NO CORAÇÃO DO MUNDO

Esta obra de Gabriel e Murillo Martins mostra a elasticidade de um subgénero sempre no risco de se tornar uma fórmula: o docudrama.

O filme mergulha na vida da classe média baixa de uma grande cidade no Brasil e acaba por construir um mosaico onde a ação interliga-se com o realismo e as vicissitudes de cada um impõem conflitos suficientes para a história fluir.

A situação económica é um dos eixos em que se entrelaçam os destinos de alguns dos protagonistas – desde aquele que sofre as consequências de uma preguiça crónica e a namorada que faz longas jornadas como cobradora num autocarro para se sustentar, até às personagens que tentam romper com a sua sorte através do empreendedorismo, seja pela via legal seja através de esquemas que podem ou não lhes render a sorte grande. E a violência irrompe ocasionalmente de forma gratuita ou motivada por vingança, enquanto a sexualidade é vivenciada, em muitos casos, de uma forma naturalista.

A produção pertence a um dos núcleos de produção de Minas Gerais, estado do Brasil que tem tido o Festival de Roterdão como plataforma privilegiada para lançamentos internacionais dos seus projetos. Em Portugal, a relação com o IndieLisboa é duradoura e tem acumulado prémios em trabalhos como “Arábia” e “Baronesa”.

DEMOCRACIA EM VERTIGEM

Num plano abertamente político, Petra Costa, consagrada com o belo “Elena” e que teve há dois anos no IndieLisboa com “O Olmo e a Gaivota”, propõe uma leitura sob uma perspetiva pessoal para o drama político da destituição de Dilma Rousseff.

Com acesso aos bastidores e abertamente posicionado, "Democracia em Vertigem" (foto) reconstrói à sua maneira os factos que já foram objeto de outros dois filmes – entre os quais “O Processo”, que venceu o prémio do público no IndieLisboa no ano passado.

Estreado em Sundance e produzido com capitais da Netflix, "Democracia em Vertigem" beneficiou de uma boa receção e um dos membros do festival chegou a chamá-lo de “épico”. Ainda não tem data de estreia na plataforma de “streaming” e pensado muito para o mercado internacional, no Brasil deve gerar, como tem sido frequente, uma grande polarização.

ALICE T

Naquele que será um dos projetos mais acessíveis do festival, “Alice T” traz um daqueles potentes dramas familiares que frequentemente se encontram no cinema romeno.

Sexto trabalho de ficção de Radu Muntean, narra a violenta relação entre uma adolescente rebelde (a personagem-título, que rendeu à atriz Andra Guti o prémio de Melhor Atriz no Festival de Locarno) com a sua mãe adotiva, que descobre que a filha está grávida. Mas nem tudo é o que parece...