“O Último Judeu de Treblinka”. Assim intitularam as memórias, publicadas postumamente, de Chil Rajchman, um dos sobreviventes do maior campo de extermínio de judeus depois Auschiwitz-Birkenau.

As suas histórias passadas no local, onde as suas funções passaram por cortar os cabelos das mulheres a caminho das câmaras de gás ou procurar dentes de ouro nos cadáveres, inspiraram Sérgio Tréfaut para compor “Treblinka”, um documentário todo passado em comboios.

Diferente de outros registos, o realizador opta por evocar a tragédia através de áudio e não de imagens. Estas, de caráter mais simbólico, revisitam o holocausto através de corpos nus sempre atrás dos vidros que atribuem uma caraterística fantasmagórica à revisitação do passado.

O filme teve estreia mundial há uma semana no Visions du Réel e faz parte da competição nacional de longas-metragens do IndieLisboa.

A terra prometida é um navio

Outro genocídio de memória bem mais recente decorreu em Sarajevo, onde os sérvios fizeram aos bósnios um dos mais longos e trágicos cercos da História.

Quem teve alguma sorte na desgraça foi o realizador Vladimir Tomić: na época uma criança com 12 anos, conseguiu fugir da guerra com a mãe e o irmão mais velho para a Dinamarca.

Curiosamente, não foram recebidos em terra – mas no navio Flotel Europa, ancorado próximo a Copenhaga, e onde dezenas de famílias de refugiados foram abrigadas a partir de 1992.

As diversas filmagens e depoimentos feitas no interior do navio servem de base para este trabalho de Tomić, onde sobressai um singular processo de 'coming-of-age' apresentado na secção Fórum do Festival de Berlim.

E falando-se da Berlinale, hoje também é uma oportunidade para apreciar o trabalho de Leonor Teles, “Balada do Batráquio”, o grande vencedor do Urso de Ouro na categoria de Melhor Curta-Metragem. No certame português também está em competição e compõem uma das secções de curtas.

O filme aborda de maneira cómica o preconceito contra os ciganos através de uma brincadeira com os sapos de porcelana que os lojistas colocam para evitar a entrada de membros da etnia.