O cineasta americano Charlie Kaufman apresenta nesta terça-feira, em Veneza, a animação "Anomalisa", um 'stop motion' baseado em uma obra teatral de sua autoria, que poderá se tornar o primeiro filme de animação proibido para menores por suas cenas de sexo ousadas entre bonecos.

O primeiro trabalho de Kaufman desde "Sinédoque, Nova Iorque" (2008), que compete pelo Leão de Ouro, é um filme original com um tipo de humor negro na qual o espectador acaba por esquecer que tudo se trata de bonecos desenhados para entrar nas contradições da mente humana, nos seus desejos e frustrações.

"Detesto explicar os filmes", afirmou o cineasta em Veneza, que conseguiu executar o seu projeto, lançado em 2012, graças à página de financiamento online Kickstarter.

"Não quero que aqueles que financiam o filme intervenham nas minhas obras", assegurou o autor de "Queres Ser John Malkovich?" (1999), e que conta com uma série de colaboradores anónimos que apreciam, sobretudo, a sua escrita e genialidade, as suas ideias e o seu toque surrealista.

O brilhante argumentista de séries de televisão foi várias vezes nomeado para os Óscares e levou a estatueta com  "O Despertar da Mente" (2004), sobre uma máquina que eliminava da mente memórias dolorosas de um relacionamento terminado.

Embora "Anomalisa" seja protagonizado por bonecos com movimentos humanos, o filme parece menos labiríntico do que outros do autor e o realismo é paradoxalmente a chave para entender a odisseia de Michael Stone, um homem neurótico e depressivo, como muitos dos seus personagens, que faz palestras para motivar as pessoas que vivem uma vida monótona e vazia.

Ambientado num hotel de luxo em Cincinnati, no filme Michael seduz Lisa e descobre o amor por uma sensível e tímida jovem, o qual consome com uma noite de sexo, uma das cenas mais originais projetadas até agora nesta edição do festival de Veneza.

Um amor que, embora o revitalize e ilumine, rapidamente desmorona, trazendo-o de volta à sua realidade cinzenta.

Outro ponto alto do filme são as vozes das personagens, em particular a dos atores Tom Noonan e Jennifer Jason Leigh, quando, interpretando Lisa, canta uma versão de "Girls Just Want to Have Fun", sucesso dos anos 1980 de Cindy Lauper.

"Gravar as cenas íntimas foi fácil, embora tenha sido delicado gravar as frases", admitiu Jason Leigh, durante o encontro com a imprensa.

A fábula realista de Kaufman deixa um sorriso amargo e também é um olhar crítico aos pais da auto-ajuda, como se apresenta o protagonista Michael Stone, teórico da boa e sorridente atenção ao cliente, em contradição com a sua própria alma, o seu mal-estar e o seu lado obscuro.

"O que quero é que cada espectador viva a sua própria experiência. O filme é do público", afirmou o cineasta, cuja obra foi generosamente aplaudida pela plateia de críticos, que este ano não conteve nem vaias nem ovações a alguns dos 21 filmes participantes na competição.

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