O realizador José Magro, que participa na secção de talentos do Festival Internacional de Cinema de Berlim, Berlinale, defende que os incentivos ao cinema também devem chegar “às pessoas que não vivem nas grandes urbes.”

Em declarações à agência Lusa, o jovem realizador do Porto, de 28 anos, um dos três portugueses a participar no “Berlinale Talents 2020” assume que há uma “grande discrepância no país”.

“Existe Lisboa, para onde vai, de uma maneira ou de outra, a maior parte dos fundos e subsídios (…) Não há muitas produtoras nem pessoas do cinema no Porto, infelizmente acho que migraram todas para Lisboa. Penso que também está na altura de que o Porto tenha uma palavra a dizer no cinema. Falo do Porto e do resto do país, tem de haver um incentivo para essas pessoas que não vivem nas grandes urbes”, considerou José Magro.

O autor das curtas-metragens “Viagem” e “Letters from Childhood”, concorreu à Berlinale com um excerto do seu último filme, “Rio Entre as Montanhas”, rodado em Hancheng, na China.

“Foi filmado a convite de um festival de cinema local, e é sobre um rapaz que começa a procurar o amor na sua vida e entende os falhanços amorosos como uma maneira de reaprender e continuar a incentivar o amor na sua vida”, descreveu.

Apesar desta experiência fora, que considerou muito positiva, atualmente não equaciona mudar-se para outro país.

“Já equacionei. Sendo português e falando português, penso que, como artista, é mais honesto falar sobre as coisas que acontecem em Portugal e sobre a nossa maneira de ver o mundo”, destacou.

“É sempre difícil (…) Somos um país que não incentiva de forma significativa os jovens artistas (…) Apesar disso, e tendo em conta o panorama português, arranjamos sempre maneira de contornar as dificuldades e conseguir fazer cinema mesmo que não haja grandes meios ou uma indústria associada. É um desafio, mas que, com vontade, se tem conseguido”, frisou.

José Magro considera que, tendo em conta “os recursos e a população” de Portugal, o cinema nacional “é muito melhor do que aquilo que se poderia esperar”.

“Acho que as pessoas têm tido uma capacidade enorme para surpreender quem está fora do país, penso que o cinema português é muito valorizado pela sua experimentação e inovação”, considerou.

“Já convencemos todo o mundo, só falta convencermos os que estão na nossa casa e o público português, que continua um bocadinho afastado das salas de cinema”, definiu.

O realizador português, que conta quatro curtas-metragens no currículo, tem previsto a rodagem de uma quinta no mês de maio. Tem ainda outra em candidatura e acredita que, no prazo de um ano, escreverá a primeira longa-metragem.

“O que eu gosto, como realizador, é de experimentar a linguagem, ter novas maneiras de fazer cinema e inventar maneiras de contar histórias diferentes. Procuro sempre tentar surpreender-me a mim próprio e às outras pessoas, os meus filmes são todos completamente diferentes uns dos outros”, confessou.

Entre os 255 participantes do programa estão ainda a 'designer' de som Joana Niza Braga e o realizador e montador Paulo Carneiro.

A 70.ª edição da Berlinale termina no domingo.