A revisitação do filme “A vizinha do lado”, de António Lopes Ribeiro (1945), e a antestreia de quatro curtas metragens e de uma longa-metragem portuguesas marcam a programação da Cinemateca para fevereiro, no que respeita ao cinema nacional.

Entre as antestreias, encontra-se “O último porto – além das pontes”, longa-metragem de Pierre‑Marie Goulet, cineasta que já documentou o trabalho do etnomusicólogo Michel Giacometti, e que agora conta com a participação do arqueólogo Cláudio Torres, entre outros testemunhos, evocando a cultura turca e também a presença muçulmana na cultura portuguesa.

Dando continuidade à revisitação do cinema português dos anos 1940, iniciada em 2019, a Cinemateca apresenta, no dia 3 de fevereiro, o filme “A vizinha do lado”, da autoria daquele que é tido como o cineasta mais conotado com o regime do Estado Novo, segundo a programação da Cinemateca.

Esta foi uma “década decisiva para conhecer as tendências dominantes da ficção portuguesa durante o Estado Novo” e o “período em que alguns filões ensaiados na década anterior atingiam o cume do sucesso, ao mesmo tempo que alguns outros, mais ambiciosos ou arriscados, soçobravam face ao contexto e às condições de produção”.

“A vizinha do lado” situa‑se no terreno familiar da comédia à portuguesa e é protagonizado por alguns dos nomes mais populares do cinema e do teatro nacionais da época, como é o caso de Nascimento Fernandes, António Silva, António Vilar e Carmen Dolores.

Trata-se de uma adaptação para cinema de uma peça escrita em 1913 por André Brun para o teatro ligeiro, que conta a história de Plácido Mesquita, um professor de moral numa cidade pequena, que vem para Lisboa com a intenção de salvar o seu sobrinho de uma vida cheia de vícios.

No mesmo dia, a Cinemateca apresenta, em antestreia, uma sessão composta por quatro curtas metragens de ficção, de cinco novos autores, intituladas “2 Dt.º”, “Meu pássaro”, “Por detrás de portas” e “Natureza morta”.

“2 Dt.º” é um filme de Hernâni Duarte Maria e Pedro Noel da Luz, sobre uma mulher que regressa à sua casa de infância, um 2.º andar direito nos subúrbios, para resolver as suas memórias do passado.

A segunda curta-metragem, “Meu pássaro”, é da autoria de Alexandre Braga e tem também como protagonista uma mulher, que vive sozinha com um canário, que pia e canta, querendo contar-lhe coisas, mas é só quando ela percebe um novo silêncio, que irá começar a ouvir algumas coisas.

A terceira proposta da Cinemateca, “Por detrás de portas”, de William Vitória, é uma história inspirada em factos reais e segue a vida de uma santa viva, na pequena aldeia do Reguengo Grande, que todos os dias recebe visitas de pessoas que lhe pedem ajuda a troco de gorjetas, até que um jovem especial lhe desperta a atenção e a leva à busca de si própria.

A quarta curta-metragem, “Natureza morta”, é da autoria de Bruno Braz, com interpretações de São José Lapa e Fernanda Lapa, e trata o tema da invisibilidade e da solidão dos que foram esquecidos pela cidade: No silêncio de um velho apartamento em Lisboa, uma mulher divide o silêncio das horas mortas com a irmã mais velha, e apenas sai à rua por breves momentos, em que foge à solidão, enquanto continua a sonhar com a música e com tudo o que deixou para trás.

No dia 27 de fevereiro, a Cinemateca apresenta, também em antestreia, a longa-metragem “O último porto – além das pontes”, da autoria do realizador Pierre‑Marie Goulet (que estará presente na sessão), com a qual dá continuidade aos seus filmes anteriores – “Encontros” e “Polifonias – Paci é saluta, Michel Giacometti” - formando com eles uma espécie de tríptico.

Nesta obra, o realizador propõe um encontro entre as culturas portuguesa e turca, indo assim, também, ao encontro de um filme que realizou no anos 1970 sobre as confrarias sufis na Turquia, intitulado “Djerrahi”.

Este filme documental, que conta com a participação do arqueólogo Cláudio Torres, procura concretizar, em imagens e sons, uma analogia subterrânea, a partir de dados topográficos e culturais portugueses e turcos, evocando também a permanência silenciosa da cultura muçulmana na cultura portuguesa.

Ao provocar encontros entre membros destas duas culturas, por intercessão da música, da poesia e dos lugares, revelam‑se, não só dados históricos, mas sobretudo o que tece os laços entre dois universos aparentemente tão distantes um do outro.

Aos ciclos em português, junta-se ainda o dedicado ao compositor, músico, crítico, produtor e divulgador de música clássica e jazz Manuel Jorge Veloso, que morreu em novembro, aos 82 anos.

"In Memoriam Manuel Jorge Veloso" evoca o seu trabalho como autor da banda sonora de vários filmes de ficção e de documentários, com a exibição do histórico "Belarmino", de Fernando Lopes, documentário fundador do Novo Cinema português, e de "As palavras e os fios" e "Tejo, a rota do progresso", outros dois documentários do cineasta de "Nós por cá, todos bem".

Este ciclo incluirá ainda "Faça segundo a arte" e "A embalagem de vidro", de Faria de Almeida, "Almada, varanda do Tejo", de Ricardo Malheiro, e "Águas Vivas", de Alfredo Tropa.

No âmbito do cinema português, é também exibido o filme "Dina e Django", de Solveig Nordlund, recém-distinguida com o Prémio Bárbara Virgínia da Academia Portuguesa de Cinema.

O cinema do realizador francês Jean Grémillon (1901‑1959), a produção de inspiração documental do italiano Leonardo Di Costanzo (1958), o centenário da atriz Lana Turner (1920-1995) e a memória de Anna Karina (1940‑2019), rosto da 'nouvelle vague' francesa, sustentam outros ciclos em destaque na Cinemateca Portuguesa, em fevereiro.

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