: "Listen", de Ana Rocha de Sousa (PORTUGAL)
Melhor Ator: Yahya Mahayni, por "The Man Who Sold His Skin"
Melhor Atriz: Khansa Batma, por "Zanka Contact"
Melhor Argumento: Pietro Castellitto, por "I Predatori"
Melhor Curta-Metragem: "Entre tu y Milagros", de Mariana Saffon
Leão do Futuro – Prémio “Luigi De Laurentiis” para primeiras obras
"Listen", de Ana Rocha de Sousa (PORTUGAL)
Secção Veneza Realidade Virtual
Melhor Realidade Virtual: "The Hangman at Home: An Immersive Single User Experience", de Michelle & Uri Kranot
Melhor Experiência de Realidade Virtual: "“Finding Pandora X", deKiira Benzing
Melhor História Realidade Virtual: "Sha Si Da Ming Xing" ["Matar uma super estrela", em tradução livre], de Fan Fan
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